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quarta-feira, 7 de abril de 2021

Sistema educacional brasileiro está na UTI e só um plano diretor urgente pode minimizar a catástrofe’, diz diretor do Iteduc

Relatório do Banco Mundial aponta que Brasil é um dos países que terá maior aumento na pobreza de aprendizagem no mundo, e que pode perder, em um ano, os avanços educacionais que levou dez anos para conquistar. O especialista Ismael Rocha, doutor em educação e diretor acadêmico do Institute of Technology and Education, é enfático ao afirmar que se medidas urgentes não forem tomadas, teremos uma geração inteira com déficit de aprendizagem


Em tempos em que as aulas são mediadas pela tela de computador ou smartphone, a educação básica brasileira encontra-se na UTI. Essa é a visão do especialista e doutor em educação Ismael Rocha, diretor acadêmico do Iteduc (Institute of Technology and Education), instituição pioneira na capacitação de professores de educação básica para o ensino online e híbrido.

O especialista é enfático ao afirmar que se não for criado o mais rápido possível um plano diretor para minimizar a catástrofe que se tornou a educação brasileira, ‘o preço a ser pago será muito alto’. A situação já preocupa, aliás, como aponta Relatório do Banco Mundial sobre os impactos da pandemia na educação básica, divulgado esse mês. O estudo mostra que, com o fechamento prolongado das escolas, 70% das crianças brasileiras do ensino fundamental vão ter severas dificuldades em ler e compreender um texto simples.

Na opinião de Ismael Rocha, do Iteduc, o aumento absoluto da pobreza de aprendizagem no Brasil (indicador medido pelo número de crianças de dez anos com dificuldades severas em leitura) tem relação não apenas com a pandemia, mas com a ausência de um projeto educacional do Estado.

Para o especialista, as falhas apontadas na educação básica causadas pela pandemia são mais acentuadas no Brasil, devido à falta de planejamento do Estado. “A baixa qualidade do ensino está diretamente ligada a uma série de fatores: falta de estrutura física, professores mal preparados, alimentação inadequada e alunos sem suporte sócio emocional são apenas alguns deles ”, indica. “E é importante destacar que a educação faz parte de um processo de construção, onde alunos e professores fazem parte de um conjunto”.

E os prejuízos para a educação em decorrência da covid-19 são gigantes, na visão do diretor acadêmico do Iteduc. “Estamos assumindo um passivo que levará pelo menos uma geração para ser mitigado”, afirma o especialista. “Nos últimos 13 meses, boa parte das escolas públicas não entregaram aos seus estudantes a oportunidade de construírem seu processo de aprendizagem porque não houve qualquer atividade escolar, tanto por falta de infraestrutura como pela falta de preparação dos professores para lecionar no atual contexto”, explica Rocha.  “Entre as escolas particulares, poucas delas conseguiram ensinar, mas muito longe do ideal; e apenas uma porcentagem das instituições de elite conseguiu produzir algo minimamente aceitável,  na esfera do ensino remoto”, avalia o especialista.

“Teremos nos próximos anos, uma geração com um déficit de aprendizagem que, se não for criado agora um plano diretor para buscar minimizar esta catástrofe, o preço a ser pago será muito alto”, afirma Rocha.

O resultado desse cenário, segundo ele, é que a pandemia exacerbou a exclusão social no País, uma vez que a educação seria o principal agente para diminuir as desigualdades e também um motor para o pleno desenvolvimento do aluno, preparando-o para a cidadania e capacitando este aluno para o trabalho.

Mas, diferente do que muitos imaginam, o especialista afirma que o ensino híbrido representa um enorme avanço para a educação e que o sistema de ensino ideal é justamente aquele que prevê parte da rotina remota e outra parte presencial. “Isso vem acontecendo em alguns dos países que detém as melhores posições no ranking global de educação básica da OCDE, como a Finlândia, por exemplo”, conta ele. “No ensino híbrido, há o desenvolvimento de várias das principais competências esperadas para o término do Ensino Médio, como a capacidade em resolver problemas, autonomia e a capacidade de trabalhar em grupo”, enfatiza.

E o especialista lembra ainda que os alunos são muito mais abertos ao ensino, quando ele é feito com as metodologias mais modernas, como a neurociência aplicada à educação, o uso de games e das metodologias ativas, capazes de transformar as aulas em experiências de aprendizagem mais significativas para os estudantes.

Essa ótima adaptação dos estudantes para o ensino híbrido acontece, segundo Rocha, porque as crianças e jovens são nativos digitais e, por isso, a transformação tecnológica do ambiente escolar é um investimento mais do que necessário.  “Com um ensino híbrido de excelência e o uso dos métodos pedagógicos 5.0, haverá nas salas de aula alunos mais motivados e mais envolvidos na relação ensino-aprendizagem”, analisa.

“A consequência direta é estudantes que aprendem mais e têm uma trajetória de maior sucesso na sua jornada escolar, com evasão baixa e autoestima em alta”, explica. “Com isso, haverá uma espiral ascendente na educação básica brasileira.”

Para driblar a falta de acesso da internet, que atinge cerca de 40 milhões de crianças e jovens brasileiros, o diretor acadêmico do Iteduc indica que há alternativas para o problema. Ele cita por exemplo que o Brasil é um dos países democráticos com maior número de rádios e TVs estatais “Se insistirmos em construir nossa plataforma de ensino virtual calcada em internet de banda larga, estamos excluindo um significativo número de crianças e jovens desta dinâmica”, observa Rocha. ” As rádios e TVs podem levar a educação a todas as crianças e jovens”, explica. “Porque por mais longínqua que seja a comunidade, por mais periférica, há ali um antena parabólica, um rádio de pilha”, conclui.

Sobre as perspectivas para a educação básica no Brasil, Rocha é enfático. “Tivemos impactos que ainda nem conhecemos no âmbito cognitivo, socioemocional e da saúde psíquica”, avalia. “E precisamos ter em mente que crianças e jovens são seres humanos em formação, para quem o isolamento social tem provocado um efeito desastroso, e  não HD’s onde eu plugo e descarrego uma série de informações”, alerta ele. “Se os aspectos socioemocionais não forem levados em conta, de nada vai adiantar os gestores decidirem pelo aumento da carga de matemática ou de língua portuguesa”, conclui.

 


Ismael Rocha - é diretor acadêmico do Iteduc (Institute of Technology and Education), pioneira na capacitação de professores de educação básica para o ensino on-line e híbrido. É Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e especializado em avaliações escolares. Também é mestre em Sociologia, com formação complementar nos EUA, Canadá, Inglaterra, China, Malásia, Chile e México. Vice Presidente da World Vision Brazil e Climate Leader.

 

Iteduc - O Institute of Technology and Education 


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