Por hora, 13 crianças são internadas no Brasil
vítimas de acidentes
Um levantamento exclusivo realizado pela Aldeias Infantis SOS,
organização global que lidera o maior movimento de cuidado do mundo, mostra
que, em 2023, os acidentes envolvendo crianças e adolescentes no Brasil
cresceram quase 8% na comparação com o ano anterior, sendo o maior número desde
2019, período pré-pandemia. No total, foram registradas 119.245 internações
causadas por lesões não intencionais, entre as faixas etárias de 0 a 14 anos,
contra 109.988 registros em 2022.
O
estudo, elaborado com dados do DataSUS, é desenvolvido pelo Instituto Bem
Cuidar, programa de gestão de conhecimento da Aldeias Infantis SOS, que
analisou oito categorias de causas de acidentes. Destas, sete apontaram
crescimento nas hospitalizações, com destaque para sufocação (+ 11,24%) e
quedas (+ 10,33%). As outras causas em alta foram queimadura (+ 7,38%),
afogamento (+ 5,78%), sinistros de trânsito (+ 5,13%) e armas de fogo (+
3,16%).
Somente
acidentes causados por intoxicação apresentaram uma ligeira queda (- 0,14%) no
comparativo com o ano anterior: em 2023, foram 3.673 internações contra 3.678
em 2022.
“O
quadro desenhado pelo levantamento é bastante desanimador, visto que
acompanhávamos uma melhora, ainda que tímida, no cenário geral em 2022.
Analisando os indicadores em separado, também constatamos que casos de
acidentes causados por afogamentos e queimaduras pioraram. Só neste último, o
salto foi de impressionantes 7,38%”, explica Erika Tonelli, especialista em
Entornos Seguros e Protetores da Aldeias Infantis SOS.
Segundo cálculo da
Organização, a cada hora, cerca de 13 crianças são internadas por lesões não
intencionais, sendo que 90% dos acidentes poderiam ser evitados por meio de
ações simples de prevenção e cuidado qualificado.
Queda e
sufocação
As hospitalizações
por conta de acidentes envolvendo queda concentraram 45% do total de
ocorrências. O dado é mais que o dobro da segunda principal causa de
internações por acidentes, as queimaduras, que representaram 20% dos registros
totais. A terceira principal causa foi sinistros de trânsito, respondendo por
10% das ocorrências.
Repetindo
o padrão observado em 2022, as crianças e adolescentes que mais sofreram
hospitalizações por causa de acidentes, em 2023, tinham de 10 a 14 anos (36%) e
seguidas por 5 e 9 anos (35%). Por último, estão as crianças de 1 a 4 anos
(24%) e as menores de 1 ano (5%).
Por
outro lado, o levantamento da Organização mostra que, no grupo de 5 a 9 anos,
houve a maior variação no aumento de acidentes – foram 4.061 novos registros de
internações, ou um aumento de 9,8% em relação ao ano de 2022. Destacam-se os
casos de queda (+38%), queimadura (+32%) e intoxicação (+31%).
“O
período que vai dos 5 aos 14 anos é de maior autonomia e circulação pelos
espaços comunitários e, na população que apresenta maior vulnerabilidade
social, meninos e meninas dessa faixa etária são, muitas vezes, responsáveis
pelo cuidado de irmãos e irmãs menores, fato este que os deixa mais propensos a
acidentes. Deve-se atentar à necessidade de campanhas de conscientização da
população sobre medidas de prevenção de acidentes também nessas faixas
etárias”, destaca a especialista.
Após
uma queda de 6,3% nas internações de crianças e jovens na faixa etária entre 1
e 4 anos, de 2021 para 2022, houve um aumento equivalente no intervalo entre
2022 e 2023, com destaque para casos de afogamento (+76%), sufocação (+52%) e
intoxicação (+36%). Sufocação também teve destaque nos casos que atingiram
crianças menores de um ano, com aumento de 9%. Nessa faixa, ainda tiveram alta
casos de queimadura (+7%), quedas (+5%) e intoxicação (+5%).
“No
aumento dos casos de sufocação ou engasgo, a hipótese é que, durante a fase de
aleitamento e da introdução alimentar, o uso de telas nas horas das refeições
ou realização da alimentação em movimento não permita a correta mastigação. É
importante destacar a necessidade de conhecimentos de primeiros socorros pelos
cuidadores, educadores e familiares, além das medidas de prevenção de
acidentes”, finaliza Erika.
Mortes por acidentes
Entre
2021 e 2022, o levantamento observou uma queda de 1%
no número de mortes de crianças e adolescentes causadas por acidentes, passando
de 3.275 para 3.237. O maior número de óbitos se deu entre crianças de 1 a 4
anos (31%). A principal causa foi sufocação, responsável por 986 casos -
desses, 765 (77%) envolveram menores de 1 ano.
De acordo com a Aldeias Infantis SOS, essa é a primeira vez que
sinistros de trânsito não são a principal causa de óbito, visto que sufocação
ultrapassa em números de casos e de óbito de lesões não intencionais com 31% da
totalidade. No todo, os dados de 2022 indicam que nove crianças morrem todos os
dias por causas de acidentes que poderiam ser evitados em 90% dos casos.
Sobre o Instituto Bem Cuidar
O
Instituto Bem Cuidar (IBC) é um programa das Aldeias Infantis SOS responsável
pela gestão de conhecimento e que tem o compromisso realizar consultorias,
assessorias, diagnósticos e pesquisas, para a própria organização ou ainda
atender demandas de conselhos, governos ou empresas. O
instituto promove a proteção e o cuidado de qualidade à infância e juventude por
meio da produção, promoção e distribuição de conteúdo digital educativo, além
de favorecer a troca de experiências, o aprimoramento e a difusão de boas
práticas de cuidado de crianças e adolescentes, por meio de ações formativas,
sistematização e produção de conteúdo. Além
disso, o Instituto Bem Cuidar dissemina práticas de prevenção de acidentes por
meio do Projeto Criança Segura, que apresenta anualmente, entre outros
resultados, as estatísticas sobre os principais fatores que levam a internação
de crianças e adolescentes.
Para
saber mais: www.institutobemcuidar.org.br
Sobre a Aldeias Infantis SOS
A Aldeias Infantis SOS (SOS Children’s Villages) é
uma organização global, de incidência local, que atua no cuidado e proteção de
crianças, adolescentes, jovens e suas famílias. A Organização lidera o maior
movimento de cuidado do mundo e atua junto a meninos e meninas que perderam o
cuidado parental ou estão em risco de perdê-lo, além de desenvolver ações
humanitárias. Fundada na Áustria, em 1949, está presente em mais de 130 países.
No Brasil, atua há 57 anos e mantém mais de 80 projetos, em cerca de 30
localidades de Norte ao Sul do país. Ao trabalhar junto com famílias em risco
de se separar e fornecer cuidados alternativos para crianças e jovens que
perderam o cuidado parental, a Aldeias Infantis SOS luta para que nenhuma
criança cresça sozinha.
Para mais informações, acesse o site: www.aldeiasinfantis.org.br/