A condição, que evolui para sérias comorbidades, afeta quase 28% das pessoas no Brasil
Considerada a maior epidemia não infecciosa do planeta, a
obesidade acomete cerca de 30% das pessoas no mundo, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a doença atinge uma média de 26,8% da
população, de acordo com dados mais recentes do IBGE. Iniciada geralmente na
infância, a tendência é que a condição evolua para casos graves. Os tratamentos
vão de intervenção clínica, com atendimento multidisciplinar e medicamentos, a
cirurgias metabólicas e bariátricas.
“É uma doença considerada progressiva, com cada vez mais casos, no
Brasil e no mundo. Ela traz uma série de comorbidades: diabetes, hipertensão,
cirrose hepática, refluxo, problemas articulares, hormonais, sexuais e assim
por diante”, alerta o cirurgião do aparelho digestivo especialista em cirurgia
bariátrica do Hospital Brasília Luiz Fernando Córdova.
De acordo com o médico, há um preconceito muito grande que, aliado
à falta de informação, contribuem para a procura tardia do tratamento contra a
obesidade e consequentemente aumentando as estatísticas. Luiz Fernando ainda
aborda que muitas pessoas pensam ser apenas uma questão de emagrecimento, e que
isso irá prevalecer para o resto da vida.
“Nós vemos que, com o passar dos anos, a doença se torna mais
grave e aparece cada vez mais em jovens. Durante a pandemia, vimos que os pacientes
obesos foram os que apresentaram evoluções mais graves da Covid-19. Então, é
necessário chamar atenção das pessoas para mostrar que a obesidade é uma doença
crônica e que necessita de tratamento”, enfatiza.
Luiz Fernando aponta que atualmente existem tratamentos clínicos
bem definidos para alguns grupos. Outros irão necessitar de intervenção
cirúrgica. Atualmente, segundo o médico, existem cinco tipos de cirurgias
reconhecidas. São elas com nomes técnicos: Banda Gástrica Ajustável,
Gastrectomia Vertical , Bypass Gástrico (Cirurgia de Fobi e Capella), Derivação
Biliopancreática ou cirurgia de Scopinaro Derivação Biliopancreática com
Duodenal Switch.
Segundo
a Nutróloga do Hospital Águas Claras Juliana Tepedino apesar de não ser
considerada a única forma de perda de peso, a cirurgia bariátrica vem se
mostrando uma estratégia extremamente eficaz para perda de peso a curto e longo
prazo. A médica destaca ainda que há uma melhora nas doenças associadas e
redução da mortalidade associada a obesidade em 10 anos.
“Ainda
assim, deve-se observar de perto quem realmente precisa da intervenção
cirúrgica para o controle da obesidade. Pessoas que possuem limitação
intelectual significativa; doenças genéticas; pacientes sem suporte familiar
adequado; quadro de transtorno psiquiátrico não controlado, incluindo uso
contínuo de álcool ou drogas ilícitas, não são candidatos a cirurgia
bariátrica. A presença destas condições deve ser estudada clinicamente por
equipe multiprofissional com cirurgião, endocrinologista, nutricionista,
psicólogo e psiquiatra, se necessário”, aponta a médica.
Cirurgia Bariátrica ou Metabólica?
Atualmente, existem dois tipos de intervenções cirúrgicas para
reduzir a obesidade no paciente: a bariátrica e a metabólica. De acordo com a
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), estão aptos a
fazer bariátricas pacientes com IMC acima de 40 kg/m², independentemente da
presença de comorbidades; IMC entre 35 e 40 kg/m² na presença de comorbidades;
IMC entre 30 e 35 kg/m² na presença de comorbidades que tenham obrigatoriamente
a classificação “grave” por um médico especialista na respectiva área da
doença.
A cirurgia metabólica é indicada para pacientes com diabetes
mellitus (tipo 2). O IMC dessas pessoas também varia entre 30 Kg/m2 a 35 Kg/m2.
A SBCBM salienta que também é importante observar a idade destes
pacientes. Em geral, pessoas entre 18 e 65 anos não possuem restrições para a
realização de cirurgia bariátrica. Acima de 65 anos, é necessária uma avaliação
diferenciada. Já para a intervenção em pacientes com menos de 16 anos, é
necessário o consentimento e adesão familiar ao tratamento.
Para a cirurgia metabólica, é necessário avaliar alguns critérios,
como por exemplo a falta de resposta ao tratamento clínico. A SBCBM recomenda
que a idade mínima seja de 30 anos e máxima de 70 anos, com menos de dez anos
de diagnóstico de diabetes.
Com a passagem do Dia Mundial da Obesidade em 4 de março, o
cirurgião reforça que a maioria das pessoas acham que só pessoas aparentemente
muito grandes precisam de tratamento, mas a realidade é outra “Em doenças
crônicas pessoas que têm menos tempo de doença são as que devem ser tratados
prioritariamente, como forma de prevenção. A obesidade, muitas vezes, começa na
infância e o tratamento deve também começar nessa época, com o pediatra. Na
adolescência e fase adulta com o endocrinologista. Nos casos que necessitarem
de cirurgia, o endocrinologista irá encaminhar para o cirurgião bariátrico. A
mensagem que fica é: não deixem passar, não achem que obesidade é só um
problema de peso, bom se fosse. Se cuidem e busquem tratamento”, pondera Luiz
Fernando.
Para a alimentação antes e depois das
cirurgias, Juliana Tepedino informa que deve ser adequada conforme o tipo
procedimento que será realizado. “Tipos diferentes de cirurgia levam a
diferentes tipos de dieta pós-cirúrgica. Há preocupação extra com tamanho
de porções, mastigação, retirada de alimentos ultra processados, aumento do
consumo de frutas, verduras e proteínas de boa qualidade (animal ou vegetal).
No pós-operatório, recomenda-se ao paciente atividade física e complemento
vitamínico, além de acompanhamento com equipe multiprofissional”, finaliza a
nutróloga.
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