Nos últimos meses, o cenário global vem dando sinais claros de que estamos entrando em uma nova configuração geopolítica. Potências historicamente dominantes, como os Estados Unidos, passam a conviver com a ascensão de novos protagonistas. A decisão recente do governo americano de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros — o chamado “tarifaço” — é um exemplo concreto dessa mudança e já provoca efeitos imediatos, principalmente entre empresas e profissionais que dependem de negócios internacionais.
No universo do cross-border, que é
o conjunto das operações de pagamentos internacionais, essa medida pode abrir
espaço para a diversificação de moedas utilizadas nas transações. Porém, o
impacto mais previsível é a retração do volume movimentado. Isso porque muitas
empresas que vendiam para os EUA terão apenas dois caminhos: absorver o custo
adicional das tarifas ou redirecionar esforços para conquistar clientes em
outros mercados. Ambas as opções exigem ajustes significativos e mudam o fluxo tradicional
das operações.
Buscar novos mercados não é um
exercício trivial. Cada empresa terá de reavaliar seu portfólio, entender se
seus produtos ou serviços são competitivos em outras praças e, a partir daí,
identificar compradores potenciais. Alguns conseguirão se reposicionar
rapidamente; outros, não. Nesse período de transição, é natural que o número de
transações internacionais caia, já que parte da energia e dos recursos estará
voltada para prospecção — e isso afeta diretamente a receita. A queda no
faturamento, aliás, é hoje uma das maiores preocupações das companhias.
A lição é clara: não
concentrar todos os clientes em um único mercado deixou de ser uma
recomendação teórica para se tornar uma questão de sobrevivência. Diversificar
a base de parceiros comerciais é crucial, mas nem sempre viável para todos, já
que, no fim, são as leis de oferta e demanda que determinam onde e para quem se
consegue vender.
Nesse contexto, acredito que
as startups têm uma vantagem estratégica. Pela natureza enxuta e pela
cultura de experimentação, conseguem se adaptar mais rapidamente a mudanças
regulatórias e econômicas, criando soluções ágeis para cenários em mutação.
Novos mercados, novas moedas e novos corredores de pagamentos não são apenas
desafios técnicos: envolvem relacionamento, confiança e capacidade de execução.
Por isso, contar com parceiros com DNA de inovação — capazes de reagir rápido e
navegar em águas turbulentas — é determinante para preservar a viabilidade
econômica no longo prazo.
No fim, é nos períodos de instabilidade
que surgem empresas mais resilientes. E quem souber agir agora, de forma
estratégica e com coragem para se reposicionar, estará muito mais preparado
para enfrentar o que vier pela frente.
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