Livre,
Lula se tornou um problema para o PT. Visivelmente, seu peso na balança
política é muito menor do que quando esteve sitiado no Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC. Solto, tornou-se desinteressante.
Os partidos
de esquerda, quanto mais tentam se dissociar de Lula e do PT, mais parecidos
com ele ficam, inclusive no eterno mau humor.
Ao longo dos últimos meses, incorreram no equívoco de imaginar que a
bajulação internacional guardava alguma relação com o prestígio de seu mito.
Mas não é assim, Uma coisa é o aparelho esquerdista mundial, um aparelho
publicitário ativo; outra é a influência dessa máquina na política interna das
nações. Parcela significativa da sociedade brasileira teve tempo para ajustar o
foco e entender o quanto o país perdeu e se perdeu nos longos anos em que a
corrupção se institucionalizava, a ordem era desprezada, a liberdade abusada e
a responsabilidade extraviada nos meios de influência e na vida social. É
sabido: agora, a corrupção luta nos tribunais, mas se afastou da tesouraria.
Outro
equívoco do lulopetismo foi imaginar que reverteria em seu benefício o
antagonismo a Bolsonaro prestado por boa parte da mídia convencional. Não há
qualquer evidência de que isso possa acontecer depois de ficarem tão expostas
as vísceras dos sistemas criminosos instituídos pela corrupção no país.
Em tal cenário, nada mais
relevante e benéfico aconteceu entre nós, nos últimos 35 anos, do que a Lava
Jato, Sérgio Moro, Paulo Guedes e Bolsonaro. As lições disso decorrentes ainda
levarão alguns anos para impregnar as instituições nacionais e fazer do Brasil uma
democracia não apenas formal. São comuns, entre nós, referências ao Estado
Democrático de Direito como se vivêssemos num. Grave equívoco a que se chega
diante da mera existência de eleições periódicas e da operação das instituições
de Estado. Ora, eleições e instituições de Estado existem, igualmente, em Cuba,
Venezuela e em outros totalitarismos. Elas são necessárias para a democracia,
mas não são, por si só, causa eficiente, suficiente, da democracia.
Há, no
Brasil, um déficit democrático que se manifesta, por exemplo, quando o
Congresso arrosta a opinião pública, legisla em causa própria e encobre os maus
passos de seus membros; quando o Senado se acumplicia com o STF para
descumprirem seus deveres de fiscalização mútua; e quando as pautas de Sérgio Moro
batem, sempre, na acolhedora trave da impunidade. Do Brasil se pode dizer que
vivemos num Estado de Direito, onde as coisas são, mais ou menos, regradas por
uma Constituição. Bem nos serviria que essas instituições fossem racionais e,
por essa via, efetivamente democráticas.
Em "Nabuco e a
reorganização teórica do Império", João Camilo de Oliveira Torres escreve:
"Nas
épocas da decadência e decomposição, o tribuno do povo chama-se demagogo e
procura condicionar a vontade para fins baixos e pessoais, para fins criminosos
e antipatrióticos".
Essa é uma definição precisa
da carreira política do ex-presidiário de
Curitiba. Seu partido conferiu caráter orgânico à corrupção, enfermando
moralmente as principais legendas políticas do país; devastou as finanças
nacionais jogando-nos na mais danosa recessão da história. O Brasil vive a
situação de um país pós-guerra, sem outra guerra que não aquela proporcionada
por meios e fins criminosos e antipatrióticos.
Quem tiver alguma dúvida
sobre isso, ouça as falas de Lula e os discursos de seus representantes em
Brasília. São bem explícitos quanto à saudade que sentem de seus fracassos.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário