O assunto suicídio ainda é um tabu, embora tema de
série na internet. E está cada vez mais preocupante, em especial entre jovens.
Segundo o Mapa da Violência (Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério
da Saúde), em dados de 2017, a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos
no Brasil subiu de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014,
alcançando quase 10% de aumento em 12 anos.
A vida só perde o sentido quando acaba a esperança.
E o que é a esperança? Não é apenas um sentimento,
mas, acima de tudo, uma convicção pessoal, uma certeza de que a vida vale a
pena.
Não há esperança sem sonhos, projetos, desejos —
motivos para existir.
Viver vale a pena porque você não é dono da vida; porque
não foi você que se inventou, criou e integrou ao planeta. Você não pertence
apenas a si mesmo, é também de outras pessoas, do mundo. Você não sabe o que
vai acontecer no futuro; você pode arquitetar o amanhã ao seu jeito.
Cada pessoa é única. Portanto, valiosa como os
diamantes e eterna como eles, porque, mesmo depois de sua morte, será lembrada
pelo que fez e representou. Enfim, porque viveu. Não porque morreu.
O suicida não é um covarde; é um corajoso
desesperançado.
O escritor francês Albert Camus disse que a única
questão verdadeiramente séria da filosofia é o suicídio. A rigor, acho que esse
é o mais complexo aspecto do mistério de existir. Morrer por suicídio é uma
escolha, uma questão íntima. Uma atitude diante do sofrimento. Uma opção definitiva
que se contrapõe aos muitos que morrem sem querer, lutando para continuar
vivendo.
Há saída para o suicídio?
Sim, há. E só depende de um olhar duplo e,
aparentemente, antagônico. Um olhar fechado no ponto mais profundo do seu ser e
aberto para todos os pontos do universo. Vontade de criar uma ponte segura
entre você e as infinitas possibilidades da vida. Para descobrir sua conexão
com alguma delas. E existem.
Se você acha que não serve para viver, tenha
certeza de você é importante para a vida de alguém ou, até mesmo, de muitas
pessoas.
Há crianças que foram muito desejadas por seus pais
e que, em razão do destino, nasceram com sérios problemas físicos e mentais.
São seres aparentemente inúteis para a vida, mas, por outro lado, a razão de
ser da existência dos que lhes cuidam com amor e carinho. Há pessoas que
tentaram o suicídio, não morreram e se tornaram brilhantes personalidades,
descobriram curas para doenças, criaram meios para melhorar a vida de todos.
Qualquer ser humano pode ser útil, a si mesmo e ao próximo.
"Viver é perigoso", disse o romancista
brasileiro Guimarães Rosa. Por isso mesmo, também é fascinante, mágico,
desafiador. Morrer não oferece oportunidade; viver permite chances de mudar
qualquer cenário.
Experimentamos tempos difíceis. Cada um tem suas
dores. Entretanto, devemos ponderar que é melhor matar a morte do que perder a
vida.
Ricardo Viveiros - jornalista e escritor. Autor,
dentre outros livros, de "A vila que descobriu o Brasil" (Geração
Editorial) e "Justiça seja feita" (Sesi-SP Editora).
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