Especialista orienta sobre o que evitar e como preparar um
espaço que ajude na concentração e no bem-estar físico e psicológico
De acordo com uma
pesquisa da consultoria Betania Tanure Associados (BTA), divulgada
recentemente, 43% das empresas do Brasil estão com seus funcionários
trabalhando em casa, pelo menos durante a fase da pandemia do Coronavírus. Das
359 empresas entrevistadas, 60% delas adotaram o home office. Uma das
principais preocupações dos especialistas é a saúde mental das pessoas devido
ao isolamento social. Este mês, a revista científica The Lancet, publicou uma
revisão de artigos e estudos sobre os efeitos psicológicos da quarentena
durante a epidemia da SARS (Síndrome Respiratória Aguda), em 2002. O levantamento
apontou que 29% das pessoas apresentaram estresse pós-traumático (TEPT) e 31%
tiveram depressão após o isolamento.
Uma outra
pesquisa, também publicada na The Lancet, e realizada na Califórnia (Estados
Unidos) com 398 adultos, analisou o comportamento psicossocial das crianças e
pais diante de desastres de pandemia. Todos os entrevistados passaram por
momento de reclusão e a pesquisa mostra que 30% das crianças apresentaram
sintomas de estresse pós-traumático (TEPT) e 25% dos pais também passaram ela
mesma situação, resultando no aumento de quadros de depressão. Dentre os
principais sentimentos relatados estavam o medo (20%), o nervosismo (18%) e a
tristeza (18%).
“Precisamos ter
consciência de que somos impactados pelos ambientes que frequentamos, principalmente,
por meio dos nossos sentidos. Consequentemente isso vai influenciar no nosso
comportamento. Podemos, por exemplo, criar sensações agradáveis por meio da
decoração, para que as pessoas da nossa casa sintam-se acolhidas nesses
ambientes, bem como usar um aromatizador relacionado com a natureza, pisar na
grama e ouvir músicas que te façam sentir mais calmo”, explica Priscilla
Bencke, especialista em neurociência aplicada à arquitetura da Qualidade
Corporativa.
De acordo com
Priscilla, vale inclusive preparar ambientes e situações dentro de casa que
proporcionem memórias positivas para a família, apesar de ser um cenário de
muita dificuldade. “Há um tempo foi realizada uma pesquisa pelo Happiness
Research Institute, da Dinamarca, no qual pediu-se às pessoas para descreverem
uma memória feliz. E nas respostas identificou-se padrões em quase todas elas,
como 62% terem ligação direta com aspectos multissensoriais e 56% emocionais.
Essa fase da quarentena vai ficar marcada na memória das pessoas, mas a decisão
sobre como isso vai ser lembrado depende da emoção que cada um de nós vai dar
para esses momentos em família. Se conseguirmos oferecer espaços
multissensoriais em casa, por exemplo, podemos trabalhar isso de forma
estratégia e contribuir com a formação de memórias positivas”, explica.
Natureza e a
iluminação natural
A necessidade de qualquer ser humano é a conexão
com a natureza. Pesquisa da Human Spaces comprova que distribuir folhagens e
plantas próximas ao espaço de trabalho aumenta em 15% a sensação de bem-estar,
15% a criatividade e 6% a produtividade. A vegetação pode ser criada
virtualmente através de imagens, quadros, telas com projeções de imagens ou
revestimentos que simulam madeira, pedras e plantas. Além de ser econômico é
bem fácil de aplicar no ambiente”, evidencia a arquiteta.
Outro detalhe
importante é sobre quem permanece muito tempo em ambientes fechados com
ausência de luz natural. Segundo Priscilla Bencke, ficar por longos períodos
nesses locais faz com que a pessoa não perceba o passar do dia,
desconectando-se do seu relógio biológico. Como resultado pode haver uma
dificuldade maior na hora de descansar ou dormir, ocorrendo a temida insônia e
que impacta diretamente na produtividade e na saúde. Janelas com vista para a
‘natureza’ ajudam nesse ponto e contribuem, inclusive, para diminuir a
frequência cardíaca e reduzir as questões de estresse.
Ergonomia
“Um dos problemas
é não se atentar ainda aos limites físicos, como os de postura, e até mesmo
psíquicos, transformando o excesso de trabalho em estresse, bem como muitas
horas na mesma posição”, alerta a arquiteta. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), 40% das dores lombares resultam em problemas mais sérios causando
incapacidade funcional e diminuição da produtividade.
