Ao contrário do que muito se afirma, não creio que a natureza dê
respostas após cada catástrofe de cunho ecológico. Claro, há reação, mas dentro
do mundo da física: a cada ação corresponde uma reação; a ações continuadas,
reações sucessivas. O problema fica grave quando a reação da natureza se torna,
ela mesma, uma ação que provoca outras reações, abrindo ações e reações em
cadeia.
Muitas pessoas ainda veem ecologia como coisa de preocupados com os
passarinhos. Não faltam oposições entre desenvolvimento e preservação, como se
fossem categorias oponíveis, quando são complementares. A solução do
desequilíbrio ecológico já não será alcançada com facilidade, mas isso não
retira a sua urgência, antes a pede. Os governos têm isso claro, mas não têm
sabido vencer a questão; mal a encaminham.
É lugar comum dizer que todos os reparos necessários para restabelecer
equilíbrio às condições do planeta se iniciam com a consciência do que vem
acontecendo. Tomo consciência como compreensão da abrangência do problema, e
fico em dúvida se a percepção circulante das causas da alteração do clima é a
mais adequada. Há pouca ciência nas explicações. Permitam-me contar um causo
vivido de corpo presente.
Éramos cinco em determinada casa de praia. Eu era o dono, os demais
prestavam serviço de jardinagem, limpeza, reparo etc. O dia de sol se foi
fechando com nuvens mais escuras e mais baixas do que o comum. Repentinamente,
uma ventania levantou a areia da praia e a fez entrar pelas portas e janelas que
encontrou. As pessoas corriam carregando crianças, ou ao encontro delas. A
coisa ficou mesmo feia.
A trovoada vinha de raios ao alcance da mão. A água caiu grossa e muita.
Se não o céu, com certeza o teto desabaria sobre nossas cabeças. Quem não
chegou à casa, meteu-se nalguma do caminho. Quem tinha criança esperando,
brigou com a chuva e seguiu. Os espetáculos da Terra. Gosto deles. Torço para
que não haja danos. É sem sentido. Tudo acontece à revelia de torcida. A
natureza não tem compromisso com nada nem com ninguém.
O que se pensa disso? Se o que eu ouvi servir de amostra, aí vai.
Enquanto o medo dava voz às nossas entranhas mentais, das pessoas comigo, uma
garantia que tudo era uma briga entre o seu deus e o seu diabo pela alma que
acreditava ter; outra disse que isso era bobagem, e que sempre choveu assim,
não havia atitude a tomar. Bateram boca. O determinista garantiu que se o
paranoico morresse ficava caído ali e ninguém iria querê-lo.
Uma terceira interveio e, com um sábio olhar blasé, explicou que tudo
era o orgulho humano que estava destruindo a obra do “senhor”. E que ficássemos
certos: ainda podia ser, mas sem humildade e orações não havia jeito de reparar
o tanto de mal já feito. Então, o apocalíptico: estava escrito, não havia mais
nada que fazer. Os desastres da terra eram o sinal do fim dos tempos, que em
breve se iria cumprir. Depois, silêncio.
Aí, alguém me apontou. O que eu achava? Bem, respondi para acorde geral:
É o que vocês disseram. Não vejo outra explicação: alguma limitação da natalidade,
um modo de produção menos agressivo, reflorestamento, vida urbana inteligente.
Eu não sei, mas tem gente pensando, estudando isso, propondo medidas. Enfim,
estou de acordo com vocês. E outra coisa, deu medo, mas foi bonito, não foi? Eu
gostei.
Léo Rosa de
Andrade
Doutor em Direito
pela UFSC.
Psicanalista e
Jornalista.