O Nepal, país asiático famoso pelo ecoturismo, está
em chamas. Protestos liderados pela Geração Z contra a corrupção e o banimento
governamental de redes sociais, culminaram na renúncia do primeiro-ministro e
na nomeação de uma nova líder interina, Sushila Karki, a primeira mulher a
ocupar o cargo.
Conheci o país de perto em 2023, quando encarei um
dos maiores desafios da minha vida ao caminhar cerca de 130 km até o
acampamento base do Monte Everest. Em cerca de 20 dias de aventuras pelo país,
pude conhecer de perto a cultura e os desafios daquele lugar. Logo, é
impossível não fazer comparações com o Brasil.
Assim como o Nepal, somos um país mundialmente
reconhecido por nossos recursos naturais e vasta produção interna. Porém, de
nada adianta essa teoria positiva, sem que saibamos como transformar essa
capacidade em real prosperidade econômica.
Para driblar esse desafio, assim lá como aqui, a
resposta está na industrialização, um processo que não se limita às linhas de
montagem repetitivas, mas capaz de gerar produtos de alto valor agregado, que
gerem uma economia mais forte, independente, e a ampliação da oferta
empregatícia, sem que fiquemos reféns de poucos setores que não nos permitam
crescer e prosperar.
Em dados recentes divulgados pelo Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em informações da Unido
(agência da ONU para o desenvolvimento industrial), a indústria brasileira de
transformação subiu para a 25ª colocação em um ranking global de desempenho em
2024, o melhor resultado desde 2019.
Porém, segundo dados do IPEA, apenas 42% das
pequenas empresas nacionais adotam, pelo menos, uma tecnologia proveniente da
Indústria 4.0. Essa baixa quantidade alerta ao fato de que, a falta de
técnicas, metodologias e recursos tecnológicos de ponta em nossas empresas,
tornam os processos corporativos mais caros e difíceis de gerarem produtos de
alto valor agregado que alavanquem nosso mercado. Ainda mais, sem uma
governança estruturada por trás disso.
Isso mostra que, apesar do avanço da nossa
indústria, ainda sofremos grandes empecilhos em alavancar, significativamente,
nossa economia, sendo impactados por uma série de fatores externos como,
recentemente, o “tarifaço” do presidente americano, Donald Trump, o qual vem
gerando grandes preocupações nos empresários nacionais frente às novas
cobranças impostas. Isso porque, sem uma forte governança por trás, a restrição
comercial impactada por tais eventos é, certamente, preocupante para a
prosperidade de qualquer nação.
O Nepal está sujeito a este mesmo risco. O país
depende, majoritariamente, da agricultura e do ecoturismo para sua
sobrevivência econômica. Não à toa, o preço para escalar suas montanhas,
especialmente o Everest, varia muito, podendo ir de US$ 40 a mais de US$ 100
mil, dependendo do nível de serviço e da montanha escolhida. Isso, sem falar da
taxa de permissão, a qual aumentou para US$ 15 mil a partir de setembro de
2025.
Esses valores extremamente elevados evidenciam,
muito mais do que um ponto turístico de grande procura, uma medida decorrente
da falta de outros setores e mercados igualmente rentáveis que tragam
estabilidade econômica ao país, tornando-o refém de um único setor, sem que
consigam investir em inovações ou relações disruptivas que alavanquem seu
potencial mundial.
A melhor forma de evitar essa dependência é,
justamente, através de um maior incentivo à industrialização, um motor de
desenvolvimento pois, além de aumentar o poder econômico de um país, impulsiona
a inovação tecnológica, melhora a qualidade de vida da população, gera um maior
poder empregatício e eleva, dessa forma, a autonomia de uma nação com produtos
de maior valor agregado.
E, para estruturar esse movimento, a governança é
indispensável, a partir da qual se criará o ambiente necessário para que as
indústrias nasçam, cresçam e prosperem – seguindo uma série de boas práticas que
direcionem as melhores decisões visando esse desenvolvimento econômico.
Uma governança eficaz não apenas regula este
ambiente, mas também estimula a inovação na área. Por meio de subsídios,
créditos fiscais e parcerias público-privadas, por exemplo, o governo pode
encorajar as empresas a investirem em novas tecnologias e processos (PD&I),
cruciais para que não fiquem obsoletas.
Internamente, a mesma estruturação deve ser
conduzida, de forma que auxiliem as indústrias a seguirem as melhores
estratégias que alavanquem e mantenham esse potencial produtivo à longo prazo,
influenciando, positivamente, toda a cadeia econômica do país.
Fomentar a industrialização é mais do que injetar
dinheiro em fábricas, é um investimento na criação de empregos qualificados, na
inovação tecnológica e, fundamentalmente, na construção de um país mais forte e
resiliente. E, nesse sentido, a governança desempenha um papel crucial ao
fornecer a segurança e o suporte necessários para essa transformação,
alcançando patamares cada vez maiores de referência inovadora e econômica
global.
Assim, tanto Brasil quanto Nepal conquistarão mais
independência econômica, evitando que conflitos como o que vemos atualmente
tomem as ruas e impactem negativamente a vida da população. A industrialização
é a melhor saída para a prosperidade e a paz.
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