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quinta-feira, 15 de abril de 2021

Dia Mundial da Voz

 Uso abusivo de medicamentos pode afetar as cordas vocais


Cuidar da voz nem sempre é algo que as pessoas se preocupam. Aquela sensação de arranhado na garganta ou pigarro, muitas vezes, passa despercebida. E os motivos podem ser diversos: uma inflamação ou infecção, cigarro, poluição, alergia e até câncer. Mas você sabia que até o uso de medicamentos pode afetar as cordas vocais? Um probleminha corriqueiro, se não for avaliado e tratado da forma adequada, pode se agravar. Pra quem é profissional da voz, então, isso pode ser um grande inconveniente diário e permanente. Foi o que aconteceu com o cantor Bruno Gouveia da banda de rock Biquíni Cavadão. O músico conta que, antes da pandemia, o grupo, que possui 36 anos de história, chegava a fazer de dois a quatro shows num fim de semana.

“É um ritmo muito intenso que exige uma condição de atleta da voz para poder realmente realizar todos os shows. Você não dorme, não come direito e se sacrifica muito nessa correria toda. Teve um momento na minha vida que isso foi tão intenso que, por várias vezes, procurei um médico para resolver rapidamente o problema porque não dava pra ficar quieto com a minha voz por sete dias. Eles naturalmente me recomendaram corticoides e vários outros medicamentos. Tudo bem por aí, sem problemas, até o momento que eu achei que já não precisava ir mais lá (no médico) para falar sobre nenhum problema e eu mesmo me automedicava”, afirmou Bruno Gouveia.

O resultado foi que o músico ficou dependente dos medicamentos para manter a voz plena. E com a orientação de uma fonoaudióloga conseguiu buscar soluções não farmacológicas para manter a saúde vocal. “As pessoas não têm ideia do que o corticoide causa. Hoje meu fígado está comprometido por conta de remédios. Hoje eu me trato com o hepatologista por causa dos corticoides que foram sendo tomados ao longo de tantos anos. Eu tenho uma série de problemas hoje até mesmo com o próprio corticoide. Quando é necessário usar, o meu corpo não responde da mesma forma. E eu recomendo a todo mundo que usa a voz profissionalmente, para se aconselhar muito com o médico e nunca se automedicar.  De remédio pra veneno é só virar uma chave”, revela o cantor.

No Dia Mundial da Voz, comemorado em 16 de abril, especialistas da área da saúde sempre alertam sobre cuidados necessários para manter a saúde das cordas vocais. A data surgiu a partir das realizações da Semana Nacional da Voz no Brasil, em 1999, e ganhou destaque internacional. A atividade foi criada por médico otorrinolaringologistas, inicialmente, com o intuito de prevenir o câncer de laringe. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) tem defendido fortemente a orientação sobre os riscos da automedicação e o uso indiscriminado de medicamentos, como aconteceu com o músico da banda Biquini Cavadão.  As cordas vocais são pregas mucosas flexíveis localizadas na laringe e compostas por músculo e ligamento. A passagem do ar por estas pregas produz vibração e dá origem a voz.

Muitos medicamentos podem ocasionar danos às pregas vocais de modo direto ou indireto. É o que explica a farmacêutica Alessandra Russo, da Coordenação Técnica e Científica do CFF. “Alguns medicamentos tornam a saliva mais viscosa, outros diminuem a produção de saliva, o que interfere na lubrificação e hidratação das pregas vocais e irá interferir na qualidade da produção da voz. Temos como exemplos, os corticoesteroides de uso tópico, administrados por meio de dispositivos inalatórios para o tratamento da asma. Medicamentos anticolinérgicos utilizados para o tratamento da doença de Parkinson, incontinência urinária, anti-histamínicos para tosse, os broncodilatadores utilizados para o tratamento da asma. Os medicamentos simpaticomiméticos diminuem a produção de saliva. Temos, como exemplo, aqueles utilizados para a congestão nasal, como a pseudoefedrina”.

Alessandra também cita como um caso preocupante o que ocorre com mulheres que utilizam esteroides anabolizantes para aumento de massa muscular. Já que o uso destes medicamentos ocasiona a virilização da voz feminina, com mudança do seu timbre, quadro que não se resolve nem com a interrupção do uso do medicamento. Outros fármacos também possuem efeitos indesejáveis. A especialista explica que fazer repouso vocal ajuda. Ela explica que ficar sem usar a voz o máximo de tempo que puder, vibrando a língua a cada hora para ir drenando as cordas vocais é um bom exercício. E, é claro, procurar especialistas da área da saúde para fazer esse acompanhamento. Isto mostra a grande importância do farmacêutico se engajar em ações de prevenção e promoção da saúde vocal, principalmente, no que diz respeito a orientação sobre o uso de medicamentos que possam ocasionar danos diretos ou indiretos à voz, bem como para informar sobre os graves riscos da automedicação.


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