Pesquisa da
Capital Empreendedor mostra alta em taxas praticadas por grandes bancos desde o
decreto da pandemia da Covid-19 pela OMS, apesar de redução de 29% do juro
básico em reuniões do Copom
Apesar das campanhas publicitárias anunciarem total
apoio para as empresas enfrentarem os efeitos da crise pandêmica da Covid-19,
os maiores bancos do Brasil não promoveram cortes generalizados dos encargos.
Tampouco a redução na taxa básica de juros da economia (Selic) determinada pelo
Comitê de Política Monetária (Copom) em duas reuniões consecutivas – realizadas
nos dias 18 de março e 6 de maio – incentivaram os bancos a baixar os juros na
ponta. Nesse período, a Selic passou de 4,25% para 3% ao ano, uma queda de 29%.
Em alguns casos, a taxa de juros chegou a subir 44% em uma das linhas de
financiamento mais acessadas pelas empresas nos últimos meses em um dos maiores
bancos do País. A constatação é de uma pesquisa conduzida pela Capital
Empreendedor, um dos maiores marketplaces de crédito do Brasil, que
conecta micro, pequenas e médias empresas (as “MPMEs”) a financiamentos de
instituições em todo o território nacional.
A pesquisa tomou como base o período entre 10 de
março, véspera da declaração da Organização Mundial da Saúde da pandemia do
novo coronavírus, e 20 de maio, data do levantamento mais recente divulgado periodicamente
pelo Banco Central. A pesquisa considerou os juros mensais das seis principais
linhas de crédito para empresas (antecipação de recebíveis de cartão de
crédito; capital de giro com prazo de até 365 dias; capital de giro com prazo
superior a 365 dias; cheque especial; conta garantida e desconto de duplicatas)
disponíveis nos cinco maiores bancos (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e
Santander), responsáveis por mais de 80% do total de crédito no pais.
O BB foi o campeão no aumento dos juros no período
analisado — a instituição elevou as taxas em três das seis linhas da amostra. A
pesquisa da Capital Empreendedor aponta que o BB praticou o maior percentual de
aumento no juro mensal da linha antecipação de recebíveis de cartão de crédito,
de 0,54% para 0,78%, o que representa avanço de 44% no período (detalhes no
arquivo anexo). Essa linha de crédito representa 5% do estoque de
empréstimos e financiamentos para pessoas jurídicas no País, segundo o Banco
Central, e é particularmente importante para pequenos negócios.
O Banco do Brasil também aumentou os juros para
capital de giro com prazo de até um ano na modalidade prefixada (variação de
+4%) e para a conta garantida prefixada (alta de 7%). “As altas, no entanto,
não colocam o Banco do Brasil no topo da lista dos bancos mais ‘caros’ para as
empresas. Em alguns casos, o próprio BB tem as taxas mais competitivas, como
nas modalidades de capital de giro até um ano e por mais de 365 dias”, observa
Juliano Graff, sócio-fundador da Capital Empreendedor e coordenador da
pesquisa.
O Santander, por sua vez, foi a instituição que
reduziu a taxa de juros no maior número de modalidades. “Isso não quer dizer,
porém, que seja o banco com as melhores taxas do mercado. Antes da pandemia, o
Santander liderava a lista dos bancos mais caros em quatro das seis linhas
pesquisadas. Durante a crise, o banco espanhol acompanhou a redução das taxas
dos principais concorrentes, mantendo-se bastante competitivo nas taxas das
linhas conta garantida e desconto de duplicatas”, compara.
Segundo Graff, a comparação de taxas e condições
dos empréstimos, sobretudo num momento de crise aguda, pode ajudar as empresas
a entender a dinâmica dos encargos para escolher as melhores opções. “Ao mesmo
tempo que as campanhas publicitárias vendem facilidades, os bancos podem se
beneficiar da assimetria de informações para aumentar suas taxas. As empresas
precisam ficar atentas”, diz ele. A plataforma da Capital Empreendedor conta
com ferramentas e cruzamentos de dados das ofertas de crédito disponíveis no
mercado para apoiar os usuários a comparar taxas, garantias e condições para a
liberação de financiamentos.
Cheque especial
O levantamento da Capital Empreendedor também
revela que o cheque especial é a modalidade de crédito mais resistente à queda
dos juros, apesar de apresentar significativa diferença de magnitude em relação
às taxas cobradas na maior parte das linhas. No período pesquisado, entre 10 de
março e 20 de maio, a média de redução do cheque especial nos cinco maiores
bancos variou apenas 2%, de 12,93% para 12,73% ao mês. Nas demais linhas de
crédito, no dia 20 de maio, a taxa mínima ficou em 0,51% no juro cobrado pelo
Bradesco para a antecipação do cartão, enquanto a máxima alcançou 2,82%, também
no Bradesco, para a linha conta garantida.
“Muitas empresas, sobretudo de pequeno porte, ainda
recorrem ao cheque especial por falta de conhecimento das opções disponíveis no
mercado. Diferentemente de outras linhas, no cheque especial, o dinheiro é
liberado sem a contrapartida de garantias, o que costuma elevar os juros à
estratosfera”, avalia Graff.
De acordo com os dados mais recentes do Banco
Central, a linha com maior volume de empréstimos para empresas no País é a de
capital de giro para prazo superior a 365 dias, equivalente a R$ 262,6 bilhões
ou 27% do estoque. O levantamento da Capital Empreendedor constatou redução
média de 15% nos juros dessa linha, no período abarcado pela pesquisa. Quatro
bancos reduziram os encargos — Santander (-29%), Itaú Unibanco (-15%), Caixa
(-15%) e Banco do Brasil (-14%) — enquanto o Bradesco elevou a taxa em 5%.
Queda mais expressiva, de 43% na média, foi verificada na linha de capital de
giro de até 365 dias. “O fato de ter prazo mais curto acaba reduzindo os riscos
para os bancos, o que pode explicar a maior intensidade do corte”, explica o
coordenador do levantamento. “Em momentos de crise grave como a atual, ter
conhecimento é essencial na hora de decidir tomar o empréstimo para garantir a
sobrevivência dos negócios a longo prazo”, completa.
Capital Empreendedor