Análise em 301 pontos de coleta em 6
estados, com ênfase em São Paulo e Rio de Janeiro, aponta 23,3% com água de
qualidade ruim ou péssima. Poluição diminui ainda mais a oferta de água para
consumo da população.
Um levantamento com a medição da qualidade da água em 111
rios, córregos e lagos de 5 estados brasileiros e o Distrito Federal - o mais
amplo até hoje coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica - revela que 23,3%
apresentam qualidade ruim ou péssima. Os dados, divulgados na semana em que se
celebra o Dia da Água (22 de março), foram coletados entre março de 2014 e
fevereiro de 2015, em 301 pontos de coleta distribuídos em 45 municípios.
A análise inclui o monitoramento realizado em 25 rios da cidade de São Paulo e
12 da cidade do Rio de Janeiro. A lista completa de rios e pontos avaliados
está disponível no link http://bit.ly/Agua2015.
Dos resultados medidos, 186 pontos (61,8%)
apresentaram qualidade da água considerada regular, 65 (21,6%) foram
classificados como ruins e 5 (1,7%) apresentaram situação péssima. Apenas 45
(15%) dos rios e mananciais mostraram boa qualidade - aqueles localizados em
áreas protegidas e que contam com matas ciliares preservadas. Nenhum dos pontos
analisados foi avaliado como ótimo.
No Estado de São Paulo, dos 117 pontos monitorados, 5
(4,3%) registraram qualidade de água boa; 61 (52,1%) foram avaliados com
qualidade regular, enquanto que 46 (39,3%) estão em situação ruim e 5 (4,3%)
péssima. Já entre os 175 pontos analisados nos municípios do Rio de Janeiro, 39
apresentaram água boa (22,3%), a maioria (120 pontos) está em situação regular
(68,6%), e 16 tiveram índice ruim (9,1%).
Na cidade do Rio de Janeiro, os indicadores aferidos
revelam uma piora na qualidade da água. Dos 15 pontos em que a coleta foi
realizada na área urbana, somente 5 (33,3%) apresentaram qualidade regular e os
outros 10 pontos (66,7%) registraram qualidade ruim. Em 2014, 9 pontos tinham
qualidade regular (60%) e 6 ruim (40%). Nenhum dos pontos analisados apresentou
qualidade boa ou ótima.
“Esses indicadores
revelam a precária condição ambiental dos rios urbanos monitorados e, somados
aos impactos da seca, reforçam a necessidade urgente de investimentos em
saneamento básico. A falta da água na região sudeste é agravada pela
indisponibilidade decorrente da poluição e não apenas da falta de chuvas. Rios
enquadrados nos índices ruim e péssimo não podem ser utilizados para
abastecimento humano e produção de alimentos, diminuindo bastante a oferta de
água”, alerta Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata
Atlântica.
Outros quatros estados tiveram rios e córregos
analisados neste levantamento. Em Minas Gerais, o rio Jequitinhonha, na altura
do município de Almenara, apresentou situação regular. Já o rio Mutum, na
cidade de Mutum, e o córrego São José, em Bicas, estão em situação ruim. No Rio
Grande do Sul, foram analisados a Lagoa do Peixe (qualidade boa), Rio Tramandaí
(regular) e Lago Guaíba, na altura da Barra do Ribeiro (ruim). Em Brasília, a
análise de dois pontos do Córrego do Urubu apresentou qualidade regular. Já em
Santa Catarina, o Rio Mãe Luiza, na cidade de Forquilhinha, está em situação
regular.
Comparativo 2014-2015
Na comparação com os pontos coletados no levantamento
anterior, realizado pela SOS Mata Atlântica no período de março de 2013 a
fevereiro de 2014, a cidade do Rio de Janeiro (veja abaixo), que teve 15 pontos
analisados no último levantamento, apresentou aumento de amostras com qualidade
ruim, de 40% para 66,7%. São Paulo, por outro lado, reduziu de 74,9% para 44,3%
o número de pontos de coleta com qualidade ruim ou péssima, apresentando alta
de 25% para 55,4% as amostras com qualidade regular ou boa.
