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quinta-feira, 17 de março de 2022

Covid derruba transplante de córnea no Brasil

Estudo inédito estima que nos próximos dois anos São Paulo vai precisar aumentar 34% as cirurgias/mês e o Brasil 91%.

 

Desde a chegada da pandemia de covid ao Brasil em março de 2020, o transplante e a captação de córnea sofrem forte queda. Dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) mostram que em 2020 o número de transplantes caiu praticamente pela metade, totalizando 7,1 mil cirurgias ante 14,9 mil em 2019. No ano passado, o levantamento da ABTO revela que o procedimento continuou 16% abaixo da pré-pandemia com 12,7 mil brasileiros transplantados. 

Pior: a fila de espera neste período cresceu cerca de 80%, saltando de 10,7 mil inscritos no final de 2019 para 18,8 mil em dezembro de 2021. Para o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas, este balanço explica a estimativa de um estudo inédito publicado este mês na revista científica CORNEA - O Brasil vai precisar aumentar 34% os transplantes mensais em São Paulo e em 91% no País para daqui dois anos retomar o número de inscritos na fila de espera antes da COVID. 

O oftalmologista ressalta que o mais dramático é que 7 em cada 10 dos que aguardam por uma córnea são jovens. Isso porque, no Brasil a maior causa de transplante de córnea é o ceratocone que geralmente surge no início da adolescência.  A estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) do qual o médico faz parte, é de que 100 mil brasileiros têm a doença. No topo do ranking de inscritos na fila de transplante estão moradores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, nesta ordem. 

Para Queiroz Neto o fim da pandemia ainda é controverso e, por isso, nunca foi tão importante manter o acompanhamento do ceratocone em dia. Uma evidência disso é a constatação em um recente estudo publicado no JAMA, conceituado jornal da Associação Médica Americana. A pesquisa revela que 55% das córneas de falecidos infectados pelo covid carregam partes do vírus. Significa que as captações podem continuar baixas enquanto o coronavírus circular entre nós.

 

Sintomas e fatores de risco

O oftalmologista explica que o ceratocone, enfraquece e afina a córnea, lente externa do olho que vai tomando o formato de um cone conforme progride. “No início pode ser corrigido com óculos e frequentemente é confundido com astigmatismo pelos sintomas em comum: visão desfocada para perto e longe, fotofobia, ofuscamento e visão embaçada”, salienta. A principal diferença é a troca mais frequente dos óculos que passam a não oferecer boa correção visual conforme o ceratocone progride. Quem faz parte dos grupos de risco deve passar por uma tomografia na córnea ainda na infância, quando a progressão é mais acelerada.  Os principais grupos de risco elencados pelo médico são pessoas que têm:

·         Casos na família~

·         Alergia

·         Síndrome de Down

·         Olho seco

·         Hábito de coçar os olhos

·         Apneia do sono

·         Miopia e alta miopia

 

Diagnóstico

O especialista destaca que a tomografia pode flagrar o ceratocone bem no início. “Em alguns pacientes a doença provoca saliências na face interna da córnea. Este exame permite o diagnóstico precoce por avaliar milhares de pontos da superfície interna e externa”, afirma.  O problema é que um levantamento conduzido por Queiroz Neto com 315 portadores de ceratocone revela que só 3% foram diagnosticados na infância quando a doença tem progressão bastante rápida.

 

Tratamentos

O único tratamento que interrompe a progressão em 90% dos casos é o crosslinking. O procedimento, observa, é ambulatorial e feito com uma gota de colírio anestésico. Aumenta em até 3 vezes a reticulação das fibras de colágeno córnea.  Consiste na aplicação de vitamina B2 (riboflavina) e luz ultravioleta na córnea. Em 3 dias as atividades podem ser retomadas. Queiroz Neto destaca que o croslinking é contraindicado para córnea fina, olhos com cicatrizes, portadores de glaucoma, histórico de herpes e outras alterações externas nos olhos.

Outro tratamento é o implante de anel intraestromal que aplana a córnea, deixa a lente mais estável no olho e melhora a visão. Para que tem muito desconforto no uso de lentes rígidas para corrigir o ceratocone uma alternativa para escapar do transplante é a lente escleral que invés de ficar apoiada na córnea se apoia na esclera.

“Igual a todas as outras doenças, no ceratocone a prevenção continua sendo o melhor remédio, principalmente porque no transplante pode ocorrer rejeição”, conclui.


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