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quinta-feira, 17 de março de 2022

Estudo revela como o desequilíbrio da microbiota intestinal pode levar à doença de Parkinson

Agregados de ɑ-sinucleína em células intestinais. A imagem de microscopia confocal mostra uma célula enteroendócrina, com núcleo celular em azul, citoesqueleto de actina marcado em verde e agregados citoplasmáticos da proteína ɑ-sinucleína (crédito: Matheus de Castro Fonseca/CNPEM)

 

Há evidências crescentes de que a microbiota intestinal pode influenciar no desenvolvimento e na progressão de distúrbios neurodegenerativos. Dois estudos recentemente publicados por pesquisadores brasileiros não só reforçam essa hipótese como descrevem o mecanismo pelo qual a disbiose – como é chamado o desequilíbrio entre espécies bacterianas patogênicas e benéficas no intestino – pode favorecer o surgimento da doença de Parkinson.

A investigação foi conduzida com apoio da FAPESP por pesquisadores ligados ao Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), que integra o complexo do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas. Parte dos resultados foi publicada em fevereiro, no periódico iScience. O segundo artigo foi divulgado este mês na revista Scientific Reports.

“Estudos têm mostrado que o diagnóstico da doença de Parkinson ocorre tardiamente. E que o distúrbio pode se originar muito mais cedo no sistema nervoso entérico [que controla a motilidade gastrointestinal], antes de avançar para o cérebro por meio das fibras autonômicas”, diz à Agência FAPESP Matheus de Castro Fonseca, coordenador da pesquisa.

De fato, vários trabalhos recentes relataram consistentemente a existência de disbiose intestinal em portadores de Parkinson esporádico (casos em que não há um fator genético envolvido), reportando uma maior abundância da espécie bacteriana Akkermansia muciniphila em amostras fecais desses pacientes, quando comparados ao grupo-controle.

“Foi recentemente descrito que células específicas do epitélio intestinal, chamadas de células enteroendócrinas, possuem muitas propriedades semelhantes às dos neurônios, incluindo a expressão da proteína α-sinucleína [αSyn], cuja agregação está sabidamente relacionada com a doença de Parkinson e com outras doenças neurodegenerativas. Por estarem em contato direto com o lúmen intestinal – isto é, o espaço interior dos intestinos – e se conectarem por sinapse com os neurônios entéricos, as células enteroendócrinas formam um circuito neural entre o trato gastrointestinal e o sistema nervoso entérico, sendo assim um possível ator-chave no surgimento da doença de Parkinson no intestino”, informa Fonseca, que atualmente realiza uma pesquisa de pós-doutorado sobre o tema no California Institute of Technology (Caltech), nos Estados Unidos.

Com esses conhecimentos em mente, o grupo do CNPEM buscou entender se os produtos secretados pela bactéria Akkermansia muciniphila poderiam iniciar a agregação da α-sinucleína nas células enteroendócrinas. E se a αSyn agregada nessas células poderia, então, migrar para terminações nervosas periféricas do sistema nervoso entérico.

“Constatamos que as proteínas secretadas pela bactéria, quando cultivadas na ausência de muco intestinal, induzem uma sobrecarga na sinalização intracelular de cálcio das células enteroendócrinas. Isso gera estresse nas mitocôndrias dessas células [as organelas responsáveis pela produção de energia]; síntese e liberação de espécies reativas de oxigênio [que em excesso danificam as estruturas intracelulares]; e, então, agregação da proteína αSyn”, conta Fonseca.

“Além disso, quando cultivamos juntos as células enteroendócrinas e os neurônios, vimos que a proteína αSyn agregada pode ser transferida de um tipo celular para outro”, acrescenta.

A descoberta é muito importante, pois mostra que a disbiose intestinal pode levar ao aumento de espécies de bactérias que, eventualmente, contribuem para a agregação da αSyn nos intestinos. E que essa proteína pode então migrar para o sistema nervoso central, configurando um possível mecanismo de surgimento da doença de Parkinson esporádica.

“A cascata de reações pode começar nos intestinos e subir para o cérebro. Pessoas com predisposição à doença Parkinson esporádica geralmente apresentam, muitos anos antes, quadros recorrentes de constipação intestinal. Em nosso estudo com modelos animais, verificamos uma correlação direta entre disbiose intestinal e Parkinson”, comenta Fonseca.


Novas estratégias de prevenção

Os estudos sobre os microbiomas presentes no organismo humano estão avançando rapidamente. E há uma crescente compreensão da correlação entre o desequilíbrio da microbiota intestinal e as doenças neurodegenerativas – não apenas Parkinson, como também Alzheimer e até mesmo autismo. Revisões alimentares, com vista a reequilibrar a microbiota intestinal, e transplante não invasivo de microbiota intestinal, por meio de cápsulas, podem ser importantes recursos para prevenir essas doenças.

“As doenças neurodegenerativas ainda não têm cura. Por isso, a prevenção é fundamental. Antes o foco das pesquisas era o cérebro. E, com décadas de estudos, não se avançou muito nesse sentido. Agora estamos redirecionando o foco, do cérebro para os intestinos. E as novas descobertas parecem muito promissoras. É muito mais fácil modular a microbiota intestinal do que enfrentar um quadro estabelecido e consolidado no sistema nervoso central”, sublinha Fonseca.

