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segunda-feira, 12 de abril de 2021

Tumor de testículo: saiba mais sobre esta doença pouco conhecida

Pixabay
Apesar de representar apenas 5% dos tumores que afetam homens, incidência tem aumentado nos últimos anos 

 

Quando se fala em doença que afeta a população masculina, o câncer de próstata aparece como o principal algoz da saúde dos homens. As campanhas de prevenção e cuidados são todas envolvendo a doença na próstata, que é o segundo câncer que mais atinge homens e representa 7,1% de todos os tipos de câncer considerados, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). 

Entretanto, há outra neoplasia que tem recebido atenção nos últimos tempos, pois os números começaram a crescer e despertar olhares da comunidade médica e dos pacientes homens. Trata-se do tumor de testículo, um nódulo que aparece no órgão e pode ocasionar dores e uma sensação de peso no testículo, que é o órgão responsável pela produção de hormônios e espermatozoides.

O tumor de testículo corresponde a 5% do total de casos de câncer entre os homens e, segundo o Atlas da Mortalidade por Câncer de 2019, o número de mortes causadas por tumor de testículo foi de 446. Além do baixo índice de mortalidade pela doença em si, muitos pacientes podem experimentar complicações do tratamento que podem os acompanhar ao longo de toda a vida, se não levar a óbito por outras causas. Portanto, a detecção precoce colabora com as chances de cura da doença e com menor sofrimento por parte do paciente em relação ao tratamento. Outra preocupação é que o tumor de testículo acomete praticamente homens jovens – entre 15 e 40 anos – de modo que as sequelas do tratamento e o risco de vir a desenvolver um outro tipo de câncer podem acompanhar o paciente por toda a vida. 

O especialista no assunto, o uro-oncologista Dr. Willy Baccaglini esclarece que o câncer de testículo muitas vezes é negligenciado. “Muitas vezes o câncer de testículo é confundido com uma inflamação na bolsa escrotal ou até mesmo um trauma local, o que faz com que a pessoa demore para chegar ao urologista. Isto pode interferir na taxa de cura destes homens, assim como pode interferir em sua fertilidade, assim como a produção de hormônios fundamentais tal como a testosterona”, afirma o urologista e mestre em Medicina Sexual pela FMABC. 

O aumento do câncer de testículo, ao longo do século XX, veio acompanhado do aumento de outras desordens no sistema reprodutor masculino, algumas relacionadas à descida do testículo para a bolsa escrotal durante as fases de  desenvolvimento, e a infertilidade. 

Portanto, uma das hipóteses para o surgimento do câncer de testículo é que ocorra alguma alteração comum para estas alterações e, consequentemente, um substrato genético muito importante. Este componente genético é corroborado pela maior incidência em homens filhos de homens com câncer de testículo ou irmãos de homens com câncer de testículo. Outro dado que fortalece esta associação genética é que são pacientes muito jovens que são diagnosticados (pico entre 15-35 anos) o que sugere que estes homens já trazem consigo alterações que os tornem suscetíveis ao desenvolvimento do tumor em si.

O médico ainda alerta que dentre os homens mais jovens, entre 15 e 40 anos, o tumor de testículo é o mais comum entre todos. “Pelo fato do diagnóstico de câncer se algo incomum entre pessoas jovens, o câncer de testículo em si, comparado a outros tumores, não é uma doença comum, porém quando olhamos apenas para homens entre 15-40 anos, o câncer de testículo é o tipo mais comum, e falta de informação a respeito disso pode impactar diretamente no diagnóstico precoce e complexidade do tratamento destes pacientes”, diz . 

Dr. Willy Baccaglini elenca algumas dúvidas mais comuns acerca do câncer de testículo: 


1 – Quais os sintomas e como detectar?

O principal sintoma é o aparecimento de um nódulo duro, geralmente indolor, de tamanho variável, que pode crescer rapidamente. Mas é importante ficar atento a outras alterações, como aumento ou diminuição no tamanho dos testículos, endurecimentos, dor na parte baixa do abdômen, sangue na urina e aumento do volume ou da sensibilidade nos mamilos.

“A genética é um dos principais fatores relacionados ao câncer de testículo. Os principais fatores de risco para esta doença são: parentes de primeiro grau diagnosticados com a doença (irmãos e pai), diagnóstico prévio de testículos ‘não descidos’ e homens com alterações de tamanho do testículo”, complementa o especialista. 

Assim como é recomendado às mulheres, nos casos de câncer de mama, o autoexame nos testículos é um dos primeiros passos para identificar qualquer anormalidade, nódulos ou inchaço nos testículos. A partir disso, exames laboratoriais ou clínicos, além de investigação sobre casos na família e possíveis sintomas, complementam a investigação e podem confirmar o diagnóstico. 

