Especialista em estilo de vida fala sobre o problema das fake news e esclarece dúvidas sobre vinho, adoçantes e comida japonesa, entre outras
Na busca por uma alimentação de
qualidade, muitas pessoas recorrem ao Google para obter informações sobre o que
pode oferecer mais nutrientes e garantir mais saúde ao organismo. Entretanto,
em tempos de excesso de conteúdo com baixa qualidade e sem base científica nem
sempre os dados encontrados são confiáveis e podem levar a crenças
infundadas.
“Muitas pessoas acreditam fielmente
nas palavras de influenciadores sem formação técnica adequada e saem
reproduzindo em suas próprias redes sociais. Há quem, inclusive, siga dicas
completamente sem sentido, sem a preocupação de checar se aquilo funciona ou
não”, afirma Dra. Livia Salomé, médica especialista em Medicina do Estilo
de Vida pela Universidade de Harvard e vice-presidente da Regional Minas Gerais
do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.
Para ela, as distorções ocorrem
porque as informações publicadas pela comunidade médica no meio acadêmico não
possuem linguagem acessível para o público leigo, o que dá margem a
interpretações errôneas. “Quando uma notícia soa estranha, diferente de tudo o
que já se ouviu falar ou traz um tom apelativo, é fundamental conversar com um
especialista para saber se aquele dado procede. E, para os médicos, é
importante tornar acessível os conteúdos com base científica, levando as
informações de forma clara, objetiva e sólida”, orienta a médica.
Pensando nisso, a Da. Lívia preparou
uma lista de mitos e verdades comuns sobre alimentação, no intuito de desvendar
algumas dessas mentiras que circulam na internet com frequência. Confira:
1 - Adoçante pode ser usado por não
diabéticos
VERDADE. De acordo com dados do
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), cerca de 35% dos lares
brasileiros consomem algum tipo de adoçante ou produto light e diet. Isso
significa que muitas pessoas recorrem ao produto para fugir do açúcar. Não há
contraindicação para o consumo de adoçante por pessoas não diabéticas e
saudáveis, desde que se respeite a quantidade diária recomendada.
Somente os portadores de
fenilcetonúria – uma doença rara, diagnosticada na infância através do teste do
pezinho - não podem consumi-los. Isso porque, segundo Dra. Livia, estes
pacientes são proibidos de ingerir alimentos que possuem fenilalanina,
componente de adoçantes como o aspartame.
2 - Alimentos diets e lights são
sempre saudáveis
MITO. Primeiro, é preciso entender a
diferença entre light e diet. A Dra. Livia
explica que os primeiros são aqueles em que há uma redução de, no mínimo, 25%
na quantidade de algum componente ou no teor de calorias; já os diet são
isentos de açúcar. “Ambos possuem diferentes indicações. Enquanto os light são
indicados para emagrecimento, os diet podem ser recomendados
para pessoas que têm diabetes, por exemplo, já que nesse caso, a eliminação
completa de açúcar pode ser vantajosa”, esclarece ela. Mas cuidado com os
alimentos diet: eles podem conter farinhas e substitutos do açúcar
que podem elevar a glicemia.
Ela lembra que, apesar de serem menos
calóricos, não necessariamente os alimentos light e diet são
mais saudáveis. “Eles devem ser consumidos com moderação, principalmente se
forem processados ou ultraprocessados”.
3 - Tomar uma taça de vinho
todo dia faz bem ao coração?
MITO. Sabe-se que o vinho tinto é
rico em substâncias como resveratrol e polifenóis, encontradas na casca da uva
e associadas à prevenção da doença isquêmica do coração e da doença vascular
periférica. Porém, não há provas específicas de que o consumo de uma taça por
dia é uma quantidade positiva para todas as pessoas.
Por isso, a médica recomenda
moderação no consumo da bebida, até para evitar o desenvolvimento do vício, que
tem crescido em meio à pandemia. Além disso, há outros fatores. “O álcool está
ligado à hipertensão, maior risco de AVC e até alguns tipos de câncer, entre
outras doenças. Portanto, evite abusos”, revela a especialista em estilo de
vida.
4 - Existem alimentos específicos
para perda de peso
MITO. Não existem alimentos
específicos para perda de peso que, quando consumido, resolva todas as nossas
necessidades de obtenção de nutrientes como carboidratos, vitaminas, proteínas,
minerais. “O que existe é a aposta em uma alimentação equilibrada. Este é o
único jeito de adquirir nutrição completa para o organismo”, afirma a médica.
“Não acredito em dietas mirabolantes e nem restritivas. Comer é um ato de
autocuidado e, quando nos punimos, geramos mais ansiedade. Então mantenha o
equilíbrio de forma constante. Mas quando tiver vontade de comer algo não muito
saudável, não se culpe tentando compensar com esses castigos”, completa.
5 - Comida japonesa não engorda
MITO. Como qualquer comida, a
japonesa pode engordar se for consumida em excesso – sobretudo se considerarmos
que há muitas frituras e molhos com alto teor de gordura. Além disso, o shoyu
apresenta alto índice de sódio, substância que pode ser prejudicial à
saúde e responsável pela retenção de líquidos. Sendo assim, fique atento às
quantidades para não exagerar.
6 - Comer assistindo TV atrapalha a
refeição
VERDADE. Não apenas vendo TV, mas
também mexendo no celular ou qualquer outro dispositivo que desvie sua atenção.
A médica explica que isso ocorre porque ao assistir televisão enquanto come, o
indivíduo não mastiga corretamente nem presta atenção naquilo que está comendo.
“Com isso você pode comer muito mais do que necessita e só perceber depois que
devorou tudo o que estava na sua frente”, conclui ela.
Dra. Lívia Salomé - Graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem especialização em Clínica Médica e certificação em Medicina do Estilo de Vida pelo American College of Lifestyle Medicine. Atualmente, é vice-presidente da Regional Minas Gerais do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV).
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