Estamos a alguns dias do segundo turno das eleições
que decidirão quem será o futuro presidente do nosso País.
Entre
as dezenas de propostas apresentadas em diversas áreas de extrema importância
para os brasileiros, algumas estão com o alerta vermelho ligado. O presidente
eleito, independentemente da sua bandeira partidária, não poderá tratar com
descaso a mudança climática que o nosso planeta vive. Ao nosso ver, este é o
maior desafio da humanidade neste século.
Contrariando
o que muitos pensam, isso não é apenas de uma preocupação ambiental. Trabalhar
pelo equilíbrio climático – seja em hábitos individuais, atitudes
organizacionais ou políticas públicas – é determinante para questões como
qualidade de vida, segurança alimentar, desenvolvimento econômico,
investimentos, infraestrutura, defesa civil e muitas outras.
Precisamos
correr contra o tempo. O clima está mudando e desafia o Brasil e todas as
nações a se adaptarem. Contudo, o tema vem sendo praticamente ignorado na
corrida presidencial e medidas extremas aventadas ao longo da campanha – como a
possibilidade de sairmos do Acordo de Paris e a desestruturação de órgãos e
mecanismos ambientais de extrema relevância para a conservação de nosso
patrimônio natural – podem colocar abaixo conquistas ambientais históricas.
O
Acordo de Paris é um instrumento de governança global extremamente importante
para o desenvolvimento econômico, social e ambiental que define medidas de
redução da emissão de gases de efeito estufa a partir de 2020 e estabelece
mecanismos para que todos os países limitem o aumento da temperatura global e
fortaleçam a defesa contra os impactos inevitáveis da mudança climática.
Abandonar o tratado seria ignorar todos esses benefícios e seguir os passos de
Donald Trump, que fez com que os Estados Unidos sejam o único país do mundo a
querer sair do acordo.
Caso
essas medidas se confirmem a partir de 2019, esta será uma das maiores, se não
a maior ameaça já vista ao patrimônio natural brasileiro desde a
redemocratização. Tal fato seria desastroso para a sociedade e para a economia.
O
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica, por exemplo,
que limitar o aquecimento global a 1,5°C reduziria impactos sobre ecossistemas,
saúde humana e bem-estar, tornando mais viável o alcance dos objetivos de
desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Decisões políticas não podem
simplesmente ignorar dados científicos.
O
Brasil é o País com a mais rica biodiversidade do mundo, um ativo primordial
para a qualidade de vida da nossa população, assim como, entre outras, para a
segurança hídrica, atividades agropecuárias e nossa resiliência a eventos
climáticos extremos cada vez mais frequentes. Um ambiente equilibrado é um
direito constitucional, um dever do Estado e uma condição básica para a
manutenção dos serviços ambientais essenciais para a nossa vida. Sem isso não
tem como haver prosperidade e qualidade de vida.
Se
quiser evitar um colapso do clima, o que impactaria severamente a nossa
civilização, a humanidade tem pouquíssimo tempo para revolucionar a economia,
fazendo com que a sociedade troque a economia fóssil e que destrói florestas
por uma sustentável e de baixo carbono. Independentemente de quem seja eleito
nosso novo presidente, precisamos de líderes comprometidos com essa
transformação urgente e de imenso impacto, cujas janelas de oportunidade estão
se fechando.
André
Ferretti - gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de
Proteção à Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.
Carlos
Rittl - membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e
secretário-executivo do Observatório do Clima.
Fonte: O DEBATE
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