Levantamento do
Sebrae mostra que quase 60% dos pedidos foram negados
Diante do impacto econômico da pandemia de Covid-19
sobre as micro e pequenas empresas, bancos públicos, privados e entidades de
incentivo ao desenvolvimento vêm anunciando novas linhas de crédito. Com juros
menores, longos períodos de carência e pagamento facilitado, as estratégias
buscam alavancar o setor empresarial mais prejudicado pela crise. Mas, nem tudo
é tão simples quanto parece.
Para se ter ideia, cerca de 60% dos donos de
pequenos negócios já tiveram o pedido de crédito negado nos bancos desde o
início da crise. De acordo com o Sebrae, o maior desafio são as garantias solicitadas
pelas instituições financeiras para concessão do empréstimo. Analisando a
questão mais a fundo, o problema está na falta de documentação necessária para
a obtenção dos valores dentro dessas regras em especial o Balanço Patrimonial
bem estruturado.
Segundo Regina Fernandes, CEO do escritório de
contabilidade Capital Social, existe um grande despreparo das pequenas e médias
empresas no que tange a documentação. “Normalmente, essas empresas não
valorizam o trabalho do contador. Como a empresa, em geral, é gerenciada pelos
próprios donos, que não têm muito conhecimento sobre o assunto financeiro,
imaginam o profissional contábil apenas como mal necessário e gerador de
imposto. Assim, buscam o menor custo sem considerar toda possibilidade
consultiva que esse profissional pode oferecer. Soma-se a isso o fato de que,
mesmo em um cenário como esse, as instituições financeiras estão mantendo o
mesmo padrão absurdo de burocracia”, avalia. “A combinação desses dois fatores
dificulta o acesso ao crédito e a sobrevivência desses negócios”.
Ao solicitar um empréstimo, é praxe apresentar
alguns documentos, como o contrato social da empresa, declaração de
faturamento, certidões negativas e balanço patrimonial do último ano. A
instituição financeira também precisa entender como o dinheiro será aplicado e
se a empresa tem capacidade de gerar caixa e quitar a dívida. “O ideal é traçar
um plano, com prazos e metas, e apontar o destino do empréstimo. Um
planejamento bem estruturado com demonstrações contábeis em linha desperta
confiança durante a negociação”, aconselha Regina Fernandes.
Sem contabilidade
Atualmente, há 16 milhões de micro e pequenas
empresas, de acordo com o Sebrae. Muitos, são negócios familiares, de bairro,
com nenhum ou poucos funcionários. Quem presta o serviço costuma ser também
quem lida com fornecedores, faz compras, pagamentos e fecha as contas do mês.
São poucas as que têm um contador ou se utilizam de serviços de contabilidade
de forma efetiva.
Com todas essas limitações, é difícil que esses
empresários façam planejamentos com frequência e estejam regulares em relação
ao Fisco. “A contabilidade precisa ser entendida como uma parceria do negócio.
Sua atribuição não é a de simplesmente gerar guias de impostos. Estar com a
documentação financeira correta, atualizada, evita uma série de problemas
futuros, como ter uma solicitação de crédito negada”.
Tudo na ponta do lápis
Antes de procurar um empréstimo, é preciso
organização e planejamento. O valor arrecadado vai efetivamente ajudar o
negócio ou colocar o empresário em uma bola de neve? Afinal, mesmo com boas
condições de pagamento, uma hora os prazos vencem.
Por isso, a recomendação é pesquisar e estudar as
taxas de juros do mercado e confirmar a real necessidade de buscar dinheiro no
mercado. “Se o empreendedor já tem empréstimo com um banco, nada o impede de
pesquisar condições melhores em outras instituições. O Desenvolve-SP, por
exemplo, tem a menor taxa de juros do mercado como um todo e a nova linha de
crédito do Sebrae também é bastante vantajosa. Os bancos, por sua vez, ainda
concentram os juros mais altos”, afirma Regina Fernandes, do Capital Social.
Depois de decidir por um empréstimo e conseguir o
dinheiro, é preciso se estruturar para a retomada do mercado, mantendo uma
operação enxuta e gastando somente o necessário. “A gestão financeira deve ser
fundamental nos próximos meses. É recomendável que as empresas façam um
planejamento orçamentário anual, com análises mensais para fazer eventuais
correções”, aconselha. “Quando o empreendedor fizer essa análise de caixa, é
importante criar indicadores sobre a saúde do negócio usando métricas de acordo
com as características do próprio negócio. E converse sempre com o seu contador,
afinal ele é o médico de sua empresa”, finaliza.
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