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sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Janeiro Roxo

 

Crédito: Angelo Esslinger para Pixabay

Diagnóstico tardio aumenta as chances de
contágio pela hanseníase


Dermatologista Theodoro Habermann, do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), esclarece que doença tem cura; tratamento precoce evita transmissão 

 

O último domingo de janeiro, que neste ano será em 26/01, é o Dia Nacional de Combate e Prevenção à Hanseníase. A data foi instituída no Brasil em 2009, com o objetivo de alertar e conscientizar a população e os profissionais de saúde sobre a doença. O país, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), tem a segunda posição mundial em casos anuais: cerca de 18,3 mil. Em 2016, o Ministério da Saúde (MS) criou a campanha “Janeiro Roxo”, que promove diversas ações para educar, prevenir, estimular o diagnóstico precoce e desmistificar crenças sobre a enfermidade, que, no passado, gerava grande estigma social, além de medo e preconceito. 

O médico dermatologista Theodoro Habermann Neto, do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), explica que a doença é causada pela bactéria Mycobacterium leprae, “prima” da tuberculose. “O contágio se dá por vias respiratórias, transmitida por contato próximo e prolongado com pessoas infectadas, e que não estão em tratamento. Algumas pessoas podem apresentar manchas na pele (brancas, rosadas, avermelhadas e acastanhadas), perder totalmente a sensibilidade no local ou ter alteração no tipo de sensibilidade, tais como dormência, formigamento ou sensação de coceira. Também podem deixar de suar no local, perder os pelos, ficar com a pele seca e até ter diminuição ou engrossamento da textura da pele. Em casos mais severos pode ocorrer o comprometimento de movimentos. A doença acomete a pele e o sistema nervoso periférico, que inerva vasos, glândulas, pelos, bem como nervo sensitivo e motor”, explica sobre os sintomas. 

Esses sinais não devem ser ignorados ou negligenciados. Quanto antes é feito o diagnóstico médico, menores são as sequelas e o risco de transmissão. “Hoje sabemos que a doença é curável e que, com o tratamento adequado, a transmissão é interrompida rapidamente”, diz o médico. “No entanto, a doença, apresenta um período longo de incubação, que varia de três a sete anos. E, às vezes, antes do paciente apresentar o quadro clínico, ele já pode transmitir a doença”, alerta.

 

Diagnóstico

Conforme Habermann, a hanseníase é identificada por meio de exame físico geral, dermatológico e neurológico. “Em alguns casos usamos exames complementares como a baciloscopia, que mede a carga de bactérias presente no organismo, e a biópsia, que remove um pedacinho da pele, com anestesia, e encaminha para confirmação do diagnóstico”, explica. 

Em crianças, o diagnóstico exige uma avaliação mais criteriosa, devido à dificuldade de aplicação e interpretação dos testes de sensibilidade.

 

Tratamento

O tratamento é feito com o uso de medicamentos antimicrobianos e não exige internação do paciente. A duração varia conforme a forma clínica da doença. “Os graus da hanseníase são classificados da seguinte forma: zero, quando o paciente não apresenta nenhuma alteração; um, quando apresenta apenas alterações sensitivas; e dois, quando há alterações motoras, úlceras e problemas de visão”, diz.

 

Negligência

“Quando a hanseníase não é tratada de forma adequada, pode deixar sequelas severas. Causando deformidades (devido à necessidade de amputações), incapacidade de algumas atividades, feridas difíceis de curar, úlcera, a pele pode ficar com caroços, ocorrer a perda de pelos inclusive na sobrancelha, coceira e irritação nos olhos, entupimento e sangramentos de feridas no nariz. Então, essas seriam as manifestações importantes de casos diagnosticados tardiamente”, diz.

 

Na história, diagnóstico já foi sentença de isolamento

O médico conta que, antigamente, a hanseníase era conhecida como lepra e os pacientes com a doença, nos idos de 1930, eram “condenados” ao isolamento. O Brasil tinha cerca de 18 “leprosários” e as pessoas acometidas pela doença eram destinadas a esses locais, devido a se tratar de uma doença altamente contagiosa e para a qual não havia tratamento. Esses locais funcionavam como pequenas vilas, com casas, alojamentos e supermercados. 

O isolamento era para que os doentes não contaminassem outras pessoas, pois havia um receio muito grande. Em alguns casos, outras doenças de pele, como a psoríase, acabavam sendo confundidas com a lepra e o paciente destinado aos leprosários. 

A doença também trazia um estigma religioso muito grande. Segundo o médico, era comum, que numa família de dez pessoas, apenas uma desenvolvesse a patologia, o que era considerado uma “maldição”. Com o tempo, descobriu-se que isso ocorre porque 92% das pessoas são resistentes a essa bactéria e mesmo com a proximidade de pessoas infectadas, não chegavam a desenvolve-la. 

Só em 1980, surgiu a cura para a doença, que deixou de ser chamada de lepra e passou a ser chamada de hanseníase. O tratamento é feito por meio da poliquimioterapia (PQT), uma espécie de coquetel de medicamentos que, além de curar, interrompe a transmissão e previne as deformidades. Foi neste período que os pacientes deixaram de ser isolados e a sociedade passou a conviver melhor com as pessoas em tratamento.

  

Vera Cruz Hospital


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