O estudo recebeu financiamento da FAPESP por meio de um Auxílio à Pesquisa Regular e de uma Bolsa de Mestrado. Também se beneficiou com o uso das instalações e equipamentos do Instituto Nacional de Fotônica Aplicada à Biologia Celular, sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e patrocinado pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os dois estudos publicados pelo grupo de Fonseca são de acesso aberto e podem ser consultados on-line.

O artigo Transcellular propagation of fibrillar α-synuclein from enteroendocrine to neuronal cells requires cell-to-cell contact and is Rab35-dependent está acessível em: www.nature.com/articles/s41598-022-08076-5.

Já o estudo Akkermansia muciniphila induces mitochondrial calcium overload and α-synuclein aggregation in an enteroendocrine cell line pode ser encontrado em: www.cell.com/iscience/fulltext/S2589-0042(22)00178-X?_returnURL=https%3A%2F%2Flinkinghub.elsevier.com%2Fretrieve%2Fpii%2FS258900422200178X%3Fshowall%3Dtrue.

 

 

José Tadeu Arantes

Agência FAPESP 

https://agencia.fapesp.br/estudo-revela-como-o-desequilibrio-da-microbiota-intestinal-pode-levar-a-doenca-de-parkinson/38159/


Pacientes com Asma Grave sofrem com a dificuldade do diagnóstico

Relato mostra como ainda existe tanto desconhecimento em relação a Asma Grave  


Pacientes que sofrem com Asma Grave, a forma mais severa da doença, relatam que realizar o diagnóstico desta enfermidade não foi tão simples. O caminho percorrido foi demorado e só chegou após vários exames clínicos, troca de terapias e consultas com vários médicos.  

Para a presidente da Associação Brasileira de Asma Grave (ASBAG), Raissa Cipriano, “a falta de informação e o direcionamento tardio para um especialista são obstáculos na jornada do paciente com Asma Grave”. Infelizmente, adultos levam em média quatro anos até chegarem ao seu diagnóstico definitivo e crianças chegam a levar um ano.  

G.C., 8 anos, filha de Raissa, sofria com os sintomas desde os primeiros meses de vida, mas só recebeu o diagnóstico de Asma Grave aos 2 anos de idade. “Passamos por vários médicos, inúmeras crises, 32 internações e necessidade de uso constante de oxigênio. Foi apenas com 4 anos que ela recebeu o tratamento adequado. Hoje, tem uma vida normal, corre, brinca, vai à escola, mas antes se cansava para falar, para ir do sofá da sala ao banheiro e não conseguia alcançar a irmã mais nova nas brincadeiras”, conta Raissa.  

O relato acima mostra que ainda há muito desconhecimento por parte dos pacientes sobre os tipos de asma e as formas mais eficazes de terapia. A asma é considerada grave, ou severa, quando o paciente continua apresentando sintomas e crises mesmo usando regularmente doses elevadas de corticoide inalatório com outra(s) medicação(ões) de controle associada(s)¹.  

Asma Grave é aquele tipo da doença que não está controlada, apesar de o paciente se medicar com doses máximas preconizadas de broncodilatadores e de corticoides inalatórios. Neste caso, fica indicada a utilização de medicamentos imunobiológicos para que se possa estabelecer o controle da doença ²“, explica Antônio Condino Neto, médico e professor Titular do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

 

Diagnóstico demanda exames clínicos  

Outro ponto levado em conta durante o diagnóstico é a frequência nas internações, que muitas vezes podem necessitar de Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A Asma Grave pode se desenvolver em qualquer idade³.  

Pacientes com Asma Grave geralmente demonstram redução significativa de sua função pulmonar quando submetidos a um exame de espirometria. Apesar da espirometria ser importante, o exame clínico aliado ao histórico do paciente são suficientes para se estabelecer o diagnóstico¹. O asmático grave frequentemente também recebe a prescrição de corticoides orais para complementar seu tratamento, o que pode trazer consideráveis efeitos adversos para a sua saúde4. Por estas razões, pneumologistas alertam sobre a importância de estar acompanhado por um especialista.  

Atualmente os pneumologistas contam com a possibilidade de prescrever imunobiológicos para pacientes com Asma Grave. Os imunobiológicos são terapias alvo-específicas que mudaram o manejo de várias doenças inflamatórias crônicas, caso da Asma Grave7,8. De última geração, esses medicamentos conseguem oferecer uma solução terapêutica para os casos da doença que não respondem ao tratamento convencional9. 

Além disso, os imunobiológicos possibilitam ao paciente um tratamento menos nocivo à saúde já que o uso de corticoides orais por muito tempo pode provocar efeitos colaterais importantes no organismo 10. Doenças metabólicas como obesidade e diabetes, aumento da pressão arterial, problemas oculares, osteoporose, retardo de crescimento em crianças, alterações no sistema imunológico e até mudanças de comportamento, são alguns desses efeitos 10.  

Hoje, com os tratamentos imunobiológicos, as pessoas que sofrem de Asma Grave podem melhorar sua qualidade de vida ao voltarem a realizar atividades simples, antes restritas por conta da doença, tais como caminhar, praticar exercícios e etc. 

