Perder um ente querido sempre é algo que provoca muita dor em um. A veterinária e terapeuta Dra. Melanie Marques mostra as semelhanças no processo de luto quando a perda envolve um animal ou uma pessoa próxima.
Segundo
pesquisa realizada pela Sociedade Nacional da Agricultura, 61% das pessoas
consideram seu animal como um membro do lar. Com a pandemia, este número
registrou um aumento inesperado de adoções. As famílias têm buscado por cães e
gatos com a finalidade de trazer alguma alegria e interação positiva para o
lar, especialmente para as crianças que ficaram longe do convívio social das
escolas, além de não poderem sair para brincar e interagir com seus amiguinhos.
Mesmo
antes da chegada deste período difícil, especialistas já reforçavam o quanto é
importante a companhia de um bichinho de estimação. Mas, e quando ocorre o
momento da perda? Como o luto de uma pessoa ou de uma família é tratado pela
sociedade?
Quem
opina sobre o assunto é a veterinária e terapeuta Dra. Melanie Marques, que nos últimos dias
teve que passar pela perda de um de seus pets. “Recentemente perdi uma akita de
17 anos que nasceu em minha casa. Eu tinha 20 anos quando ela chegou, ou seja,
convivi minha vida adulta inteira com ela. Quando comuniquei sua partida às
pessoas, o que mais ouvi falar foram frases como ‘ah, mas já era velhinha,
né?’, ‘isso logo passa e ficarão as boas lembranças’, e ‘ela parou de sofrer,
está em lugar melhor que aqui.”
Foi
ouvindo essas expressões típicas de situações de luto que Dra. Melanie lembrou
da perda da mãe. “Ouvi basicamente as mesmas frases, e isso me confirma o
quanto existe esta semelhança entre estes processos de luto”, compara.
Quando
se fala na perda de um bicho de estimação, a veterinária lembra que um animal
tem uma representatividade única. “Aquele amor preenche lacunas invisíveis na
vida de seu tutor, e geralmente os sentimentos estão mais ligados à infância,
aquela parte infantil e pouco conhecida que fica guardada no inconsciente da
pessoa”. Além disso, “o animal pode suprir o afeto ou a presença de uma mãe ou
um pai, pode simular os cuidados que a pessoa teria com um filho que ela não
pôde ter, ou preencher o vazio de um casamento que vai mal ou as lacunas de uma
solidão desconhecida pela própria pessoa”.
Diante
disso, Dra, Melanie pondera que dizer adeus a um companheiro de quatro patas
pode sim ser levado tão a sério como a morte de um ente querido. “Rituais de
passagem, como velar o corpinho, se despedir, homenagear a vida daquele que
dedicou sua vida a amar e brincar com seu tutor aqui na terra pode minimizar a
dor, dando um espaço para a morte ser compreendida e um tempo para ser
elaborada pela família. Inclusive as fases do luto, como negação, raiva,
aceitação, por exemplo, são completamente normais quando se refere a perda de
um animal”.
Quem
também merece atenção especial nessas horas, reforça a terapeuta, são as
crianças. “Explique a ela a morte do seu pet como uma passagem do mundo
material para o espiritual, não minta a ela dizendo que o animal viajou ou
simplesmente sumiu. Isso não vai ajudar em nada, e só pode piorar as
coisas”.
Afinal,
a banalização da dor de uma pessoa que sofre por um animal é cruel. “Fica um
vazio na rotina, especialmente se esse bichinho demandava cuidados extras, como
uma dependência humana para comer, andar ou fazer suas necessidades. Os afagos,
os choros e arfados ausentes nos mostram uma pequena fração do que é a vida,
que é a partida e a ausência silenciosa de quem amamos. Sentimos falta até das
coisas que nos irritavam, pensamos se fomos bons pais, se poderíamos ter ido
além, enfim, se poderíamos ter feito mais…”

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