Em tempos de
individualismo até as relações amorosas enfrentam dificuldades
Entender o outro é um processo
que está cada vez mais difícil nos tempos modernos. A busca
incessante por algo para completar nossa existência e nossa felicidade
plena passa pelas questões profissionais, financeiras e também pela procura
por envolvimentos amorosos. Ocorre, porém, que hoje em dia eles
são tão rápidos quanto aquela mensagem que se recebe nos grupos
de amigos que participamos nas redes sociais ou um estalar de um
dedo. E essa facilidade de iniciar e terminar, em busca de uma felicidade,
esbarra exatamente no que hoje somos: individualistas. E na maior parte do
tempo, associados as regras de mercado, efemeridade, superficialidade e
consumo, o que explica relações como namoros, crushes ou
somente os ficantes, sem nada que seja comprometedor e
eterno, por exemplo.
“Gastamos muita energia nos investimentos
profissionais e formação intelectual que esquecemos de ser mais amigos
e de se deixar levar para uma relação amorosa”, diz a
psicóloga especialista em relacionamentos, Camila Moura, consultora do
site Amor&Classe (www.amoreclasse.com.br - facebook.com/AmorClasseBrasil/)
dedicado a românticos assumidos. O individualismo,
segundo Camila, é uma característica dos tempos atuais, principalmente
porque no mundo moderno e contemporâneo a pessoa tem muitas demandas
sobre si. O mercado de trabalho está mais competitivo e mais
difícil, as cidades estão superlotadas, o que leva
as pessoas investirem em si mesmas e nas
atividades do dia a dia com nenhuma
sobra para as relações ao redor. “A energia é gasta
de maneira intensa nessas atividades e
há pouco tempo para outros papéis da vida, como, por
exemplo, de amigos num relacionamento amoroso ou de
conseguir a empatia do outro”, destaca a psicóloga.
Apesar da efemeridade dos relacionamentos atuais
causado pelo amor-consumo, o amor nada tem a ver com prazer ou consumo.
Isto porque amar alguém deixa marcas, às vezes felicidades e as vezes
sofrimento. Quando causa mal, não é amor, a menos que a pessoa esteja muito
disposta a sofrer pelo amado. As pessoas encaram suas vidas corridas em um
grande parque de diversões, sem compromissos. O indivíduo está centrado em seu
próprio ego e mesmo quando em um relacionamento enxerga apenas suas
necessidades, desejos, vontades e sua vida no meio da selva que busca status e
aparências. Por isso, a atual realidade são casais que não se encontram,
não conversam e não se curtem, ou quando o fazem é por um período curto, cuja
relação não sobrevive.
Se você reconhece que seu parceiro ou parceira tem
uma dificuldade muito grande de se colocar no seu lugar, de tentar entender o
que você está levando como sensação ou sentimento, é importante investir
para descobrir as causas.
Ou seja, se a pessoa tem falhas na empatia é porque
ela está correndo demais, sendo individualista demais ou está
enfrentando algum problema e por isso tem dificuldade de olhar para o
outro. “A empatia é um sentimento de olhar para o
outro e se colocar no lugar dele”, diz Camila. O
individualismo não permite que você reconheça que
o parceiro ou parceira tem essa dificuldade e,
portanto, é necessário investigar as causas dessa falha de empatia e saber
como lidar com esse parceiro individualista na relação.
Conversar e tentar entender a vida desse
parceiro é o primeiro passo. Saber se ele tem passado por alguma
dificuldade, se há algo que o preocupa são iniciativas
que podem ser adotadas. Se ele está nesse
individualismo, nesse egocentrismo é porque talvez não
esteja dando conta de lidar com a própria vida. “Se isso
acontece ele vai ter mais dificuldade de olhar para o outro. Então, é
importante ajuda-lo a compreender que não está
colhendo o sentimento na relação”, afirma Camila
Moura. A especialista orienta, no entanto, que isso deve
ser um diálogo e não uma cobrança. “É descobrirem juntos o que está
acontecendo, porque essa pessoa não
consegue olhar os procedimentos e interesses que a
outra pessoa sinaliza”, salienta a psicóloga
do Amor&Classe.
O diálogo é a melhor
forma de encontrar um caminho para que o individualismo não afete e
ponha fim ao relacionamento. Se cada parceiro pensar em si apenas não há
porque um deles gastar toda energia para manter o compromisso. Por isso, ao
dialogar, é preciso pontuar sobre como eles estão lidando com os problemas,
os papéis e coisas que desenvolvem. “Às
vezes, a gente também não olha para o
outro por faltar empatia também de nossa parte.
É preciso ser simpático com outro e tentar entender o
que está acontecendo na vida dele ou dela. É uma troca”,
destaca Camila.
Para saber o momento que cada um deve ceder é
importante pensar o seguinte: Aquilo que meu parceiro/parceira
está pedindo, se eu nem pensar sobre ou nem considerar vai
levar essa pessoa ao sofrimento? Se se a resposta é sim, então vale
a pena pensar em ceder. “Claro que cada um vai ceder
à sua forma, mas pode ser uma combinação. E o combinado não sai caro”,
reflete a especialista. Isso porque, segundo Camila, muitas vezes a pessoa
só precisa entender que o outro está pensando em
como melhorar a relação. Ser simpático em relação ao
outro ajuda e a empatia é fundamental na relação.
É a
empatia que cria um lugar em comum nessa relação. Sem ela esse lugar
em comum não existe e quando não existe a relação não vai para frente. “O
diálogo oferece essa oportunidade de descobrir se o outro está bem e se não é
preciso reavaliar para continuar e assim evitar um desgaste muito
grande relação”, reforça a especialista.
Outra dica para saber qual o momento
certo de cada um ceder é quando nenhum dos lados quer opinar
sobre uma atitude que gera brigas recorrentes. “É nesse
momento que alguém deve pensar em ceder, para gerar saúde emocional para
essa relação”, diz a psicóloga. Ceder deixando muito
claro quais são seus limites, porque se esse ceder
for mexer nos seus valores e princípios não vai trazer
solução para relação. “Pelo contrário vai trazer adoecimento psicológico
para as pessoas envolvidas e em vez de o casal ter saúde
afetiva terá mais prejuízo”, salienta Camila.
Quando a gente consegue criar um lugar
comum, ou seja, um abre a mão de um lado e
o outro do outro, essa relação cria um lugar de
apropriação dos dois. “Um lugar de dois e não de um só impondo seus
desejos e suas vontades”, destaca Camila. Se isso não
ocorre, um deles fica escondido, adoecido, até o momento que a
relação adoece também. O individualista precisa
saber quais são os as consequências de suas atitudes na vida
emocional do casal. E se essas atitudes causam
algum mal, a consequência será, em algum momento, que
o outro lado se retire da relação. “O processo de
desgaste é muito grande quando um dos lados age desta forma”, expõe
a psicóloga.
Se esse parceiro tido como individualista não
consegue ceder, mesmo a pessoa falando das consequências negativas
das atitudes dela, só existem duas saídas: ou ceder sobre aquele
item que fere os princípios e valores ou respeitar o outro com os
valores dele. Aquela pessoa entrou em um nível de individualismo tão
focado nos interesses pessoais, gastando energia com as coisas da
vida, que realmente sobra pouca energia em construir com
outro. “Se chegar a este ponto é preciso pensar se vale a pena esperar esse
tempo, do outro se abrir para relação”, questiona a
especialista. O tempo, de acordo com Camila,
demanda paciência ou aceitar se relacionar de outra forma
que não amorosamente.
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