Nós dispomos de uma diversidade de medicamentos e modalidades de tratamentos, que permitem que uma pessoa com Asma Grave possa controlar sua doença e ter uma vida normal”, explica o professor e doutor Condino Neto.



Referências:
1. Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI). Acesso em 10 de janeiro de 2022.

2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOLOGIA. Emescam Cartilha Asma. . Acesso em: 09/09/2021
3. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Acesso em 10 de janeiro de 2022.
4. AAAAI (American Academy off Allergy Ashtma e Immunology). Acesso em 17 de janeiro de 2022.
5. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOLOGIA. Emescam Cartilha Asma. Acesso em: 09/09/2021.
6. Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). Acesso em: 10 Fevereiro 2022.
ANTONICELLI, L., et al. Asthma severity and medical resource utilization. European Respiratory Journal, 23- 34: 723-729, 2004.
7. CHUNG, KF. et al
International ERS/ATS guidelines on definition, evaluation and treatment of severe asthma. Eur Respir J, 43(2):343-73, 2014
8. SOCIEDADE        BRASILEIRA        DE        PNEUMOLOGIA         E                                TISIOLOGIA.         Acesso em: 10 Fevereiro 2022
9. Asthma Australia. What treatments are used for severe asthma? Acesso em: 10 Fevereiro de 2022.

“Chip da Beleza” vulgariza um tratamento sério

Implantes hormonais têm indicações bem estabelecidas, entre elas menopausa e hipogonadismo


O hormônio gestrinona está sendo usados como o “Chip da Beleza”, porém, associações médicas contraindicam o seu uso para fins estéticos. 

Na mulher, a gestrinona tem a ação de inibir o hormônio feminino, suspendendo o ciclo menstrual e proporcionando o ganho de massa muscular. Por isso, passou a ser conhecido como chip da beleza. A gestrinona, inclusive, é considerada doping pela Agência Mundial Antidoping por esses efeitos androgênicos potentes que essa medicação tem. 

Na entrevista que segue, a endocrinologista Dra. Lorena Lima Amato explica quando os implantes hormonais podem ser recomendados e quais os riscos dos chamados chips da beleza.

 

Qual diferença entre implante hormonal e chip da beleza?

O chip da beleza é um termo que se popularizou para se identificar alguns implantes hormonais geralmente associados à ação anabólica, eventualmente gestrinona e testosterona. Sabemos que alguns hormônios aumentam a massa muscular e diminuem a gordura subcutânea quando associado a um treino e alimentação saudável. No entanto, o uso de hormônio para fins estéticos é absolutamente avesso aos endocrinologistas. O chip vulgariza um tratamento sério. Não é um chip, mas um tratamento hormonal e nós, endocrinologistas, não somos a favor de hormônios para fins estéticos. Hormônios só devem ser indicados quando há deficiência hormonal.

 

Para que serve o implante hormonal?

Os implantes hormonais servem para fazer a reposição quando necessário, principalmente os esteroides sexuais – testosterona e estradiol - para pessoas que têm deficiência e indicação dessa reposição. Temos algumas opções subcutâneas no mercado na forma transdérmica e na forma de géis, uma via considerada melhor que a via oral para reposição hormonal.

 

Para quais distúrbios hormonais o implante está indicado?

As principais indicações são para:

- Hipogonadismo: Em homens se refere a uma condição que cursa com a queda dos níveis de testosterona e pode estar associado à síndrome metabólica, obesidade, diabetes, e até mesmo ao envelhecimento, quando chamamos frequentemente essa situação de andropausa. Também pode ser congênito.

- Retirada cirúrgica de ovários

- Menopausa precoce

- Menopausa fisiológica tradicional

 

Qualquer mulher que está na menopausa pode fazer uso de implante hormonal?

Mulheres com câncer de mama, eventos trombóticos e infarto, por exemplo, não estão indicadas a fazer o uso de reposição normal. É preciso individualizar para chegar ao melhor tratamento.

 

Quanto tempo o implante hormonal fica sob a pele?

Depende do tipo de implante que está sendo usado, pode ficar de seis a oito meses. Existem os implantes absorvíveis, que não precisam ser retirados, e os feitos de silicone, que precisam ser removidos após o período determinado pelo especialista.

 

Existe efeitos adversos? Se sim, quais?

Os efeitos são os mesmos de qualquer reposição hormonal, só é uma via diferente. Lembrando que a via oral tem mais efeitos adversos no fígado e piora da libido.

 

O implante hormonal é aprovado pela Anvisa?

Sim, é aprovado como uma forma de reposição hormonal, mas reforço que não é recomendado usar para fins estéticos.

 

Pode ser feito por farmácias de manipulação?

Atualmente, os implantes só são manipulados, o que tem o lado positivo e negativo. Não existe um implante padronizado pela indústria farmacêutica. O lado bom é que você pode personalizar a reposição hormonal. O lado ruim é que a manipulação tem todas as suas dificuldades inerentes à farmácia de manipulação.

 

Dra. Lorena Lima Amato - A especialista é endocrinologista pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com título da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM) e endocrinopediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria e doutora pela USP

https://endocrino.pro/

www.amato.com.br

https://www.instagram.com/dra.lorenaendocrino/


Dor crônica ganha alívio através de impulsos elétricos

Intensidade de energia é controlada por médico treinado para incidir sobre regiões específicas do sistema nervoso e assim transformar as sensações

 
Dor crônica é um tormento e quando já se tentou de tudo e ainda assim ela permanece chega a ser desesperador. Mas há uma luz no fim do túnel: o tratamento de Estimulação Medular, que por meio de impulsos elétricos na medula há a supressão da dor. 

