Você se identificou com essa frase? Se a resposta é sim, atenção: você
pode estar procrastinando! Essa palavra, difícil de ser pronunciada, vem do
latim pro – “à frente” e cras – que quer dizer “para amanhã”. A
procrastinação acontece quando adiamos tarefas ou decisões que consideramos
difíceis ou desagradáveis, de forma desnecessária ou irracional. Ao deixarmos
para depois alguma decisão ou ação, podemos sentir um alívio momentâneo, mas
quase sempre acompanhado de culpa e prejuízos posteriores.
Estima-se que 80% dos estudantes procrastinam e, destes, metade tem prejuízos
importantes na vida escolar por causa do adiamento das atividades estudantis. A
procrastinação afeta cronicamente de 15 a 20% da população adulta e
esporadicamente até 90% das pessoas em geral.
O que leva a esse comportamento?
Segundo Fernanda Queiroz, psicóloga e neuropsicóloga, confundadora da Clínica
Estar, há várias explicações para a procrastinação. “Em geral,
entre os motivos que levam a esse comportamento podemos encontrar o excesso de
preocupação com a própria capacidade, desorganização, medo de fracassar,
impulsividade, baixo autocontrole, distração, intolerância à frustração,
excesso de autocrítica e perfeccionismo. Também encontramos pessoas que tiveram
pais rígidos, controladores, com expectativas muito altas em relação aos
filhos”, explica Fernanda.
De acordo com a psicóloga, as pesquisas mais recentes mostram claramente que a
procrastinação é um problema de regulação das emoções. “Quando enfrentamos
emoções negativas, como frustração, ressentimento, monotonia e ansiedade,
associados a uma tarefa, a tendência é procrastinar para regular nossas
emoções. Porém, quando fazemos isso o efeito é passageiro, ou seja, no dia
seguinte não vamos nos sentir melhor, pelo contrário, estaremos mais
estressados e ansiosos por não ter feito o que era necessário fazer”, explica.
Ganho em curto prazo, perda em longo
Quem tem esse comportamento pode ter a sensação de conforto ou alívio quando
evita realizar uma tarefa. Vamos dar um exemplo. Um estudante que adiou estudar
para uma prova e deixou para o último dia pode perder momentos com a família ou
com os amigos, além de correr o risco de tirar uma nota baixa.
Por isso, segundo Fernanda, a perda sempre será inevitável. “A procrastinação
impacta na vida em geral, nos relacionamentos, no desempenho acadêmico e no
trabalho. É preciso ter consciência de que o alívio é temporário, pois os
prejuízos irão chegar, mais cedo ou mais tarde”, explica.
É possível tratar?
A procrastinação tem consequências ruins para a qualidade de vida em geral. Por
isso, quem apresenta esse comportamento de forma crônica deve procurar ajuda de
um psicólogo. Muitas vezes adiar as coisas de forma assídua pode aumentar o
risco de desenvolver o transtorno da ansiedade e depressão. Por outro lado,
também encontramos pessoas que apresentam esses transtornos e a procrastinação
é uma consequência destes problemas.
“Assim, a avaliação de um psicólogo é fundamental para ajudar a pessoa a
enfrentar a procrastinação. Entre as abordagens usadas está a Terapia Cognitivo
Comportamental (TCC) baseada no Mindfulness (atenção plena). A TCC ajuda a
identificar os pensamentos disfuncionais e crenças a respeito das atividades
consideradas aversivas. Já o Mindfulness trabalha a baixa atenção que os
procrastinadores apresentam, para melhorar a aceitação de estados e pensamentos
desagradáveis com o objetivo de reduzir o estresse, aumentar a persistência nas
atividades, além de melhorar a saúde como um todo”, conclui Fernanda.