Resultados – Cidade do RJ
|
IQA 2014
|
IQA 2015
|
||
ÓTIMA
|
0
|
0,0%
|
0
|
0,0%
|
BOA
|
0
|
0,0%
|
0
|
0,0%
|
REGULAR
|
9
|
60,0%
|
5
|
33,3%
|
RUIM
|
6
|
40,0%
|
10
|
66,7%
|
PÉSSIMA
|
0
|
0,0%
|
0
|
0,0%
|
TOTAL
|
15
|
100%
|
15
|
100%
|
Resultados – Cidade de SP
|
IQA 2014
|
IQA 2015
|
||
ÓTIMA
|
0
|
0,0%
|
0
|
0,0%
|
BOA
|
0
|
0,0%
|
1
|
2,7%
|
REGULAR
|
9
|
25,0%
|
19
|
52,7%
|
RUIM
|
23
|
63,8%
|
15
|
41,6%
|
PÉSSIMA
|
4
|
11,1%
|
1
|
2,7%
|
TOTAL
|
36
|
100%
|
36
|
100%
|
Segundo Malu Ribeiro, a seca em São Paulo diminui o
escoamento de poluentes para os rios, refletindo na redução de pontos de coleta
com qualidade ruim ou péssima: “A falta de chuvas na capital paulista teve um
impacto positivo na qualidade da água dos córregos e rios urbanos que não receberam
a chamada poluição difusa, responsável por cerca de 40% dos poluentes que
contaminam os corpos hídricos após as chuvas que lavam as cidades. Com a seca,
os pontos monitorados deixaram de receber resíduos sólidos ou lixo, sedimentos
com solos contaminados, foligem de veículos e materiais particulados. Embora o
volume de água tenha diminuído nesses rios durante os meses prolongados de
seca, a coleta e o tratamento de esgotos nessas microbacias de São Paulo
contribuíram para que a condição de qualidade da água passasse a ser melhor”.
Nos rios da capital carioca ocorreu o processo
inverso, “devido à falta de investimentos em saneamento básico e ao aumento de
resíduos sólidos descartados nas margens de rios e de esgotos, que se
concentraram nos pontos de coleta dos rios com baixa vazão”, explicou Malu.
Segundo a coordenadora, as altas temperaturas na região também favoreceram a
formação de algas que consomem o oxigênio da água, provocando aumento no odor e
a rápida perda da qualidade, com agravamento da poluição.
Os municípios do Estado de São Paulo também tiveram
melhora na qualidade dos rios analisados. Entre os 53 pontos de coleta em rios
paulistas que foram analisados nos dois estudos, o percentual de amostras com
qualidade regular subiu de 30,2% para 50,9% (veja abaixo).
Resultados – Estado de SP
|
2014
|
2015
|
||
QUALIDADE
|
PONTOS
|
PORCENTAGEM
|
PONTOS
|
PORCENTAGEM
|
ÓTIMA
|
0
|
0,0%
|
0
|
0,0%
|
BOA
|
2
|
3,8%
|
5
|
4,3%
|
REGULAR
|
16
|
30,2%
|
61
|
52,1%
|
RUIM
|
31
|
58,5%
|
46
|
39,3%
|
PÉSSIMA
|
4
|
7,5%
|
5
|
4,3%
|
TOTAL
|
53
|
100%
|
53
|
100%
|
Malu Ribeiro esclarece que, dependendo da qualidade da água,
os rios podem ser melhor aproveitados pela população: “os rios em São Paulo que
registraram indicadores na faixa regular poderão ter o seu enquadramento, com
base na legislação que trata da qualidade da água, fixado em rios de classe 3 e
2, cujas águas podem ser utilizadas para usos múltiplos. É isso que a sociedade
espera conseguir conquistar para os rios urbanos: águas saudáveis. Isso ocorreu
onde as populações se engajaram na conservação de pequenas faixas ciliares ou
áreas verdes, no cuidado com a destinação correta de resíduos sólidos e na cobrança
sistemática da coleta e tratamento de esgotos.”
Para a Fundação SOS Mata Atlântica, para enfrentar a
crise da água e melhorar a qualidade de vida nas cidades é essencial recuperar
os rios urbanos com investimentos e avanços nos índices de tratamento de
esgoto, gestão dos resíduos sólidos e recuperação das áreas de preservação
permanente. Um exemplo foi encontrado no monitoramento realizado: “o indicador
mais surpreendente foi registrado junto a uma nascente no bairro da Pompéia, em
São Paulo, que melhorou a qualidade da água para boa após a comunidade ter
promovido a recuperação do seu entorno” finaliza Malu.
Metodologia
A coleta para o levantamento, que têm como base a legislação
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), é realizada por meio de um kit
desenvolvido pelo programa Rede das Águas, da SOS Mata Atlântica, que
possibilita uma metodologia para avaliação dos rios a partir de um total de 16
parâmetros, que incluem níveis de oxigênio, fósforo, o PH e aspecto visual. O
kit classifica a qualidade das águas em cinco níveis de pontuação: péssimo (de
14 a 20 pontos), ruim (de 21 a 26 pontos), regular (de 27 a 35 pontos), bom (de
36 a 40 pontos) e ótimo (acima de 40 pontos).
A coleta em rios, córregos e lagos dos estados com
Mata Atlântica é feita por grupos de monitoramento que recebem capacitação e
material da Fundação SOS Mata Atlântica, realizam a análise e devolvem os dados
para a Fundação. A iniciativa é aberta à população em geral, que pode
participar dos grupos de monitoramento já existentes ou ajudar a criar novos
grupos para monitorar rios próximos a escolas, igrejas e outros centros
comunitários. Os grupos fazem a medição uma vez por mês e enviam os resultados
pela internet. Interessados em participar devem escrever para info@sosma.org.br.
Fundação SOS Mata Atlântica - www.sosma.org.br.