Levantamento do
Medscape expõe dinâmicas de poder e silenciamento em casos de assédio sexual no
setor médico brasileiro
Um estudo inédito realizado pelo Medscape
entre junho e setembro de 2024 revelou dados preocupantes sobre a frequência de
assédio, abuso e má conduta sexual na área da saúde no Brasil. A pesquisa
contou com a participação de médicos, residentes, enfermeiros e estudantes de
medicina e destacou as dinâmicas de poder, os perfis de assediadores e vítimas,
além das graves consequências emocionais e profissionais enfrentadas pelas
vítimas. Médicos foram apontados como os responsáveis pelo assédio em 46% das
experiências de assédio vividas pelos participantes vítimas desse tipo de
violência.
A pesquisa identificou, ainda, que o assédio ocorre
com maior frequência em situações de hierarquia, com 46% das vítimas sendo
assediadas por superiores, 37% por colegas de mesmo nível hierárquico e 17% por
subordinados. Um estudante de medicina relatou no levantamento que recebeu
convites para sair feitos por uma pessoa que não tinha intimidade para tal,
além de pedidos de informações de contato e redes sociais.
“Eu estava no estágio de Pediatria, no setor de
urgência, quando ocorreu o assédio. O preceptor médico me chamou para
acompanhá-lo na evolução dos pacientes na enfermaria. No meio do caminho,
começou a me fazer perguntas pessoais: se eu morava sozinho, em qual local, e
se eu namorava. Ele chegou, inclusive, a insinuar que eu devia aprontar
bastante por morar sozinho na cidade. Fiquei constrangido e tentei mudar de
assunto", comenta o estudante.
Além do assédio entre colegas, a conduta inadequada
por parte de pacientes também foi abordada no levantamento. Cerca de 15% dos
profissionais afirmaram ter enfrentado situações de sexualização explícita por
parte de pacientes, incluindo gestos, comentários inapropriados e convites para
sair, sendo que 8% receberam abordagens diretas que ultrapassaram os limites
profissionais.
Muitos profissionais relataram mudanças em seus
horários para evitar contato com os agressores, dificuldades de concentração,
atrasos e até absenteísmo. 37% dos entrevistados mudaram suas rotinas por medo
ou desconforto, enquanto 34% afirmaram que o assédio não influenciou
diretamente seu comportamento.
“Muitos desses profissionais que participaram da
pesquisa não denunciaram seus agressores por medo ou com receio de retaliação
no ambiente de trabalho. 78% das pessoas que responderam nosso questionário
on-line não denunciaram o perpetrador, sendo que 54% justificaram essa decisão
afirmando acreditarem que nenhuma providência seria tomada", comenta
Leoleli Schwartz, editora sênior do Medscape em português.
Cerca de 46% dos entrevistados acreditam que, nos
últimos cinco anos, o assédio sexual passou a ser tratado com mais seriedade no
ambiente de trabalho. Além disso, 70% apontaram que a cobertura midiática de
casos de assédio em outros setores, como esporte, cinema e política, contribuiu
para ampliar a conscientização e promover discussões mais abertas na área
médica.
Dados da pesquisa
O levantamento foi realizado com um total de 885
médicos, residentes, enfermeiros e estudantes de medicina assinantes do Medscape
em português, entre 11 de junho a 7 de setembro de 2024. com 57% homens e 43%
mulheres. O estudo completo pode ser encontrado em: https://portugues.medscape.com/assedio_e_abuso_na_saude_br_2024
Medscape
medscape.org
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