Ao menos 32 mil brasileiras recebem, anualmente, o diagnóstico de algum câncer ginecológico. O mais comum deles, de colo do útero, pode ser evitado com vacina contra HPV e exame de Papanicolau. Conscientizar a população sobre como prevenir os tumores ginecológicos é a principal missão do EVA, grupo multidisciplinar responsável pela campanha Setembro em Flor, que busca somar na busca pela prevenção e divulgação de informações sobre os cânceres ginecológicos e que traz como madrinha a atriz Marieta Severo. Dentre as atividades deste ano, está a projeção da Campanha Setembro em Flor, em Brasília, e também parcerias com hospitais e instituições para promover a campanha
A campanha Setembro em Flor, de conscientização
sobre câncer ginecológico, criada pelo Grupo Brasileiro de Tumores
Ginecológicos (EVA) ganhou um reforço importante em 2023: a atriz Marieta
Severo se torna a madrinha da iniciativa que alerta sobre prevenção e acesso ao
diagnóstico e tratamento de câncer de colo do útero, ovário, endométrio e
outros tumores do aparelho reprodutor feminino.
Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA)
apontam para 704 mil novos casos de câncer por ano no Brasil até
2025. O câncer ginecológico é um dos mais incidentes nas mulheres, sendo que os
três órgãos do sistema reprodutor feminino mais acometidos por tumores malignos
são os de colo do útero, ovário e corpo do útero (endométrio), que somam 32,1 mil
novos casos anuais, o que representa 13,2% de
todos os casos de câncer diagnosticados nas brasileiras.
Do total de mulheres do país que recebem,
anualmente, o diagnóstico de algum câncer ginecológico, a maioria apresenta
tumores de colo do útero: são 17.010 novos casos previstos para 2023. Em
seguida está o corpo do útero (endométrio) com 7.840 casos, seguido por câncer
de ovário com 7.310 casos. O câncer de ovário é o tipo de tumor mais mortal e
frequentemente descoberto em estágio avançado. Outros dois tipos, câncer de vulva
e vagina, também entram nesse grupo, mas para eles não há dados nacionais
oficiais de novos casos/ano.
Dentre as atividades da programação do Setembro em
Flor deste ano, cujo tema será “Diversidade, inclusão e a busca por equidade na
assistência à paciente com câncer ginecológico”, haverá o Fórum
de Conscientização do Câncer Ginecológico e a busca por mudanças de políticas
públicas. O evento ocorre no dia 12 de setembro, no Salão Nobre da Câmara dos
Deputados, em Brasília. Ao final, o destaque para uma projeção, com cores da
campanha.
Campanha Setembro em Flor – A campanha que marca o mês de conscientização do câncer ginecológico foi
criada em 2021 pela oncologista clínica Andréa Paiva Gadêlha Guimarães,
diretora do EVA e coordenadora de Advocacy. A ação surgiu de uma carência de
conhecimento da população brasileira sobre os tipos de cânceres que acometem o
aparelho reprodutor feminino: câncer de colo de útero, ovário, endométrio,
vagina e vulva. Durante as atividades, que ocorrem anualmente em setembro, o foco
é conscientizar a população feminina sobre os sintomas e formas de prevenção.
“A maior conquista da campanha foi a criação de um
canal para falarmos de câncer ginecológico em todos os seus aspectos. Trouxemos
conscientização, alerta sobre sinais e sintomas dos cânceres ginecológicos para
diagnóstico precoce, novas formas de diagnóstico e tratamento, utilizando
diversos canais de comunicação, como redes socais com divulgação de posts, além
da realização de lives com médicos, profissionais e agentes de saúde e
parceiros”, reflete Andréa Paiva Gadêlha Guimarães.
A mobilização para prevenção e diagnóstico são
fundamentais. A oncologista clínica e vice-presidente do EVA, Graziela Zibetti
Dal Molin explica que para evitar o câncer de colo de útero é muito importante
o acesso e a adesão das mulheres ao exame de Papanicolau e à vacinação contra o
papilomavírus humano (HPV). “Sabemos que a principal causa do câncer de colo do
útero pode ser atribuída ao vírus HPV (vírus do papiloma humano), até hoje
amplamente reconhecido como um fator necessário para o desenvolvimento do
câncer invasivo”, explica.
