Por muito tempo, a experiência do transporte
rodoviário no Brasil foi marcada por desafios comuns, como: previsibilidade das
rotas, falta de informação em tempo real e dificuldades para comparar opções de
viagem. Mas esse cenário tem mudado - e rapidamente. A inteligência artificial
(IA), que já transformou setores como saúde, finanças e logística, agora se
volta para as estradas, e promete uma revolução na maneira como nos deslocamos
pelo país.
Uma pesquisa realizada pela ClickBus, com mais de 1.100 viajantes
rodoviários, revela um retrato claro das principais frustrações dos
passageiros. As maiores queixas envolvem a imprevisibilidade das viagens, como
atrasos e mudanças de última hora (59%), a complexidade na comparação de
horários e rotas (48%) e os problemas com cancelamentos ou alterações de
passagens (44%). Ou seja, o passageiro ainda vive um cenário de incertezas que
contrasta com a fluidez esperada na era digital.
É nesse contexto que novas tecnologias surgem como aliada
estratégica, não apenas para tornar a experiência mais eficiente, mas também
mais humana. O levantamento aponta que os usuários valorizam, sobretudo, funcionalidades
que tragam mais previsibilidade e controle à jornada, como a previsão de
atrasos, os alertas sobre embarque e paradas, além de um atendimento mais ágil
e personalizado.
Mais do que um simples suporte operacional, a IA começa a assumir
um papel ativo na experiência do passageiro, ao antecipar demandas e oferecer
respostas imediatas. Essa evolução não é apenas uma aposta das empresas; ela
encontra forte ressonância nas expectativas dos próprios consumidores. A
pesquisa revela um desejo claro por uma IA mais funcional e integrada ao dia a
dia. A eficiência é um dos principais atrativos: 71% dos
entrevistados gostariam de delegar tarefas repetitivas, como a
revisão de textos, liberando tempo para atividades mais estratégicas. Além
disso, 59% enxergam um valor imenso em sistemas capazes de processar e
sintetizar grandes volumes de informação, transformando dados
brutos em insights práticos.
A ClickBus já está em curso com essa transformação. Com um
investimento de R$ 15 milhões em sua própria plataforma, a empresa realiza um
movimento ousado que posiciona o Brasil como protagonista na modernização do
transporte intermunicipal.No cenário de intensa digitalização que redefine o
transporte rodoviário, a travel tech se posiciona na vanguarda ao implementar o
servidor MCP (Model Context Protocol), uma das tecnologias mais sofisticadas da
atualidade. Em um setor tradicionalmente analógico, essa iniciativa representa
um salto quântico: o MCP funciona como um "conector universal", uma
espécie de “porta USB” da inteligência artificial, permitindo a integração ágil
e autônoma entre múltiplos sistemas. Para o ecossistema de viagens de ônibus,
isso significa a criação de uma rede neural onde parceiros, operadoras e
plataformas podem se comunicar de forma fluida, otimizando desde a precificação
dinâmica até a gestão de assentos em tempo real, e aprimorando radicalmente a
experiência do cliente final.
Outro avanço promissor é o desenvolvimento de um assistente de
viagem conversacional. O passageiro já pode se comunicar em linguagem natural,
com comandos simples como: "quero ir para o Rio de Janeiro com R$
100". A interface cuidará de todo o planejamento, exibirá o cartão de
embarque no momento adequado e notificará sobre a chegada ao destino.
Estamos, portanto, diante de uma virada significativa. A
mobilidade rodoviária, historicamente lenta em adotar inovações, começa a
incorporar recursos que não apenas otimizam processos, mas reconfiguram toda a
experiência do usuário. Não se trata apenas de digitalizar o que já existe, e
sim de repensar a jornada como um todo, com soluções adaptáveis, empáticas e
focadas em eficiência.
Se o futuro do transporte for realmente mais previsível, acessível e centrado nas pessoas, será porque o setor teve coragem de apostar na inovação como ferramenta de mudança, e não apenas como modismo tecnológico. É esse tipo de visão que transforma tempo de espera em conveniência, e deslocamentos em experiências mais inteligentes e humanas.
César Carvalho - Diretor de Dados, Inteligência Artificial e Tecnologia na ClickBus
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