Data comemorada em todo mundo como o Dia Mundial do
Meio Ambiente, o 5 de junho foi escolhido em 1972 para marcar o início da
primeira grande Conferencia da ONU sobre o Meio Ambiente, que ocorreu nesse ano
em Estocolmo, Suécia. Considerado um marco no debate ambiental global, o evento
criou o Programa nas Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) principal órgão
da governança global em matéria ambiental.
Mas o fato marcante dessa reunião é que, embora não
tenha sido convocada explicitamente para discutir o desenvolvimento, a
Conferência tornou-se um fórum de debates entre diferentes posições dos países
desenvolvidos e em desenvolvimento (estes na época denominados subdesenvolvidos
ou do terceiro mundo).
Os países desenvolvidos compareceram com propostas
de limitação do desenvolvimento econômico nos países subdesenvolvidos,
justificando com a necessidade de preservar o estoque de recursos naturais
existentes em termos globais. Os países do terceiro mundo por sua vez, atuando
em bloco, adotaram uma postura defensiva, argumentando que a questão ambiental
encobria na verdade uma ação das grandes potências para inviabilizar a expansão
do parque industrial dos países em vias de desenvolvimento.
O resultado da inesperada polarização foi a
formação de uma nova divisão entre as nações no sistema internacional baseada
na oposição entre os países ricos do norte e os pobres do sul, pois a que
prevalecia até então, dividia os países entre comunistas e capitalistas. Esse
novo panorama explicitava duas novas preocupações: o esgotamento dos recursos
naturais e a redistribuição de renda no planeta como forma de desenvolvimento
dos países do sul.
Por isso, no dia mundial do meio ambiente devemos
recordar que surgiu numa Conferencia que inaugurou um debate sobre a relação
entre crescimento econômico e meio ambiente que teve consequência, mais tarde,
na elaboração de uma nova proposta de desenvolvimento, o sustentável, que hoje
predomina em termos globais como perspectiva para a humanidade. Assim, a data,
além de comemorativa, deve servir para reflexão sobre os problemas ambientais
globais e a responsabilidade dos países desenvolvidos, que ainda persistem em
explorar de forma abusiva os recursos naturais dos países do Sul.
Há inúmeros exemplos dessa prática exploratória dos
países desenvolvidos. Diversos tipos de resíduos são despejados nos países em
desenvolvimento: lixo eletrônico na Nigéria, lixo naval em Bangladesh, baterias
de automóvel em inúmeros países que causam a morte de milhares de pessoas
contaminadas pelo chumbo. Esta última prática consiste no desmonte de baterias
sem proteção alguma, principalmente em Gana, Camarões, Quênia e Indonésia.
Somente nos países africanos são desmontadas anualmente um milhão e duzentas
mil baterias que vão abastecer de chumbo o mercado europeu.
Os países mais desenvolvidos destacam, muitas
vezes, a utilização de produtos ecológicos desconsiderando sua cadeia
produtiva. Um exemplo é o óleo de Palma, considerado combustível ecológico na
Europa, é extraído de plantações em áreas de florestas milenares derrubadas na
Indonésia e que serviam de refúgio para animais raros e ameaçados de extinção
como orangotangos, tigres e rinocerontes.
Retrocesso se observa também na população de
grandes e simbólicos animais dos países em desenvolvimento, onde elefantes,
rinocerontes, leões, tigres, onças entre muitos outros estão desaparecendo
ameaçados de extinção. Por outro lado, avanços devem ser registrados na Europa
e América do Norte, o lobo que estava quase extinto é encontrado atualmente na
maioria dos países, seguem o mesmo caminho, as populações de bisões, ursos
entre outros.
Passados mais de quarenta anos desde a Conferencia
de Estocolmo, a relação perversa entre desenvolvimento dos países do Norte e do
Sul permanece, acentuando-se em termos ecológicos com novas vertentes de
exploração, nada sutis, como tornar vários países em desenvolvimento em cloacas
do mundo.
Como reflexão, nesse dia devemos considerar que o
avanço rumo a padrões sustentáveis de desenvolvimento global passa
necessariamente pela resistência dos países em desenvolvimento ao
neocolonialismo ecológico promovido pelos países mais ricos. E que só a
superação da extrema pobreza permitirá avanços rumo a sustentabilidade.
Reinaldo Dias - professor da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, campus
Campinas. Doutor em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política
pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais
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