De acordo com a neurocirurgiã Juliana Zuiani, de Campinas, o método de neuromodulação consiste no envio de impulsos através de eletrodos implantados sobre a medula. Movidos a um gerador de energia -- um neuroestimulador ou um marca-passo neurológico --, os pulsos elétricos provocam alteração nos circuitos cerebrais, mudando a sensação da dor. 

“Na prática, o funcionamento é simples. A energia elétrica é emitida em doses controladas para regiões específicas do sistema nervoso. Neste processo, fibras medulares são despertadas ou inativadas para controlar a dor, além de ocorrer alteração de microcirculação sanguínea e modulação de circuitos cerebrais no centro de controle da dor”, explica.

 

Peixe elétrico 

Não é de hoje que se recorre a energia elétrica para tratamento da dor. Gravuras do Egito antigo (600 a.C.) mostram uma espécie de peixe elétrico do rio Nilo (Torpedo Fish) sendo usado como terapia em pacientes. 

Os primeiros marca-passos implantáveis foram os cardíacos, surgidos na década de 1940. O avanço tecnológico permitiu o desenvolvimento de baterias portáteis de longa duração, bem como de eletrodos que se moldam entre a coluna vertebral e a meninge, que reveste a medula espinhal (espaço epidural). Essa evolução viabilizou o implante marca-passo neurológico e possibilitou o cuidado e o alívio para dores intratáveis. 

“Dependendo da região da medula que recebe os estímulos, o cérebro interpreta como um formigamento leve ou uma massagem no local onde antes existia a sensação de dor. A sensação gerada é agradável e substitui a dor”, enfatiza Dra. Juliana. 

Segundo ela, existem métodos de estimulação medular que funcionam em determinadas frequências e que o paciente nem percebe que algo está acontecendo. A programação dos geradores de pulsos é feita por médico treinado. O especialista vai escolher quais polos dos eletrodos estarão com cargas positivas, negativas ou neutras. “Há muitas combinações e o treinamento do médico é para que se evite uma programação ineficaz”.  

As principais indicações para o tratamento de dor crônica são para pacientes com dores neuropáticas refratárias às terapias clínicas e multidisciplinar, como por exemplo, Síndrome de Dor Regional Complexa, Síndrome Pós-Laminectomia, dor associada a vasculopatia de membros inferiores (dor vascular nas pernas), angina refratária (dor de angina - apenas para casos já tratados pelo cardiologista e que persistem com dor), radiculopatia crônica (dor irradiada), neuropatia diabética, entre outras.  

”Para saber se o problema é tratável por esse método, deve-se procurar um especialista em dor ou um neurocirurgião funcional para avaliação”, recomenda Juliana. Outras utilizações com resultados promissores, mas ainda em fase experimental são reabilitação de pacientes com lesão medular, auxílio na recuperação da marcha (voltar a andar), melhora de espasticidade em casos selecionados, progresso de marcha em pacientes com Doença de Parkinson, entre outros. 

O procedimento pode ser realizado com anestesia local ou geral. Vai depender da técnica aplicada e da tolerância do paciente. Essa cirurgia demora entre 40 minutos até duas horas, conforme o caso. 

As quatro marcas de Estimuladores Medulares disponíveis no Brasil são: Medtronic (EUA); Abbott - St. Jude Medical (EUA); Boston Scientific (EUA) e StimWave (EUA). A Dra. Juliana frisa que cada marca tem suas peculiaridades, mas todas são sólidas no mercado, com qualidade técnica e garantia, além de possuírem equipe disponível para auxílio ao paciente. É importante suporte vitalício para os aparelhos, uma vez que os implantes podem durar o resto da vida, com eventual troca de geradores, já que possuem bateria com vida útil variável.

 

Dra. Juliana Zuiani - Formada em Medicina pela Unicamp, onde também fez Residência Médica em Neurocirurgia; Especialização em Neurocirurgia Funcional na Universidade de Toronto - Canadá, e aperfeiçoamento na Cleveland Clinic -- EUA; Especialização em microcirurgia no ICNE - SP com o Prof. Dr. Evandro de Oliveira; Título de especialista em Neurocirurgia; Membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e da Sociedade Brasileira de Estereotaxia e Neurocirurgia Funcional; Coordenadora da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Hospital da PUC Campinas.


Cirurgiões de São Paulo conscientizam população sobre câncer colorretal


O câncer de intestino, ou colorretal, encontra-se entre os mais frequentes tipos de câncer em nosso país. Em homens fica atrás somente dos episódios da próstata. Entre as mulheres, figura imediatamente após os casos de câncer da mama.

 

Conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), aproximadamente 40 mil novos casos são diagnosticados por ano, muitos deles relacionados a fatores evitáveis como má alimentação, tabagismo e inatividade física.

 

Ao menos por enquanto, as perspectivas para o futuro próximo são preocupantes. Estima-se que, em 2030, a despesa do Sistema Único de Saúde (SUS) com pacientes diagnosticados com a doença supera em mais de 80% à de anos recentes *.