Tanto o exame quanto a imunização estão disponíveis
na rede pública. Como muitos desses cânceres acabam sendo silenciosos, é válida
a atenção e conscientização para um rastreio controlado através de rotina de
exames das mulheres. Nesse sentindo, promover educação e ensino em câncer
ginecológico é um dos focos do grupo que busca trabalhar em parceria com outras
associações para unir esforços da entidade, dos médicos e das sociedades
médicas para evolução do tratamento de câncer ginecológico.
VACINA CONTRA O HPV - O papilomavírus humano (HPV) é um vírus que pode causar câncer do colo
de útero e verrugas genitais. Geram lesões benignas, pré-invasivas ou
invasivas, como o câncer de colo do útero (responsável por 99,7% dos casos) e
outros tipos de câncer de órgãos genitais. Outro dado aponta que 80% da
população sexualmente ativa contrai a infecção pelo HPV pelo menos uma vez na
vida.
A vacinação contra o HPV é um dos grandes aliados
para o controle dessa doença. No Brasil, o Programa Nacional de Imunização
(PNI) disponibiliza gratuitamente a vacinação desde 2014, sendo indicada para
meninas e meninos de 9 a 14 anos, homens e mulheres até os 45 anos que vivem
com HIV/AIDS, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e vítimas de
violência sexual. A Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira
de Imunizações (SBIm) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (Febrasgo) também recomendam a vacinação de mulheres de 9 a 45 anos
e homens de 9 a 26 anos, o mais precoce possível.
Mesmo que as vacinas sejam as mais estudadas do
ponto de vista de eficácia e segurança, a adesão no Brasil é baixa, longe do
ideal de 80% de imunização. Em 2020, 55% das meninas brasileiras de 9 a 14 anos
tomaram as duas doses da vacina. Entre os meninos de 11 a 14 anos, a taxa dos
que completaram o ciclo vacinal foi de apenas 36,4%. Em razão da baixa adesão
às campanhas de vacinação contra HPV e gargalos no acesso ao exame Papanicolau,
o Brasil apresenta alta incidência e mortalidade por câncer de colo do útero:
6,5 mil morrem pela doença todos os anos. No mundo, segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), são mais de 331 mil mulheres mortas em decorrência da doença.
Embora o câncer do colo do útero tenha diminuído em
muitas regiões do mundo nas últimas três décadas – particularmente na América
Latina, Ásia, Europa Ocidental e América do Norte – os números continuam altos
em muitos países de baixa e média renda. Por exemplo, a prevalência de câncer
de colo do útero no Rio Grande do Sul - a menor prevalência do país, é de 7,1.
Mas em comparação com a Argélia, país de menor IDH, são 7,9 mortes pela doença
para cada 100 mil mulheres. O maior impacto da falta de acesso se dá no
Comores, quarto menor país africano em área territorial, que registra 38,8
casos para cada 100 mil mulheres. Por lá, cerca de 30% delas tornam-se noivas
na infância. Em seguida está a Bolívia, que registra 36,6 casos para cada 100
mil bolivianas.
Como descrito, o desenvolvimento de programas
eficazes de vacinação e triagem contra o HPV tornou o câncer do colo do útero
uma doença amplamente evitável. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
anunciou uma meta para acelerar a eliminação do câncer do colo do útero como um
problema de saúde pública, a fim de reduzir a incidência abaixo do limiar de
quatro casos por 100 mil mulheres por ano em todos os países até 2030.
A Fundação do Câncer aponta que 65,8% das mulheres
com câncer de colo do útero esperam mais de 60 dias para conseguir iniciar o
tratamento, sendo, portanto, impactadas pelo não cumprimento da Lei dos 60
dias. Gargalos nas regiões do país apontam diferenças. Por exemplo, o Norte tem
o maior número de casos de câncer de colo de útero, com 76 novos casos a cada
100 mil mulheres. Além disso, a região Norte apresenta ainda o maior número de
mortes em decorrência da doença em todas as faixas etárias. Outro dado da pesquisa
é que os maiores percentuais da lesão do HPV que pode virar câncer são em
mulheres com nenhuma escolaridade ou com ensino fundamental incompleto, com
destaque para o Nordeste (55%).