Apesar de ser um
home office temporário - para muitos - é fundamental alguns cuidados. “O ideal
para um ambiente de trabalho home office é escolher cadeiras que possuem pelo
menos três funções básicas: regulagens de alturas do assento e do braço, além
de encosto com o apoio para a lombar. Caso a pessoa não tenha esse tipo de
cadeira em casa ela pode escolher um assento que permita encostar a lombar na
cadeira e deixar a coluna reta. E, de preferência, que tenha apoio para os
braços”, indica a arquiteta Priscilla Bencke.
Outra dica é para
a maioria dos profissionais que trabalha em casa e utiliza o notebook. “Muitas
horas de trabalho podem causar desconfortos físicos. Para evitar que esses
problemas influenciem na qualidade de vida acrescente um suporte para notebook
com mouse e teclado externo. Dessa forma, vai ser possível trabalhar numa
postura adequada sem queixas e com mais produtividade. Quem não tem o suporte
para notebook pode utilizar temporariamente livros para criar uma altura que
deixe o notebook na direção dos olhos, permitindo uma postura correta”,
aconselha Priscilla.
Home office x higienização das superfícies contra o Coronavírus
Segundo Caroline
Berg, otorrinolaringologista, em decorrência do atual cenário do Coronavírus,
alguns cuidados são fundamentais para manter a saúde no espaço de trabalho em
casa. “Higienização das mãos, de preferência, com água e sabão. Nas
superfícies, use pano embebido em álcool gel, pois ele não evapora tão rápido.
Máscara só deve ser usada por quem está doente. E evite colocar a mão no rosto.
O uso somente da luva, sem o cuidado das roupas, dos óculos, do cabelo, não
adianta em nada”, destaca a médica.
Segundo estudo,
publicado pela revista científica "The New England Journal of
Medicine", o novo coronavírus chega a permanecer por longos períodos em
superfícies como plástico (até 72 horas); aço inoxidável (48 horas); papelão
(24 horas); alumínio e o cobre, como as moedas (cerca de quatro horas); vidro
(até quatro dias). A recomendação, portanto, é que de acordo com os estudos que
estão sendo feitos, o coronavírus pode ser inativado em um minuto se for feita
a higienização correta das superfícies, usando álcool em gel 70% ou 0,5% de
água oxigenada, ou ainda água sanitária contendo 0,1%
de hipoclorito de sódio. Todos são produtos de limpeza doméstica comuns e podem
ser encontrados no supermercado.
Outra orientação
do Ministério da Saúde é sobre o cuidado ao andar de elevador. É preciso
atenção ao apertar botões, e deve-se entrar uma pessoa de cada vez. Ao fazer
aquela saída rápida para ir à farmácia ou supermercado, não ligue o ar
condicionado e ande com as janelas abertas. Esta dica vale, inclusive, para as
janelas da casa, que devem permanecer abertas o maior tempo possível para
ventilar a casa. O órgão do governo recomenda ainda que as pessoas mantenham
distância de até um metro (cerca de 3 passos).
Para concluir,
Priscilla compartilha maios algumas dicas. “Primeiro de tudo, procure um local
reservado na casa que ajude a evitar distrações, inclusive em relação a
celulares e redes sociais. Se for possível combine com a família de ser
interrompido somente em casos de emergência. Vale até mesmo adotar um visual
mais “formal”, como se você estivesse no trabalho, para que todos entendam que
você está num momento que exige tranquilidade e concentração. Além disso,
invista em espaços de descompressão, como a sala, a cozinha ou outros ambientes
compartilhados da casa, para ir durante os intervalos e para que possa
interagir com a família.
Priscilla Bencke é arquiteta certificada em Neuroscience for
Architecture (EUA), especialista em projetos para Ambientes de Trabalho,
consultora internacional de Qualidade em Escritórios pela instituição alemã
Mensch&Büro die Akademie, pós-graduanda em Neurociências e comportamento
pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/RS), pós-graduada em Arquitetura de
Interiores pela UniRitter Laureate International Universities e graduada em
Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
É responsável pela “Bencke Arquitetura” e “Qualidade Corporativa: Smart
Workplaces”, sendo pioneira na aplicação do conceito em projetos de
“escritórios inteligentes”. No Brasil, tem realizado cursos e formações de
profissionais, sendo a única representante da Mensch&Büro die Akademie na
América. Já esteve presente em conferências como Orgatec New Visions of Work,
na Alemanha; Worktech, em São Paulo, e a ANFA Conference (Academy of
Neuroscience for Architecture), nos EUA, onde recebeu a oportunidade de expor o
trabalho realizado no Brasil sobre os grupos que organiza para debater a
neuroarquitetura.