 

Há três anos, 2018, foram desembolsados pelo SUS aproximadamente R$ 545 milhões com procedimentos hospitalares e ambulatoriais para atender pacientes com câncer colorretal, com 30 anos ou mais. Para 2030, o INCA projeta a necessidade de um orçamento específico de R$ 1 bilhão*.

 

O cirurgião do aparelho digestivo e coloproctologista Dr. Roger Beltrati Coser, pontua que o câncer colorretal é tratável, a despeito de ser a terceira neoplasia de maior mortalidade no país. Tal doença geralmente é curável ao ser detectada precocemente, quando ainda não se espalhou para outros órgãos, e em alguns casos, pode também ser curada até nas formas mais avançadas.

 

          “Se diagnosticado em fase inicial, o tratamento tende a ser menos invasivo, com menor custo para o sistema de saúde, além de apresentar índice de cura elevado”, argumenta Roger Coser, que também é diretor do Capítulo de São Paulo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. 

Ele considera fundamental que os cidadãos tenham ciência disso, para que fiquem atentos aos programas de prevenção e rastreamento.

 

Justamente visando à conscientização social, o Capítulo São Paulo do CBC tem trabalhado firme na campanha Março Azul Marinho, recentemente incluída no calendário oficial da saúde com a aprovação pelo Senado Federal do Projeto de Lei 5.024/2019.

 

“Devemos ter muita atenção quanto a sintomas de desconforto abdominal, cólicas / dores abdominais e sinais como emagrecimento e sangramento nas fezes. Se ocorrerem, é necessário procurar imediatamente o coloproctologista ou o cirurgião do aparelho digestivo. A prevenção e rastreamento é fundamental no câncer colorreal, uma vez que a grande maioria dos tumores em estágios iniciais não causa sintomas evidentes.”

 

 O rastreamento consiste na realização de exame para diagnosticar casos de câncer colorretal em pacientes sem sintomas da doença, justamente com o objetivo de identificar tais tumores em estágios mais iniciais. A recomendação atual é iniciar o rastreamento a partir dos 45/50 anos de idade ou antes caso recomendado pelo seu médico.

 

“Quem tem história familiar de câncer de intestino precisa de atenção especial e investigação genética”, acentua Roger Coser. “A polipose adenomatosa familiar é uma doença genética que pode levar ao aparecimento de câncer em pessoas  jovens. Esses pacientes devem iniciar o acompanhamento médico já na infância, na adolescência.

 

Quanto à prevenção, é essencial fazer a lição de casa básica: alimentação saudável, evitar a obesidade, prática de atividade física, não exagerar do consumo de álcool, não fumar. É mister ainda reduzir a ingestão de carne vermelha e de processadas, como presunto, linguiça, salame, bacon, mortadela, salsicha.

 

 O menu ideal tem como base verduras, legumes, frutas, cereais, grãos, sementes. Enfim, a receita comum e a mais eficiente para viver bem.

 

 

* Dados Inca 


Má qualidade do sono pode também ser um risco de doenças cardíacas

 Cerca de dois terços dos adultos da população brasileira apresentam prejuízos na qualidade do sono. A incidência entre jovem desse tipo de problemas tem sido mais frequentemente notada. Aumento da pressão arterial, envelhecimento dos vasos e risco para a ocorrência de arritmias, infarto e derrame podem ser consequências

 

Dormir está longe de ser perda de tempo. Muito pelo contrário, quem dorme pouco pode estar negligenciando tempo de vida. No Dia Mundial do Sono, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Associação Brasileira do Sono (ABS) alertam para a estreita relação entre uma rotina de sono de qualidade e a incidência de doenças cardiovasculares. 

A presença de distúrbios de sono é frequentemente observada na população mundial. No Brasil,  a qualidade de sono ruim é uma realidade para muitos. Dados extraídos recentemente de base populacional mostram que cerca de dois terços dos brasileiros apresentam uma qualidade do sono prejudicada. Em um estudo recente, foi identificada uma maior prevalência de má qualidade do sono entre a população mais jovem, o que não era notado em estudos anteriores. Além disso, a pandemia e situações como a guerra podem prejudicar ainda mais o sono. É o que explica Luciano Drager, professor associado do Departamento de Clínica Médica da FMUSP, especialista da SBC, presidente da Associação Brasileira do Sono (Biênio 2022-2023) e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo. 

Múltiplos fatores contribuem para este cenário, incluindo os maus hábitos de sono, o excesso de exposição à luz e interação com a Internet, além de problemas pessoais, familiares e financeiros. De acordo com especialistas, a qualidade do sono pode ser comprometida por uma série de distúrbios. A privação dele, insônia e distúrbios respiratórios, como a chamada apneia do sono, são alguns deles. 

As consequências vão além do desconforto de não ter um sono restaurador e estão relacionados a problemas cardiovasculares. Evidências científicas apontam que estes distúrbios podem induzir arritmias, contribuir para aumentar a pressão arterial, envelhecimento dos vasos e o risco para a ocorrência do infarto e do derrame.  Além disso, os problemas com o sono podem contribuir para o surgimento do diabetes, de alterações no colesterol e promover comprometimento na memória e no humor. 

