Segundo a neuroftalmologista Márcia
Lúcia Marques, doença prejudica os nervos oculares e deve ser tratada logo no
início com acompanhamento de médico especialista.
A esclerose múltipla atinge cerca de 2,3 milhões de pessoas no
mundo, sendo que no Brasil, sua prevalência pode variar de 1,36 a 27,7 casos
por 100.000 habitantes, de acordo com a região. Para promover a disseminação de
informações sobre a doença, no dia 30 de agosto é celebrado o Dia Nacional de
Conscientização Sobre a Esclerose Múltipla.
De acordo com a neuroftalmologista Márcia Lúcia Marques, a
esclerose múltipla é uma doença considerada desmielinizante, ou seja, por
motivos ainda não identificados as defesas do corpo ‘atacam’ a bainha de
mielina que envolve os nervos, fazendo com que eles fiquem desprotegidos e
desencadeando inflamações.
“O nervo ótico é um exemplo de nervo revestido por essa bainha de
mielina. Ele é o responsável pela condução da nossa visão ao cérebro e, como em
qualquer processo inflamatório de células nervosas, ele não se regenera depois
de comprometido. Por isso, a neurite ótica é uma urgência oftalmológica e pede
que o caso seja investigado e tratado o mais rápido possível”, explicou.
Segundo a neuroftalmologista, quando a doença e o comprometimento
do nervo ótico são identificados logo no início, é mais propício que o paciente
tenha a recuperação da visão com nenhuma ou poucas sequelas. Caso contrário, a
neurite pode causar a perda definitiva ou parcial do olho atingido pela
inflamação.
“A perda da visão é um problema que a esclerose pode trazer de
maior impacto, porque acaba sendo bastante incapacitante para o paciente”,
explicou.
Sintomas e diagnóstico
O diagnóstico da esclerose múltipla é
feito, principalmente, de forma clínica, com apoio de uma série de exames
complementares, como a ressonância magnética do encéfalo e da coluna vertebral
e a coleta de liquor para análise.
De acordo com Márcia Lúcia, os
principais sintomas que levam os pacientes a procurarem ajuda médica são formigamentos,
dormência e perda de força muscular, na maioria das vezes, em membros
inferiores e nas mãos. Já em relação aos olhos, a doença pode dar sinais como a
perda de visão súbita e dor ocular.
“Às vezes o paciente não tem sintoma nenhum da doença, mas ele
apresenta uma baixa de visão súbita, de um dia para o outro, dor na
movimentação dos olhos e, em alguns casos, a pessoa pode ter estrabismo”,
explicou.
Tratamento
O tratamento da esclerose múltipla é
feito de forma aguda para combater a inflamação do nervo ótico, com
acompanhamento de um neurologista especializado na doença.
De acordo com a neuroftalmologista,
inicialmente os danos causados aos nervos podem ser reversíveis, desde que o
tratamento seja feito logo no início da presença da inflamação.
“Uma vez identificada a inflamação no
nervo ótico, o tratamento correto deve ser iniciado logo em seguida. Dessa
forma, dependendo do grau de inflamação e do início do tratamento, as sequelas
podem ser reversíveis”, disse.
Conscientização
A campanha Agosto Laranja busca
ampliar o debate sobre a esclerose múltipla para promover a conscientização não
só das pessoas que são portadoras, mas também de seus familiares, amigos e
pessoas que nunca tiveram contato com a doença.
“Principalmente os familiares dessas
pessoas, que acabam tendo uma chance maior de desenvolver a doença, porque
existe uma certa herança genética. Então é importante que as pessoas saibam
identificar os sintomas e conheçam quem são os profissionais indicados para o
tratamento”, disse.
Para a neuroftalmologista, o mês de
conscientização também é necessário para que as pessoas mais propensas a
desenvolverem a doença conheçam os sintomas. De acordo com os estudos mais
recentes, a doença atinge pessoas jovens e, em sua maioria, mulheres.
“Muitas vezes, a paciente já tem
algum sintoma da doença por anos sem perceber que aquilo pode ser um início da
esclerose múltipla. Quanto antes a pessoa desconfiar do problema e procurar um
médico especializado, mais fácil é a prevenção das sequelas que ela pode
trazer”, disse.
Dra. Márcia Lúcia Marques - Médica oftalmologista formada pela faculdade de medicina do ABC
com mais de 15 anos de experiência. Especialista em glaucoma clínico e
cirúrgico e neuroftalmologia. É doutora em neurooftalmologia e doenças
neurodegenerativas, com estudos em doenças como esclerose múltipla, doença de
Parkinson, ataxias e doença de Alzheimer.