Cerca de dois terços dos adultos da população brasileira apresentam prejuízos na qualidade do sono. A incidência entre jovem desse tipo de problemas tem sido mais frequentemente notada. Aumento da pressão arterial, envelhecimento dos vasos e risco para a ocorrência de arritmias, infarto e derrame podem ser consequências
Dormir está longe de ser perda de tempo. Muito pelo
contrário, quem dorme pouco pode estar negligenciando tempo de vida. No Dia
Mundial do Sono, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Associação
Brasileira do Sono (ABS) alertam para a estreita relação entre uma rotina de
sono de qualidade e a incidência de doenças cardiovasculares.
A presença de distúrbios de sono é frequentemente
observada na população mundial. No Brasil, a qualidade de sono ruim é uma
realidade para muitos. Dados extraídos recentemente de base populacional
mostram que cerca de dois terços dos brasileiros apresentam uma qualidade do
sono prejudicada. Em um estudo recente, foi identificada uma maior prevalência
de má qualidade do sono entre a população mais jovem, o que não era notado em
estudos anteriores. Além disso, a pandemia e situações como a guerra podem
prejudicar ainda mais o sono. É o que explica Luciano Drager, professor
associado do Departamento de Clínica Médica da FMUSP, especialista da SBC,
presidente da Associação Brasileira do Sono (Biênio 2022-2023) e um dos
pesquisadores responsáveis pelo estudo.
Múltiplos fatores contribuem para este cenário,
incluindo os maus hábitos de sono, o excesso de exposição à luz e interação com
a Internet, além de problemas pessoais, familiares e financeiros. De acordo com
especialistas, a qualidade do sono pode ser comprometida por uma série de
distúrbios. A privação dele, insônia e distúrbios respiratórios, como a chamada
apneia do sono, são alguns deles.
As consequências vão além do desconforto de não ter
um sono restaurador e estão relacionados a problemas cardiovasculares.
Evidências científicas apontam que estes distúrbios podem induzir arritmias,
contribuir para aumentar a pressão arterial, envelhecimento dos vasos e o risco
para a ocorrência do infarto e do derrame. Além disso, os problemas com o
sono podem contribuir para o surgimento do diabetes, de alterações no
colesterol e promover comprometimento na memória e no humor.
“Dormir mal acaba ocasionando múltiplas consequências,
principalmente a longo prazo”, enfatiza Drager.
Entre os motivos pelos quais isto pode ocorrer
estão o aumento da produção de hormônios de alerta e estresse, como a
adrenalina e cortisol, e a alteração dos hormônios que controlam a fome e saciedade,
contribuindo para o ganho de peso e alterações no açúcar. Outro agravante é o
comprometimento dos vasos sanguíneos.
Em relação ao que pode ser considerado hoje
“saudável” do ponto de vista de sono não só olhando para o coração, mas de uma
maneira geral, não existe uma regra geral e sim de indivíduo para
indivíduo.
É preciso entender as necessidades pessoais com
relação à quantidade de horas diárias de repouso para de fato sentir-se
descansado. Adotar uma rotina de regularidade, estabelecendo horários para
dormir sempre no mesmo horário, além de outras medidas, como a prática regular
de atividade física, evitar o uso exagerado de substâncias estimulantes a
exemplo da cafeína, refeições mais leves antes de dormir, também fazem parte
das recomendações. Estar atento à incidência de roncos, por exemplo, que
podem indicar a da apneia do sono, e reduzir a exposição ao excesso de luz,
incluindo a proveniente das telas dos celulares, em especial pelo uso de
internet e interações com as redes sociais, são também pontos de atenção.
“Temos que fazer o máximo possível para respeitar o
número de horas do sono a manter esta regularidade. E, os pacientes que
vivenciam uma qualidade de sono ruim podem começar a apresentar batedeiras no
coração e aumentos da pressão arterial. Esses sinais vitais também precisam ser
acompanhados. Valorizar estes quadros e procurar ajuda médica podem ser um
ótimo início para a tentativa de recuperar este sono de má qualidade, finaliza
Drager.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA
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