“Dormir mal acaba ocasionando múltiplas consequências, principalmente a longo prazo”, enfatiza Drager.  

Entre os motivos pelos quais isto pode ocorrer estão o aumento da produção de hormônios de alerta e estresse, como a adrenalina e cortisol, e a alteração dos hormônios que controlam a fome e saciedade, contribuindo para o ganho de peso e alterações no açúcar. Outro agravante é o comprometimento dos vasos sanguíneos. 

Em relação ao que pode ser considerado hoje “saudável” do ponto de vista de sono não só olhando para o coração, mas de uma maneira geral,  não existe uma regra geral e sim de indivíduo para indivíduo. 

É preciso entender as necessidades pessoais com relação à quantidade de horas diárias de repouso para de fato sentir-se descansado. Adotar uma rotina de regularidade, estabelecendo horários para dormir sempre no mesmo horário, além de outras medidas, como a prática regular de atividade física, evitar o uso exagerado de substâncias estimulantes a exemplo da cafeína, refeições mais leves antes de dormir, também fazem parte das recomendações. Estar atento à incidência de roncos, por exemplo,  que podem indicar a da apneia do sono, e reduzir a exposição ao excesso de luz, incluindo a proveniente das telas dos celulares, em especial pelo uso de internet e interações com as redes sociais, são também pontos de atenção. 

“Temos que fazer o máximo possível para respeitar o número de horas do sono a manter esta regularidade. E, os pacientes que vivenciam uma qualidade de sono ruim podem começar a apresentar batedeiras no coração e aumentos da pressão arterial. Esses sinais vitais também precisam ser acompanhados. Valorizar estes quadros e procurar ajuda médica podem ser um ótimo início para a tentativa de recuperar este sono de má qualidade, finaliza Drager. 

 

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA



Câncer de pulmão cresce entre mulheres e pode se apresentar de forma diferente em relação aos homens

Novo estudo revela que hormônios sexuais podem influenciar o comportamento da doença 


O câncer de pulmão em mulheres é um grave problema de saúde global. Enquanto a incidência deste tipo de câncer em homens vem caindo gradativamente, apesar de números ainda elevados, nas mulheres vem aumentando expressivamente nos últimos anos. Segundo dados do Global Cancer Observatory já é o terceiro em incidência e o segundo em mortalidade para elas (só perde para o câncer de mama). Considerando os dois sexos, é o terceiro em incidência e o primeiro em mortalidade. 

O câncer de pulmão mais comum é o de células não pequenas (85% de todos os diagnosticados), que é subdividido em três tipos: carcinoma de células escamosas, adenocarcinoma de pulmão e carcinoma de grandes células. Adenocarcinomas correspondem de 40 a 60% dos cânceres de pulmão em mulheres, enquanto o carcinoma de células escamosas cerca de 10 a 30%. “É um tipo de câncer heterogêneo e apresenta menor associação com o hábito de fumar em comparação com outros subtipos. Estudos estimam que até 50% das mulheres com adenocarcinoma de pulmão são não fumantes, em comparação com 10-15% dos homens não fumantes que desenvolvem esse tipo de câncer”, diz o oncologista torácido Carlos Gil Ferreira, Presidente do Instituto Oncoclínicas. 

Um novo estudo feito por cientistas chineses, publicado em janeiro deste ano na revista Nature, revelou que não houve diferença significativa na incidência de câncer de pulmão de células não pequenas entre homens e mulheres na pós-menopausa, enquanto a incidência em mulheres na pré-menopausa aumentou em comparação com os dois grupos, sugerindo que os hormônios sexuais (endógenos e exógenos) desempenham um papel importante na ocorrência e desenvolvimento de câncer de pulmão. Segundo a publicação, estudos pré-clínicos mostram que a expressão de receptores de estrogênio em tecidos de câncer de pulmão é elevada, sugerindo que o estrogênio está intimamente relacionado à incidência deste tipo de câncer. 

A pesquisa, liderada pelo médico Shiqing Liu, foi feita com base em amostras clínicas de câncer de pulmão e tecidos pulmonares normais adjacentes obtidas do Departamento de Cirurgia Torácida, Hospital Xiangya, Central South University, Changsha, China. Todas as amostras foram coletadas para fim de pesquisas, com consentimento dos pacientes. 

É importante, portanto, estar atento aos sintomas para que se faça exames precocemente. “Mulheres jovens, com menos de 50 anos, consideradas saudáveis, mas com sintomas respiratórios persistentes, deveriam buscar avaliação médica”, diz o Carlos Gil Ferreira. “Se entre fumantes, que são o grupo sabidamente de maior risco, o câncer de pulmão é constantemente detectado em estágios avançados, o que dificulta o tratamento, a probabilidade de diagnóstico tardio em pessoas jovens e consideradas saudáveis aumenta consideravelmente”, completa.

 

Sintomas de câncer de pulmão em mulheres 

Assim como os sintomas de ataques cardíacos são diferentes em homens e mulheres, os sinais de câncer de pulmão entre os dois grupos podem variar. 

Os primeiros sintomas de câncer de pulmão em mulheres são frequentemente sinais de adenocarcinoma de pulmão. Como esses tumores geralmente crescem na periferia dos pulmões, longe das grandes vias aéreas, é menos provável que resultem em tosse.

