No dia Mundial da Obesidade, o neurocirurgião Dr. Marcelo Valadares apresenta uma reflexão sobre o impacto da doença na coluna
Na medicina, há
debates intensos sobre os impactos causados pela obesidade no corpo humano.
Você com certeza já ouviu falar sobre as relações entre ela e o desenvolvimento
da diabetes tipo 2, aumento de triglicérides, do colesterol, da pressão alta e
o surgimento de doenças cardiovasculares. A obesidade grave, por exemplo,
também é facilmente associada às complicações articulares em pés, joelhos e
quadril, regiões que sustentam o peso de nosso corpo. Entretanto, pouco se
fala, atualmente, sobre os possíveis danos para a coluna vertebral.
No dia 4 de março,
data que visa conscientizar a população sobre um dos mais preocupantes
problemas de saúde do século XXI, Dr. Marcelo Valadares, médico neurocirurgião
da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do
Hospital Albert Einstein, alerta: "Estudos das últimas décadas, realizados
principalmente em países com altos índices de obesidade, como é o caso dos
Estados Unidos, mostraram que o excesso de peso pode afetar diretamente o
alinhamento da coluna".
"O abdômen
volumoso, em especial, desloca o eixo do corpo para frente. Nossa coluna é
desenhada com curvaturas que permitem a distribuição equilibrada da massa
corporal em relação ao esqueleto e à gravidade. Em uma pessoa muito obesa, esse
equilíbrio se perde, e os mecanismos compensatórios - que mantêm uma pessoa de
pé - vêm do trabalho dos músculos que vão tracionar (e isso é inconsciente e/ou
automático) a coluna para tentar mantê-la na posição correta, causando maior
fadiga muscular. A fadiga muscular leva à dor", afirma Valadares.
O neurocirurgião
explica que os discos intervertebrais - pequenos "colchões" entre as
vértebras - sofrem com pressão enquanto a pessoa está de pé, principalmente, e
se desgastam. "A medida em que se desgasta, um disco pode se romper e
levar à formação de hérnias, famosas causadoras de ciáticas com quadros
dolorosos intensos, e que podem levar, até mesmo, à necessidade de uma
cirurgia", complementa o especialista.
O médico lembra que,
se tratadas, as doenças da coluna terão efeito muito importante na qualidade de
vida. "Existe um movimento de aceitação do corpo que muitas vezes se
confunde com aceitação da obesidade como normal. Talvez esse seja um campo a
ser explorado entre o que é normal e o que é saudável, o que é pressão estética
e o que é importante para sua saúde", finaliza.
E quanto ao
sobrepeso?
O sobrepeso também
pode ter ligação com a dor lombar. Porém, segundo o Dr. Marcelo Valadares, de
uma forma menos pronunciada. "Certamente não existem tantas alterações
físicas, em especial do alinhamento corporal, nem as complicações causadas por
outras doenças clínicas. A correlação com a falta de preparo físico, que é mais
comum neste grupo, está ligada à dor lombar do que o próprio peso", diz.
Tratamentos
O tratamento indicado
para pessoas obesas com lesões de coluna é muito parecido com o de pessoas não
obesas. O importante é saber se existem outras doenças associadas ou limitações
clínicas, segundo o Dr. Valadares, que demandem cuidados extras no processo de
reabilitação. "Talvez o paciente tenha dificuldade e o processo de
recuperação leve mais tempo que o normal. Se o paciente precisar de cirurgia,
existe um risco maior", pontua.
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