Trabalhabilidade
deve ser o plano B na retomada econômica quando a pandemia arrefecer
Os dramas da quarentena na economia serão profundos e não há ainda como
mensurar seus impactos no mercado de trabalho, mas uma coisa é certa: quando a
pandemia arrefecer o emprego nunca mais será o mesmo. Não haverá mais espaço
para modelos tradicionais e todos teremos que nos reinventar. As próprias
companhias estão revendo seus modelos em função da crise e já consideram mudar
a forma de operar com os aprendizados da dinâmica imposta. E isso não se limita
ao home office propriamente dito, mas ao jeito de trabalhar e de gerir equipes,
que também se tornaram mais exigentes diante dos riscos.
Trata-se de um dos principais desafios para a retomada da economia, que caiu
4,1% no ano passado, menor taxa da série histórica. A taxa de desocupação
atingiu 14,2%, segundo dados do IBGE divulgados ao final de março. E pode
piorar este ano, pois é preciso levar em conta que a taxa de desemprego atual
está subestimada, já que parte da população que ficou sem emprego durante a
pandemia não está procurando recolocação por medo de se contaminar. Como, por
definição, a taxa de desemprego calculada pelo IBGE se baseia em quem está
efetivamente procurando trabalho, pode-se esperar que, ao crescer o número de
vacinados, haja o aumento da busca por trabalho, pressionando a taxa de
desemprego.
As perspectivas no início de 2021 eram de otimismo, com crescimento do PIB
acima de 4% e, consequentemente, melhora do desemprego, última variável
econômica a retomar. Isso porque, tradicionalmente, as empresas precisam ter
segurança para voltar a investir e a contratar colaboradores. Entretanto, a
piora da pandemia neste primeiro trimestre, que provocou o retorno ao
isolamento social, mudou as expectativas. Agora, é preciso lidar com o cenário
incerto em que muitas empresas estão fechando as portas.
Eis a tempestade perfeita que traz à tona novamente o conceito de
trabalhabilidade - competência de manter-se trabalhando e gerando renda, mesmo
com fontes alternativas. Esta será a saída que amenizará os impactos da crise
tanto para o trabalhador quanto para a empresa. Do lado do primeiro, há a
dificuldade em encontrar vagas formais no mercado de trabalho. Do outro, existe
o temor de investir no aumento da equipe sem a certeza de como a demanda se
comportará.
A receita vai se manter para fazer frente aos custos? O quanto o novo
colaborador agregará à empresa?
A trabalhabilidade pode quebrar esse ciclo, ao exigir capacidade de se adaptar
e originar renda a partir das próprias habilidades, o que vai muito além da
ideia de emprego. Há a necessidade de se desenvolver multicompetências,
exigidas em qualquer função, e que representem verdadeiramente desenvolvimento
humano, sem perder de vista o impacto das novas tecnologias.
Lidar com a vida sob pressão, desenvolver potenciais ainda não explorados,
encontrar possibilidades que antes eram desconhecidas, a fim de conquistar
independência, e proatividade para gerar receita. Todas essas são competências
buscadas na hora da contratação, que também ganhou novas formas a partir da
reforma trabalhista. Caso do trabalho intermitente, que também já contribuiu
para aumento das vagas com carteira assinada.
A trabalhabilidade tende a provocar a sociedade a se reinventar a todo o
momento, não se conformar com uma situação, e buscar novas oportunidades, mesmo
diante de um ambiente adverso como o que vivemos.
Walter Vieira - CEO do Closeer, aplicativo que conecta profissionais às
empresas.
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