“A
osteoporose é uma doença muito negligenciada”
Pessoas
com diabetes tipo 2 são mais propensas a fraturas
“Durante décadas,
o diabetes mellitus tipo 2 (DM2) não estava incluído entre as doenças
associadas à fragilidade óssea. Em grande parte, isso se devia ao fato de que a
massa óssea, o principal parâmetro clínico para diagnóstico de osteoporose,
estar preservada ou até mesmo aumentada nesta condição. Nas últimas décadas,
diversas evidências desmistificaram essa ideia: não só existem dados
constatando aumento de fratura nesta população, como avanços têm sido
alcançados no conhecimento sobre alterações qualitativas em diversos níveis da
estrutura óssea, algumas tendo relação direta ou indireta com o descontrole
metabólico. É um grande desafio conscientizar os mais diversos agentes da saúde
que a osteoporose é mais uma complicação associada a esta doença metabólica e
que tem configuração pandêmica”, conta Dr. Francisco José Albuquerque de Paula,
endocrinologista ex-presidente da Associação
Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo – ABRASSO.
O
aumento da fragilidade óssea em pacientes com diabetes tipo 2 pode estar ligado
a vários fatores. Exames de imagem
mais sensíveis como a tomografia computadorizada quantitativa periférica de
alta resolução (HRpQCT) têm permitido detectar a presença de porosidade
cortical em ossos longos. Já a versátil técnica de ressonância magnética foi
utilizada para mostrar que a composição de lipídios em adipócitos da medula
óssea está associada a maior risco de fratura. Indivíduos com DM2 com fratura
apresentam menor quantidade de lipídios insaturados e maior de saturados que
seus pares com glicose normal. Em nível molecular, modificações
estruturais do colágeno parecem que podem ser causadas pelo
acúmulo de produtos finais de glicação avançada.
O diabetes
mellitus tipo 2 predispõe a uma série de complicações: as clássicas
macroangiopáticas (infarto, AVC, obstrução da circulação periférica) e
microangiopáticas (nefropatia, retinopatia e neuropatia). Tais complicações e
as alterações no metabolismo de glicose, lipídios e proteínas comprometem a
manutenção da massa muscular. “Sob este aspecto, vários estudos
mostram comprometimento muscular na pessoa com DM2. A combinação
de prejuízo muscular e ósseo é a senha para que outra combinação apareça como
queda e fratura”, pontua o endocrinologista.
Outro aspecto que
não pode ser esquecido é a influência que o tratamento do diabetes mellitus
pode exercer sobre o metabolismo ósseo e a suscetibilidade à fratura. As
tiazolidenedionas aumentam a adipogênese da medula óssea, levam a queda na
massa óssea e a maior risco de fratura. Entre os medicamentos mais recentes, um estudo
sugeriu que a canagliflozina pode se associar a maior risco de fratura.
Mais estudos serão necessários para esclarecer esta associação. O uso da insulina
também se mostrou associado à fratura. Todo o conhecimento sobre a influência
da insulina sobre o osso indica que, a princípio, a insulina tem efeito benéfico,
estimulando a formação óssea e exercendo atividade positiva sobre os
osteoblastos, que são as células formadoras de osso. No entanto, como a
insulina pode eventualmente levar à hipoglicemia e esta, por sua vez, provocar
queda, esse pode ser o motivo pelo qual o uso de insulina traz maior risco de
fratura.
“É fundamental
destacar que a osteoporose, em geral, é uma doença muito negligenciada,
mesmo para pessoas que têm muito alto risco de fraturas, incluindo aquelas que
já tiveram uma fratura por fragilidade óssea. Quando se trata de uma doença
altamente prevalente como o diabetes mellitus tipo 2, e o principal parâmetro
de avaliação de osteoporose, que é a massa óssea, não está, em geral,
prejudicado, a negligência na avaliação e tratamento da osteoporose e na
prevenção de fraturas entre essas pessoas é ainda maior” alerta Dr. Francisco
José. Nos últimos anos, algoritmos foram elaborados para melhorar a avaliação e
auxiliar na indicação de tratamento da osteoporose no DM2
O
ponto principal que se destaca é a importância de cuidar da saúde óssea em
pacientes com DM2. Desde o início,
é essencial orientar as pessoas sobre a importância de uma alimentação saudável
não apenas para o controle metabólico de glicose e lipídios, mas também para
preservar a saúde óssea. O tipo de exercício que mais ajuda a manter a massa
óssea deve ser orientado, assim como uma alimentação correta em relação ao
conteúdo de cálcio, níveis de vitamina D dentro do normal e quantidade adequada
de proteína na dieta. É necessário considerar que os medicamentos disponíveis
para o tratamento da osteoporose são eficazes na promoção de aumento de massa
óssea nos indivíduos com DM2.
Todos esses
aspectos devem receber uma orientação cuidadosa por parte dos profissionais de
saúde para os pacientes com essa doença grave, que quando associada à
osteoporose, pode resultar em um prejuízo significativo na qualidade de vida.
“Portanto, é essencial não negligenciar a saúde óssea de pessoas com diabetes
mellitus, em particular do tipo 2, uma doença altamente prevalente na nossa
população”, finaliza o médico.
“Novas
Recomendações do Tratamento da Doença Óssea no Diabetes Mellitus Tipos 1 e 2” é
um dos temas do 11º BRADOO, o Congresso Brasileiro de Densitometria,
Osteoporose e Osteometabolismo, que será realizado de 21 a 24 de agosto em
Brasília.
ABRASSO
- Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo
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11º BRADOO
Congresso Brasileiro de Densitometria, Osteoporose e
Osteometabolismo
21 a
24 de agosto
Local:
CICB - Centro Internacional de Convenções do Brasil
Endereço:
St. de Clubes Esportivos Sul Trecho 2 Conjunto 63, Lote 50 - Asa Sul, Brasília
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