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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

A difícil arte de amar sem contar com o outro


Em tempos de individualismo até as relações amorosas enfrentam dificuldades 


Entender o outro é um processo que está cada vez mais difícil nos tempos modernos. A busca incessante por algo para completar nossa existência e nossa felicidade plena passa pelas questões profissionais, financeiras e também pela procura por envolvimentos amorosos. Ocorre, porém, que hoje em dia eles são tão rápidos quanto aquela mensagem que se recebe nos grupos de amigos que participamos nas redes sociais ou um estalar de um dedo. E essa facilidade de iniciar e terminar, em busca de uma felicidade, esbarra exatamente no que hoje somos: individualistas. E na maior parte do tempo, associados as regras de mercado, efemeridade, superficialidade e consumo, o que explica relações como namoros, crushes ou somente os ficantes, sem nada que seja comprometedor e eterno, por exemplo. 

“Gastamos muita energia nos investimentos profissionais e formação intelectual que esquecemos de ser mais amigos e de se deixar levar para uma relação amorosa”, diz a psicóloga especialista em relacionamentos, Camila Moura, consultora do site Amor&Classe (www.amoreclasse.com.br - facebook.com/AmorClasseBrasil/) dedicado a românticos assumidos. O individualismo, segundo Camila, é uma característica dos tempos atuais, principalmente porque no mundo moderno e contemporâneo a pessoa tem muitas demandas sobre si. O mercado de trabalho está mais competitivo e mais difícil, as cidades estão superlotadas, o que leva as pessoas investirem em si mesmas e nas atividades do dia a dia com nenhuma sobra para as relações ao redor. “A energia é gasta de maneira intensa nessas atividades e há pouco tempo para outros papéis da vida, como, por exemplo, de amigos num relacionamento amoroso ou de conseguir a empatia do outro”, destaca a psicóloga. 

Apesar da efemeridade dos relacionamentos atuais causado pelo amor-consumo, o amor nada tem a ver com prazer ou consumo. Isto porque amar alguém deixa marcas, às vezes felicidades e as vezes sofrimento. Quando causa mal, não é amor, a menos que a pessoa esteja muito disposta a sofrer pelo amado. As pessoas encaram suas vidas corridas em um grande parque de diversões, sem compromissos. O indivíduo está centrado em seu próprio ego e mesmo quando em um relacionamento enxerga apenas suas necessidades, desejos, vontades e sua vida no meio da selva que busca status e aparências. Por isso, a atual realidade são casais que não se encontram, não conversam e não se curtem, ou quando o fazem é por um período curto, cuja relação não sobrevive. 

Se você reconhece que seu parceiro ou parceira tem uma dificuldade muito grande de se colocar no seu lugar, de tentar entender o que você está levando como sensação ou sentimento, é importante investir para descobrir as causas.

 Ou seja, se a pessoa tem falhas na empatia é porque ela está correndo demais, sendo individualista demais ou está enfrentando algum problema e por isso tem dificuldade de olhar para o outro. “A empatia é um sentimento de olhar para o outro e se colocar no lugar dele”, diz Camila. O individualismo não permite que você reconheça que o parceiro ou parceira tem essa dificuldade e, portanto, é necessário investigar as causas dessa falha de empatia e saber como lidar com esse parceiro individualista na relação. 

Conversar e tentar entender a vida desse parceiro é o primeiro passo. Saber se ele tem passado por alguma dificuldade, se há algo que o preocupa são iniciativas que podem ser adotadas. Se ele está nesse individualismo, nesse egocentrismo é porque talvez não esteja dando conta de lidar com a própria vida. “Se isso acontece ele vai ter mais dificuldade de olhar para o outro. Então, é importante ajuda-lo a compreender que não está colhendo o sentimento na relação”, afirma Camila Moura. A especialista orienta, no entanto, que isso deve ser um diálogo e não uma cobrança. “É descobrirem juntos o que está acontecendo, porque essa pessoa não consegue olhar os procedimentos e interesses que a outra pessoa sinaliza”, salienta a psicóloga do Amor&Classe.  

O diálogo é a melhor forma de encontrar um caminho para que o individualismo não afete e ponha fim ao relacionamento. Se cada parceiro pensar em si apenas não há porque um deles gastar toda energia para manter o compromisso. Por isso, ao dialogar, é preciso pontuar sobre como eles estão lidando com os problemas, os papéis e coisas que desenvolvem. “Às vezes, a gente também não olha para o outro por faltar empatia também de nossa parte. É preciso ser simpático com outro e tentar entender o que está acontecendo na vida dele ou dela. É uma troca”, destaca Camila. 

Para saber o momento que cada um deve ceder é importante pensar o seguinte: Aquilo que meu parceiro/parceira está pedindo, se eu nem pensar sobre ou nem considerar vai levar essa pessoa ao sofrimento? Se se a resposta é sim, então vale a pena pensar em ceder. “Claro que cada um vai ceder à sua forma, mas pode ser uma combinação. E o combinado não sai caro”, reflete a especialista. Isso porque, segundo Camila, muitas vezes a pessoa só precisa entender que o outro está pensando em como melhorar a relação. Ser simpático em relação ao outro ajuda e a empatia é fundamental na relação.
É a empatia que cria um lugar em comum nessa relação. Sem ela esse lugar em comum não existe e quando não existe a relação não vai para frente. “O diálogo oferece essa oportunidade de descobrir se o outro está bem e se não é preciso reavaliar para continuar e assim evitar um desgaste muito grande relação”, reforça a especialista. 

Outra dica para saber qual o momento certo de cada um ceder é quando nenhum dos lados quer opinar sobre uma atitude que gera brigas recorrentes. “É nesse momento que alguém deve pensar em ceder, para gerar saúde emocional para essa relação”, diz a psicóloga. Ceder deixando muito claro quais são seus limites, porque se esse ceder for mexer nos seus valores e princípios não vai trazer solução para relação. “Pelo contrário vai trazer adoecimento psicológico para as pessoas envolvidas e em vez de o casal ter saúde afetiva terá mais prejuízo”, salienta Camila. 

Quando a gente consegue criar um lugar comum, ou seja, um abre a mão de um lado e o outro do outro, essa relação cria um lugar de apropriação dos dois. “Um lugar de dois e não de um só impondo seus desejos e suas vontades”, destaca Camila.  Se isso não ocorre, um deles fica escondido, adoecido, até o momento que a relação adoece também. O individualista precisa saber quais são os as consequências de suas atitudes na vida emocional do casal. E se essas atitudes causam algum mal, a consequência será, em algum momento, que o outro lado se retire da relação. “O processo de desgaste é muito grande quando um dos lados age desta forma”, expõe a psicóloga. 

Se esse parceiro tido como individualista não consegue ceder, mesmo a pessoa falando das consequências negativas das atitudes dela, só existem duas saídas: ou ceder sobre aquele item que fere os princípios e valores ou respeitar o outro com os valores dele. Aquela pessoa entrou em um nível de individualismo tão focado nos interesses pessoais, gastando energia com as coisas da vida, que realmente sobra pouca energia em construir com outro. “Se chegar a este ponto é preciso pensar se vale a pena esperar esse tempo, do outro se abrir para relação”, questiona a especialista. O tempo, de acordo com Camila, demanda paciência ou aceitar se relacionar de outra forma que não amorosamente.




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