Cientistas
da UNESP do Laboratório PASIQUIBAC na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de
Araraquara, liderados pelo Prof. Cristiano Gallina Moreira, publicaram o artigo
“Multilocus Sequence Typing of Salmonella Typhimurium reveals the
presence of the highly invasive ST313 in Brazil”, disponibilizado online no
último dia 10/3 na revista científica “Infection, Genetics and Evolution”.
O estudo
foi fruto da parceria com os cientistas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), sob a reponsabilidade da
Profa. Dra. Juliana Pfrimer Falcão, o Food and Drug Administration, dos Estados
Unidos, além do Instituto Adolfo Lutz de Ribeirão Preto e a Fundação Oswaldo
Cruz do Rio de Janeiro participaram com a cessão das linhagens.
O
trabalho revela de maneira inédita a presença de um subtipo mais invasivo e
mais resistente de Salmonella enterica sorovariedade Typhimurium no
Brasil até o momento somente descrito na literatura como existente na África
Subsaariana. De forma surpreendente para vários especialistas da área em demais
países. Ao contrário de outros subtipos de Salmonella Typhimurium, que
em humanos provocam gastroenterite, com febre, náuseas, vômito e diarreia, essa
variação da bactéria consegue quebrar a barreira do epitélio gastrointestinal e
disseminar-se na circulação sanguínea, provocando infecção sistêmica e
aumentando em 25% os casos de morte como relatado em estudos anteriores. “Este
novo relato é filogeneticamente extremamente interessante, porém muito
preocupante em termos de saúde pública”, avalia Cristiano.
A
pesquisa surgiu da tese de doutorado defendida por Fernanda de Almeida na USP
de Ribeirão Preto em 2016 e cada grupo de cientistas ficou responsável por uma
área. A equipe coordenada pela Professora Dra. Juliana Pfrimer Falcão reuniu e
identificou através de estudos moleculares as amostras, além de estudar a
epidemiologia das linhagens, contando também com a colaboração da aluna Amanda
A. Seribelli. O laboratório PASIQUIBAC da UNESP colaborou com um todo seu
conhecimento na área de patogenicidade bacteriana e sinalização química em
bactérias, onde o Professor Cristiano e o doutorando Patrick da Silva
pesquisaram a patogenicidade das bactérias, ou seja a capacidade que estas
novas linhagens tem em desenvolver seus mecanismos específicos pelos quais são
capazes de provocar doenças. “No caso específico do tipo clonal ST313 isto é
muito preocupante, devido a sua virulência descrita na literatura por
colaboradores nossos nos EUA e também agora pelo nosso grupo com amostras
isoladas aqui no Brasil”, o Professor Cristiano ainda acrescenta “Já temos
resultados preliminares com colaboradores de outras localidades do estado de
São Paulo, onde acreditamos que estas linhagens de ST313 estão disseminadas em
demais pacientes hospitalizados, o que é um problema muito sério”.
Outro
problema que o Prof. Cristiano aponta é sobre a dificuldade de se identificar o
subtipo no país, problema que para o grupo pode estar relacionado à não
obrigatoriedade de notificação de casos esporádicos de Salmonella no
Brasil, apesar de raramente serem reportados surtos alimentares pelas
autoridades competentes. Sem isso, há poucos dados disponíveis para análise e o
acesso a estes é muitas vezes difícil. “Muitos casos esporádicos infelizmente
passam desapercebidos, sem sua devida identificação e servem de alerta para a
sociedade, até mesmo despertando interesse de pesquisadores e especialistas da
área nos EUA e Europa sobre este importante relato aqui do Brasil”, alerta o
pesquisador.
A
pesquisa aponta ainda mais um problema, a falta de notificação. Segundo os
pesquisadores, é o uso indiscriminado de antibióticos de amplo espectro contra
diferentes linhagens e diferentes espécies bacterianas. Durante um período a
medicação funciona, mas, com o passar do tempo, os organismos unicelulares se
tornam resistentes e o remédio pode deixar de surtir efeito. Nesse cenário, a
situação sai do controle antes que os centros de pesquisa consigam concluir de
que forma a bactéria atua especificamente.
Os
pesquisadores do PASIQUIBAC pretendem agora realizar ensaios in vivo
para melhor compreender os mecanismos do ST313 no hospedeiro, e assim desvendar
nuances da relação patógeno-hospedeiro, desta forma maiores investimentos junto
às agências de fomento possibilitarão continuidade a estas pesquisas,
inicialmente a mesma foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) no Laboratório PASIQUIBAC, sob a
responsabilidade e coordenação do Prof. Cristiano G. Moreira, que finaliza
“Estamos sempre abertos a novas colaborações e dispostos a melhor entender
estes detalhes da patologia de enterobactérias, bem como estudar a prevalência
destas amostras bacterianas que apresentam risco à nossa sociedade”.
CRISTIANO GALLINA MOREIRA, PhD
Email: crismoreira@fcfar.unesp.br
http://www2.fcfar.unesp.br/#!/instituicao/departamentos/ciencias-biologicas/docentes/
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