Terapeuta ocupacional do
CERNE dá dicas para auxiliar famílias que buscam maior independência e conforto
Com a chegada do calor é hora de treinar seu filho para a retirada
da fralda, um processo que requer paciência e parceria de família e escola. O
processo é ainda mais complexo quando se trata de crianças e adolescentes
autistas, que podem levar alguns anos até a adaptação completa, alerta a
terapeuta ocupacional Syomara Smidiziuk, do Centro de Excelência em
Recuperação Neurológica (CERNE). “O prêmio é a
independência e maior conforto para eles”, afirma. O CERNE tem realizado com
sucesso o desfralde de crianças e adolescentes com dificuldades motoras,
cognitivas e pessoas com transtorno do espectro autista.
A retirada da fralda para a pessoa com deficiência precisa seguir
três etapas: a observação dos hábitos e preenchimento de uma tabela de horários
de ida ao banheiro por no mínimo 15 dias, a análise da tabela e organização do
plano de ação. Depois, é necessário persistir por no mínimo três semanas com o
mesmo plano, sabendo que os escapes são normais.
Dicas práticas para o plano de ação envolvem a antecipação (levar
a criança ao banheiro 10 minutos antes do horário marcado); proporcionar a
familiaridade com o banheiro que será utilizado; apoiar os pés, usando um
banquinho ou adaptadores, sentar a criança ereta e deixar que ela escolha a
melhor posição; e estimular a bexiga com massagem, se necessário. A meta é
levá-la seis vezes por dia ao banheiro, ficando no máximo cinco minutos cada
vez.
“Não use o banheiro como uma brincadeira; não pergunte se ela quer
ir, apenas conduza; e, muito importante: para crianças com dificuldade de
comunicação, use gestos, sinais ou fotos”, ensina Syomara. Outra sugestão é
adotar uma recompensa exclusiva para a ida ao banheiro e manter as fraldas
somente para dormir ou sair de casa.
É importante certificar-se que não existe uma explicação médica
para a dificuldade na retirada, como o comprometimento da bexiga. “Mas, em
geral, o processo tem muito mais a ver com a organização familiar do que com um
mau funcionamento do corpo”, explica a terapeuta. As famílias que necessitarem
podem contar com o auxílio da terapia ocupacional nessa importante transição.
É importante ainda que a escola esteja em
sintonia com a família e o terapeuta, seguindo um plano de ação único. Caroline
Fardoski Kloss conta que o trabalho para o desfralde do filho Octávio, de quase
4 anos, começou com a linguagem. “Usamos imagens numa sequência e coloquei no
banheiro, mostrando os passos”, conta. “Logo ele começou a entender.”
Ainda falta completar o processo, porque,
em alguns casos, quando sente vontade de ir ao banheiro, o menino se esconde.
“As terapeutas do CERNE me ajudaram a saber como agir, a não repreender e sim
parabenizar. Vejo que ele está mais independente do que era”, comemora.
Outras dica é usar jogos e aplicativos
para a família que ensinam a ir ao banheiro, como “Pepi Play” e “Potty
Training”.
Desafios
As maiores dificuldades enfrentadas pelas crianças autistas
durante o desfralde costumam envolver quatro áreas: linguagem (entender o
estímulo do adulto relacionado à ida ao banheiro); vestuário (demora ou
incapacidade de retirar as roupas); o próprio medo de se sentar no vaso ou do
barulho da descarga; e o conhecimento do corpo (ele pode não perceber a roupa
molhada).
“Toda criança é capaz de sair das fraldas, desde que não haja uma
patologia urológica”, assegura Syomara. Além da independência proporcionada à
criança ou adolescente, o desfralde previne casos de infecção urinária, mau
cheiro e o desconforto do paciente. Outra vantagem é a menor quantidade de
laxante necessário para o bom funcionamento do organismo.
CERNE - Centro de Excelência em Recuperação
Neurológica
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