Pesquisadora
mostra que a publicidade brasileira não fala com público idoso e, quando fala,
é de forma estereotipada. Com isso, marcas perdem grande público potencial
A pirâmide etária brasileira está se invertendo. O
aumento da expectativa de vida e a redução das taxas de natalidade estão
fazendo crescer o número de idosos em relação ao de jovens. Estimativa do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística é que, em 2030, o país já tenha mais
pessoas acima dos 60 anos que menores de 14. Além de em maior número, a
população idosa está, cada vez mais ativa, economicamente independente e
consumidora, mas o mercado publicitário brasileiro parece ainda não ter
percebido tal movimento.
Pesquisa de doutorado da coordenadora do curso de
Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo, Christiane Machado, mostra
que a publicidade brasileira não fala com o público idoso e, quando fala, é de
forma estereotipada. “Além de as próprias marcas não quererem direcionar seus
produtos e suas mensagens para os idosos, nas mensagens que são para um público
mais amplo, os idosos também não aparecem. E, quando aparecem, são de uma forma
muito de antigamente, aquele vovozinho, aquela vovozinha”, comenta a
publicitária.
Na pesquisa, a professora observou as propagandas
dos 10 maiores anunciantes do país, que representam mais de 200 marcas, para
saber se a presença dos idosos na publicidade era condizente com sua
participação na sociedade. “Os idosos aparecem em menos de 3% das propagandas.
O fato de eles não estarem presentes e, principalmente, de em alguns casos eles
serem mostrados de maneira muito estereotipada, demonstra certo preconceito. As
marcas não querem ser associadas com consumidores mais velhos porque as pessoas
ainda têm preconceito com o envelhecimento. Todo mundo acha legal esse papo de
longevidade, de que a expectativa de vida está aumentando, todo mundo quer
viver mais. Mas ninguém quer ficar velho”, ressalta Christiane.
Pesquisa do Instituto Locomotiva e da Bradesco
Seguros aponta que R$ 1,8 trilhão são movimentados por consumidores com mais de
50 anos, por ano, no Brasil – o que representa 42% da movimentação financeira
de todos os brasileiros. Apesar da pesquisa atual não abranger a recepção, ela
diz já haver a percepção de que as marcas estão perdendo um grande público
potencial. “Os idosos de atualmente são ativos, intelectualmente desenvolvidos,
consumidores de fato. Se, há meio século, a pessoa com 60 anos não era um
consumidor em potencial, hoje ela tem um nível de atividade – e até um poder
aquisitivo – que se assemelha ao que era uma pessoa de 40 anos no passado”,
justifica.
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