Em vez disso, os primeiros sintomas podem incluir:

Falta de ar com atividade

Fadiga

Dor nas costas ou no ombro 

À medida que a doença progride, as mulheres desenvolvem sintomas adicionais que podem incluir:

Tosse crônica com ou sem sangue ou muco

Chiado

Desconforto ao engolir

Dor no peito

Febre

Rouquidão

Perda de peso inexplicável

Pouco apetite

Muitas vezes, as mulheres não apresentam sintomas até que o tumor tenha se espalhado (metástase) para outras regiões do corpo. 

Como os homens são mais propensos a serem diagnosticados com carcinoma de células escamosas, seus primeiros sinais de câncer geralmente estão relacionados a problemas nas principais vias aéreas, incluindo tosse crônica ou tosse com sangue. 

 

Dr. Carlos Gil Ferreira - graduado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1992) e doutorado em Oncologia Experimental - Free University of Amsterdam (2001). Foi pesquisador Sênior da Coordenação de Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) entre 2002 e 2015, onde exerceu as seguintes atividades: Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica, Chefe do Programa Científico de Pesquisa Clínica, Idealizador e Pesquisador Principal do Banco Nacional de Tumores e DNA (BNT), Coordenador da Rede Nacional de Desenvolvimento de Fármacos Anticâncer (REDEFAC/SCTIE/MS) e Coordenador da Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer (RNPCC/SCTIE/MS). Desde 2018 é Presidente do Instituto Oncoclínicas e Diretor Científico do Grupo Oncoclínicas.


Estudo revela que uma em cada duas pessoas não dorme bem e sente o impacto negativo durante o dia

 Levantamento da Emma - The Sleep Company com 3.000 pessoas entre 18 e 65 anos mostra, ainda, que 75% dos entrevistados não possuem hábitos que antecedam o momento de ir para a cama, o que impacta negativamente o sono

 

Pesquisa elaborada pela Emma – The Sleep Company, em comemoração ao Dia Mundial do Sono, revela que apenas 47% dos entrevistados classificam o sono como bom ou ótimo, o que significa que mais da metade da população precisa de ajuda para dormir. O estudo, realizado na Alemanha, França e Reino Unido, ouviu mais de 3 mil pessoas entre 18 e 65 anos e tem como objetivo entender melhor os hábitos e problemas de sono em uma tentativa de despertar a população sobre a importância do sono e o impacto que ele tem no cotidiano. Entre as principais descobertas estão o fato de que 37% dos entrevistados admitem que têm muita dificuldade para dormir, 52% confessam que quando finalmente conseguem dormir, frequentemente acordam durante a noite e 51% admitem que a ansiedade está afetando o sono.

O sono é de vital importância para a saúde e bem-estar, assim como uma boa alimentação e atividade física. E isso pode ser visto nos resultados do estudo do sono promovido pela Emma, que também analisou a forma como o cotidiano é afetado pelo sono ruim. Um terço (32%) dos entrevistados concordou que suas vidas diárias foram impactadas por seus padrões de sono, com um em cada cinco (18%) sendo incapaz de realizar suas tarefas normalmente após apenas algumas horas de sono.

Surpreendentemente, mais da metade (55%) dos entrevistados admitiu se sentir sonolento ao menos uma vez por semana ao completar tarefas diárias. E não é apenas a capacidade de realizar tarefas que é afetada, a resiliência emocional também sofre com isso. Um quarto das pessoas (24%) se sente menos no controle de suas emoções após uma noite sem dormir, além de se sentir menos capaz de fazer escolhas racionais (26%). Outro dado revelado é o de que 18% dos entrevistados admitiram sentir ansiedade após uma noite sem dormir, o que poderia contribuir para o quadro de ansiedade que as pessoas admitiram estar afetando seu sono.

Com os resultados da pesquisa, é possível começar a entender mais sobre os hábitos de dormir da população. Por exemplo, 75% dos entrevistados admitiram que não possuem rituais na hora de dormir, mesmo isso sendo fundamental para criar uma rotina que sinalize ao corpo que é hora de dormir. Outro dado preocupante é que metade das pessoas que afirmaram ter algum tipo de ritual de sono passam parte do tempo mexendo no celular e ou vendo TV enquanto estão na cama. E embora seja amplamente divulgado que utilizar o quarto apenas para dormir e sexo pode contribuir para um sono melhor, inesperadamente 60% dos pesquisados reconheceram que seu quarto não poderia ser considerado um santuário e 33% confessaram que fazem outras coisas na cama, como estudar ou comer.

A neurocientista e Chefe de Pesquisa do Sono da Emma – The Sleep Company, dra. Verena Senn, explica que negligenciar nossas rotinas de sono e continuar com maus hábitos de sono pode ser prejudicial à nossa saúde. "O sono desempenha um papel vital para nos manter em forma e saudáveis. Quando se tem um sono de boa qualidade a cada noite, a pessoa tende a acordar sendo a melhor versão de si mesma, tendo dado à sua mente e corpo o tempo necessário para recarregar e, então, acordar se sentindo revigorada”.

