Relatório do Banco Mundial aponta que Brasil é um dos países que terá maior aumento na pobreza de aprendizagem no mundo, e que pode perder, em um ano, os avanços educacionais que levou dez anos para conquistar. O especialista Ismael Rocha, doutor em educação e diretor acadêmico do Institute of Technology and Education, é enfático ao afirmar que se medidas urgentes não forem tomadas, teremos uma geração inteira com déficit de aprendizagem
Em tempos em
que as aulas são mediadas pela tela de computador ou smartphone, a educação
básica brasileira encontra-se na UTI. Essa é a visão do especialista e doutor
em educação Ismael Rocha, diretor acadêmico do Iteduc (Institute of Technology
and Education), instituição pioneira na capacitação
de professores de educação básica para o ensino online e híbrido.
O especialista é
enfático ao afirmar que se não for criado o mais rápido possível um plano
diretor para minimizar a catástrofe que se tornou a educação brasileira, ‘o
preço a ser pago será muito alto’. A situação já preocupa, aliás, como aponta
Relatório do Banco Mundial sobre os impactos da pandemia na educação básica,
divulgado esse mês. O estudo mostra que, com o fechamento prolongado das
escolas, 70% das crianças brasileiras do ensino fundamental vão ter severas
dificuldades em ler e compreender um texto simples.
Na opinião de Ismael
Rocha, do Iteduc, o aumento absoluto da pobreza de aprendizagem no Brasil
(indicador medido pelo número de crianças de dez anos com dificuldades severas
em leitura) tem relação não apenas com a pandemia, mas com a ausência de um
projeto educacional do Estado.
Para o especialista, as
falhas apontadas na educação básica causadas pela pandemia são mais acentuadas
no Brasil, devido à falta de planejamento do Estado. “A baixa qualidade do
ensino está diretamente ligada a uma série de fatores: falta de estrutura
física, professores mal preparados, alimentação inadequada e alunos sem suporte
sócio emocional são apenas alguns deles ”, indica. “E é importante destacar que
a educação faz parte de um processo de construção, onde alunos e professores
fazem parte de um conjunto”.
E os prejuízos para a
educação em decorrência da covid-19 são gigantes, na visão do diretor acadêmico
do Iteduc. “Estamos assumindo um passivo que levará pelo menos uma geração para
ser mitigado”, afirma o especialista. “Nos últimos 13 meses, boa parte das
escolas públicas não entregaram aos seus estudantes a oportunidade de
construírem seu processo de aprendizagem porque não houve qualquer atividade
escolar, tanto por falta de infraestrutura como pela falta de preparação dos
professores para lecionar no atual contexto”, explica Rocha. “Entre as
escolas particulares, poucas delas conseguiram ensinar, mas muito longe do
ideal; e apenas uma porcentagem das instituições de elite conseguiu produzir
algo minimamente aceitável, na esfera do ensino remoto”, avalia o
especialista.
“Teremos nos próximos
anos, uma geração com um déficit de aprendizagem que, se não for criado agora
um plano diretor para buscar minimizar esta catástrofe, o preço a ser pago será
muito alto”, afirma Rocha.
O resultado desse
cenário, segundo ele, é que a pandemia exacerbou a exclusão social no País, uma
vez que a educação seria o principal agente para diminuir as desigualdades e
também um motor para o pleno desenvolvimento do aluno, preparando-o para a
cidadania e capacitando este aluno para o trabalho.
Mas, diferente do que
muitos imaginam, o especialista afirma que o ensino híbrido representa um
enorme avanço para a educação e que o sistema de ensino ideal é justamente
aquele que prevê parte da rotina remota e outra parte presencial. “Isso vem
acontecendo em alguns dos países que detém as melhores posições no ranking global
de educação básica da OCDE, como a Finlândia, por exemplo”, conta ele. “No
ensino híbrido, há o desenvolvimento de várias das principais competências
esperadas para o término do Ensino Médio, como a capacidade em resolver
problemas, autonomia e a capacidade de trabalhar em grupo”, enfatiza.
E o especialista lembra
ainda que os alunos são muito mais abertos ao ensino, quando ele é feito com as
metodologias mais modernas, como a neurociência aplicada à educação, o uso de
games e das metodologias ativas, capazes de transformar as aulas em
experiências de aprendizagem mais significativas para os estudantes.
Essa ótima adaptação dos
estudantes para o ensino híbrido acontece, segundo Rocha, porque as crianças e
jovens são nativos digitais e, por isso, a transformação tecnológica do
ambiente escolar é um investimento mais do que necessário. “Com um ensino
híbrido de excelência e o uso dos métodos pedagógicos 5.0, haverá nas salas de
aula alunos mais motivados e mais envolvidos na relação ensino-aprendizagem”,
analisa.
“A consequência direta é
estudantes que aprendem mais e têm uma trajetória de maior sucesso na sua
jornada escolar, com evasão baixa e autoestima em alta”, explica. “Com isso,
haverá uma espiral ascendente na educação básica brasileira.”
Para driblar a falta de
acesso da internet, que atinge cerca de 40 milhões de crianças e jovens
brasileiros, o diretor acadêmico do Iteduc indica que há alternativas para o
problema. Ele cita por exemplo que o Brasil é um dos países democráticos com
maior número de rádios e TVs estatais “Se insistirmos em construir nossa
plataforma de ensino virtual calcada em internet de banda larga, estamos
excluindo um significativo número de crianças e jovens desta dinâmica”, observa
Rocha. ” As rádios e TVs podem levar a educação a todas as crianças e jovens”,
explica. “Porque por mais longínqua que seja a comunidade, por mais periférica,
há ali um antena parabólica, um rádio de pilha”, conclui.
Sobre as perspectivas
para a educação básica no Brasil, Rocha é enfático. “Tivemos impactos que ainda
nem conhecemos no âmbito cognitivo, socioemocional e da saúde psíquica”,
avalia. “E precisamos ter em mente que crianças e jovens são seres humanos em
formação, para quem o isolamento social tem provocado um efeito desastroso, e
não HD’s onde eu plugo e descarrego uma série de informações”, alerta
ele. “Se os aspectos socioemocionais não forem levados em conta, de nada vai
adiantar os gestores decidirem pelo aumento da carga de matemática ou de língua
portuguesa”, conclui.
Ismael Rocha - é diretor acadêmico do Iteduc (Institute of Technology and Education), pioneira na capacitação de professores de educação básica para o ensino on-line e híbrido. É Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e especializado em avaliações escolares. Também é mestre em Sociologia, com formação complementar nos EUA, Canadá, Inglaterra, China, Malásia, Chile e México. Vice Presidente da World Vision Brazil e Climate Leader.
Iteduc - O Institute of Technology and Education
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