Além disso, 61,6% das mulheres com o câncer de colo
de útero possuem baixo grau de escolaridade (nenhuma instrução ou ensino
fundamental incompleto). Também foi constatado que tanto o câncer em si quanto
a lesão precursora da doença acometem mais mulheres negras (pretas e pardas) em
quatro das cinco regiões do Brasil, com, respectivamente, 64,3% e 62,7%.
O estudo EVITA do grupo EVA em parceria com o LACOG
explica os motivos da baixa procura pelo exame Papanicolau: falta de vontade em
46,9%, vergonha ou constrangimento em 19,7%, e falta de conhecimento em 19,7%.
Além disso, a pesquisa aponta outras questões como disparidades sociais, menor
renda, nível educacional e parceiro estável. Dados que reafirmam a importância
da conscientização sobre o tratamento precoce. Em outra pesquisa, a
vice-presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA), Graziela
Zibetti Dal Molin, está desenvolvendo, junto com o LACOG, o estudo EVITA LATAM,
um retrato epidemiológico de câncer de colo do útero que inclui outros países
da América Latina para entender a prevalência de vacinação do HPV, as fases da
doença e os tipos de tratamento.
PRECISAMOS FALAR TAMBÉM SOBRE OS OUTROS TUMORES GINECOLÓGICOS
O câncer de ovário, com 7.310 novos casos anuais no
país, é o terceiro tumor ginecológico mais comum e é o que apresenta a menor
taxa de sobrevivência entre os cânceres femininos. “É chamado de tumor
silencioso, por não apresentar sintomas específicos e pela ausência de métodos
eficazes de rastreamento”, explica o presidente do EVA, Glauco
Baiocchi Neto. Ainda segundo o especialista, alterações
genéticas podem estar presentes em 25% das pacientes com câncer de ovário e a
história familiar de câncer de mama e ovário devem sempre ser sinais de alerta.
“Os testes genéticos tornam-se importantes ferramentas não só para definição de
tratamento, mas para aconselhamento genético aos familiares”, acrescenta.
Os cânceres de vulva e vagina são tumores mais
raros e que também possuem associação com infecção por HPV como fator causal. A
vacina contra o HPV e o exame ginecológico de rotina são os pilares para
prevenção e diagnóstico desses tumores em fases iniciais.
Apesar dos avanços em prevenção e tratamento, a
taxa de mortalidade no Brasil não tem diminuído satisfatoriamente devido a
diagnósticos com doença avançada e atraso para início do tratamento, conforme
estudo recente de membros do grupo EVA.
Sintomas de tumores
ginecológicos
Embora muitos tumores se apresentem de forma
assintomática, principalmente nos estágios iniciais, a maioria se desenvolve
com os seguintes sintomas:
Sangramento vaginal fora do
ciclo menstrual;
Sangramento vaginal na menopausa;
Sangramento vaginal após a relação sexual;
Corrimento vaginal incomum;
Dor pélvica;
Dor abdominal;
Dor nas costas;
Dor durante a relação sexual;
Abdômen inchado;
Necessidade frequente de urinar.
Diagnóstico de câncer
ginecológico - Em caso de suspeita de câncer ginecológico, é
necessário realizar uma série de exames minuciosos para definir o histórico
correto da paciente e chegar ao diagnóstico preciso, tais como:
Ultrassom;
Radiografia;
Tomografia computadorizada;
Ressonância magnética;
Tomografia por emissão de pósitrons;
Após esses exames é fundamental que seja feita uma biópsia para
confirmar o diagnóstico.
Além disso, é essencial avaliar a natureza do
tumor. O sistema de estadiamento varia, mas geralmente essas neoplasias são
classificadas em quatro níveis diferentes, desde o inicial (Estágio I) até o
mais avançado (Estágio IV).
Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA)
www.eva.org.br
Referência
1 - Instituto Nacional do Câncer: Estatísticas 2023. https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/estimativa-2023-incidencia-de-cancer-no-brasil
2 - Fundação do Câncer: Um retrato do câncer de colo do útero no Brasil. https://www.cancer.org.br/wp-content/uploads/2022/11/info_oncollect_ed-01.pdf
3 - Global Cancer Observatory https://gco.iarc.fr/