A especialista explica que dormir melhor – idealmente de 7 a 9 horas por noite – é como recarregar uma bateria. Quando a bateria está totalmente carregada, ela tem a energia positiva necessária para executar tarefas no seu melhor estágio. O mesmo acontece com seres humanos, quando estamos totalmente descansados e recarregados, temos a energia positiva e motivação para ter um bom desempenho em todas as áreas da vida.

"Seja em nossa vida profissional, nos relacionamentos, para a confiança ou saúde mental, o impacto positivo que uma boa noite de sono tem é de longo alcance. Por exemplo, um bom descanso pode estar ligado ao sucesso profissional e riqueza, com salários mais altos atrelados à qualidade do sono. Pode, inclusive, ajudar os alunos a melhorar suas notas em até 20% e ainda aumentar o desejo sexual, com mulheres sendo 14% mais propensas a se envolverem em atividade sexual no dia seguinte para cada hora adicional de sono. Dormir bem é realmente transformador”, conclui.

 

Emma – The Sleep Company

team.emma-sleep.com/press 


Covid derruba transplante de córnea no Brasil

Estudo inédito estima que nos próximos dois anos São Paulo vai precisar aumentar 34% as cirurgias/mês e o Brasil 91%.

 

Desde a chegada da pandemia de covid ao Brasil em março de 2020, o transplante e a captação de córnea sofrem forte queda. Dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) mostram que em 2020 o número de transplantes caiu praticamente pela metade, totalizando 7,1 mil cirurgias ante 14,9 mil em 2019. No ano passado, o levantamento da ABTO revela que o procedimento continuou 16% abaixo da pré-pandemia com 12,7 mil brasileiros transplantados. 

Pior: a fila de espera neste período cresceu cerca de 80%, saltando de 10,7 mil inscritos no final de 2019 para 18,8 mil em dezembro de 2021. Para o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas, este balanço explica a estimativa de um estudo inédito publicado este mês na revista científica CORNEA - O Brasil vai precisar aumentar 34% os transplantes mensais em São Paulo e em 91% no País para daqui dois anos retomar o número de inscritos na fila de espera antes da COVID. 

O oftalmologista ressalta que o mais dramático é que 7 em cada 10 dos que aguardam por uma córnea são jovens. Isso porque, no Brasil a maior causa de transplante de córnea é o ceratocone que geralmente surge no início da adolescência.  A estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) do qual o médico faz parte, é de que 100 mil brasileiros têm a doença. No topo do ranking de inscritos na fila de transplante estão moradores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, nesta ordem. 

Para Queiroz Neto o fim da pandemia ainda é controverso e, por isso, nunca foi tão importante manter o acompanhamento do ceratocone em dia. Uma evidência disso é a constatação em um recente estudo publicado no JAMA, conceituado jornal da Associação Médica Americana. A pesquisa revela que 55% das córneas de falecidos infectados pelo covid carregam partes do vírus. Significa que as captações podem continuar baixas enquanto o coronavírus circular entre nós.

 

Sintomas e fatores de risco

O oftalmologista explica que o ceratocone, enfraquece e afina a córnea, lente externa do olho que vai tomando o formato de um cone conforme progride. “No início pode ser corrigido com óculos e frequentemente é confundido com astigmatismo pelos sintomas em comum: visão desfocada para perto e longe, fotofobia, ofuscamento e visão embaçada”, salienta. A principal diferença é a troca mais frequente dos óculos que passam a não oferecer boa correção visual conforme o ceratocone progride. Quem faz parte dos grupos de risco deve passar por uma tomografia na córnea ainda na infância, quando a progressão é mais acelerada.  Os principais grupos de risco elencados pelo médico são pessoas que têm:

·         Casos na família~

·         Alergia

·         Síndrome de Down

·         Olho seco

·         Hábito de coçar os olhos

·         Apneia do sono

·         Miopia e alta miopia

 

Diagnóstico

O especialista destaca que a tomografia pode flagrar o ceratocone bem no início. “Em alguns pacientes a doença provoca saliências na face interna da córnea. Este exame permite o diagnóstico precoce por avaliar milhares de pontos da superfície interna e externa”, afirma.  O problema é que um levantamento conduzido por Queiroz Neto com 315 portadores de ceratocone revela que só 3% foram diagnosticados na infância quando a doença tem progressão bastante rápida.

 

Tratamentos

O único tratamento que interrompe a progressão em 90% dos casos é o crosslinking. O procedimento, observa, é ambulatorial e feito com uma gota de colírio anestésico. Aumenta em até 3 vezes a reticulação das fibras de colágeno córnea.  Consiste na aplicação de vitamina B2 (riboflavina) e luz ultravioleta na córnea. Em 3 dias as atividades podem ser retomadas. Queiroz Neto destaca que o croslinking é contraindicado para córnea fina, olhos com cicatrizes, portadores de glaucoma, histórico de herpes e outras alterações externas nos olhos.

Outro tratamento é o implante de anel intraestromal que aplana a córnea, deixa a lente mais estável no olho e melhora a visão. Para que tem muito desconforto no uso de lentes rígidas para corrigir o ceratocone uma alternativa para escapar do transplante é a lente escleral que invés de ficar apoiada na córnea se apoia na esclera.

“Igual a todas as outras doenças, no ceratocone a prevenção continua sendo o melhor remédio, principalmente porque no transplante pode ocorrer rejeição”, conclui.


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