O acompanhamento preventivo e a detecção precoce de qualquer anormalidade no corpo são fundamentais para garantir uma vida mais saudável. Os índices de cura do tumor de testículo são altos, quando a doença é descoberta de maneira precoce. 

“Portanto, é muito importante que a educação e informação sobre o autoexame de testículo seja algo difundido, não apenas para reduzir o risco de morte pela doença, como também para que aqueles que são diagnosticados recebam tratamentos com menor risco de sequelas permanentes para toda a vida”, aponta. 


2- Pode afetar o pênis?

Pela proximidade dos órgãos e por trabalharem juntos, uma grande preocupação em relação ao câncer de testículo é afetar o pênis e acabar espalhando a doença, ou até prejudicando o desempenho sexual ou algo do gênero. Porém, o especialista afirma que, apesar de existir a possibilidade do tumor se espalhar para outros órgãos, como o abdômen e próximo aos rins, o pênis não é afetado. 

“O testículo é um órgão que ‘nasce’ durante o desenvolvimento do bebê na barriga da mãe, de um tecido próximo ao tecido que dá origem aos rins e, só ao final da gestação que os testículos se posicionam na bolsa escrotal. Portanto, o trajeto que o câncer de testículo ‘escolhe’ para se ‘espalhar’ é para o abdome, em uma região próxima aos rins chamada de retroperitônio e, não para o pênis”, detalha Baccaglini.


3- Pode ter alguma relação com a Covid-19?

Principal inimigo da saúde humana durante o último ano, as sequelas e consequências da Covid-19 ainda são nebulosas e estão sendo investigadas pela comunidade médica. Recentemente, além da impotência sexual observada em alguns pacientes acometidos pelo coronavírus, uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) apontou que de 26 pacientes com casos leves e moderados da doença, que não se queixavam de dores escrotais, 42,3% apresentaram epididimite, uma inflamação em um canal atrás dos testículos, mas sem relação direta com câncer.

Além desse fato, o Dr. Willy alerta que a pandemia interferiu nos diagnósticos e, consequentemente, no tratamento do tumor. “Historicamente, o câncer de testículo é uma doença ignorada e que é caracterizada pela demora do paciente em procurar o sistema de saúde por falta de conhecimento, vergonha e medo. Portanto, a pandemia pode sim ter um impacto maior ainda neste atraso do paciente ser diagnosticado e receber um pronto atendimento”, detalha.


4- Pode causar esterilidade masculina?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os homens são os responsáveis em 40% dos casos de infertilidade. 

De acordo com o Dr. Willy, a infertilidade apresenta uma forte associação com tumor de testículo. Sabe-se que mais da metade (50-60%) dos homens com câncer de testículo apresentam alguma alteração no espermograma, com destaque para redução no número de espermatozoides, e até 10-15% são azoospérmicos = ou seja, não têm espermatozoides no espermograma” esclarece.

Estes dados não somente alertam para o fato da correlação, como também da importância de se oferecer alternativas do ponto de vista de fertilidade para estes homens antes do início de tratamentos mais agressivos, tais como a quimioterapia e a radioterapia, os quais podem piorar ainda mais a qualidade do sêmen.

Alguns poucos pacientes (2-2,5%) apresentam o câncer em ambos os testículos e o tratamento acaba os deixando estéreis invariavelmente, além de precisarem repor testosterona para o resto da vida. 


5 - E o tratamento, como funciona? 

Uma vez que o diagnóstico é positivo, a primeira opção de tratamento é cirúrgica, na tentativa de remover completamente o tumor alojado na bolsa escrotal. Em casos muito selecionados em que o nódulo é pequeno, onde há suspeita de um tumor benigno (não um câncer),  é possível optar por biópsia durante a cirurgia com intuito de se preservar o testículo e retirar apenas o nódulo. Em caso positivo para câncer, o testículo é removido totalmente. O mais comum é a equipe médica realizar a retirada completa do testículo afetado.  

Dr. Baccaglini esclarece que a alta chance de cura é resultado justamente da boa resposta do paciente aos tratamentos. “A boa taxa de cura dos tumores de testículo está relacionada à boa resposta destes à quimioterapia, que é considerada um marco no tratamento desse tipo de doença. Hoje, de uma maneira em geral, a cura pode ser alcançada na maior parte dos tumores em 90-95% dos casos, apesar do tratamento em uma parte considerável dos casos ser bastante agressivo e associado a complicações e elevada toxicidade", explica. 

 



Willy Baccaglini - Especialista em Uro-Oncologia; Membro do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein como Uro-Oncologista.  Mestre em Medicina Sexual pela FMABC.


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