1. Estrutura do ENEM: Provas Fixas e a Necessidade de Diversidade de Dificuldades
O ENEM é uma prova fixa,
diferente de provas adaptativas, como o SAT americano. Em uma prova
adaptativa, o sistema ajusta o nível das questões conforme o desempenho do
candidato nas respostas anteriores, medindo com mais precisão a proficiência de
cada aluno.
No ENEM, essa adaptação não ocorre, e
o exame é elaborado para atender a diferentes perfis de candidatos e permitir a
aplicação da Teoria de Resposta ao Item (TRI). A TRI é um modelo
estatístico que depende de um conjunto variado de questões – fáceis, médias e
difíceis – para diferenciar candidatos de diferentes níveis de proficiência e
criar uma avaliação justa e coerente.
Estrutura do Público do ENEM
Com a variedade de questões, o ENEM é
capaz de atender a diferentes perfis de candidatos:
1. Certificação de
Ensino Médio (válido apenas em anos anteriores).
2. Cursos com Menor
Nota de Corte (licenciaturas e graduações menos concorridas).
3. Cursos Concorridos (exemplos:
direito, engenharia, odontologia).
4. Cursos de Alta
Competitividade (como medicina, o mais exigente em termos de nota de corte).
Essa diversidade
de dificuldades e públicos é essencial para que a TRI
funcione adequadamente e para garantir uma régua justa e
comparável entre os diferentes candidatos. Contudo, essa estrutura também faz
com que candidatos que não aspiram a cursos altamente concorridos, como
medicina, acabem expostos a questões mais difíceis, enquanto alunos que desejam
medicina se deparam com questões que, para eles, são fáceis demais. Essa
variabilidade de dificuldade é necessária para o cálculo da TRI,
que depende de um conjunto diversificado de respostas para avaliar o desempenho
e a coerência de cada candidato em relação a todos os perfis presentes na
prova.
2.
Preparação e Expectativas de Acertos
A preparação
para o ENEM exige que o candidato alinhe suas expectativas de acordo com o
nível de preparo e as exigências dos cursos pretendidos. Em média, as
expectativas de acerto se dividem em três níveis:
·
20 acertos por área: candidatos que
estão nos primeiros passos de preparação para o ENEM.
·
30 acertos por área: preparação
intermediária, voltada para cursos de competitividade média.
·
40 acertos ou mais por área: candidatos
altamente preparados, voltados a cursos de alta exigência, como medicina.
É essencial que
o aluno trabalhe no dia das provas dentro do seu nível de preparo atual, pois
tentar acertar mais do que está capacitado pode reduzir a nota final. Isso
ocorre porque a nota do ENEM é baseada na coerência das respostas
do candidato, avaliada pelo sistema TRI.
TRI
e Coerência das Respostas
A nota do
ENEM não se resume apenas ao número de acertos, mas sim ao construto
do aluno, que é uma análise da coerência das respostas
em relação ao número de acertos e à probabilidade que o aluno tinha de acertar
cada questão. Esse construto é comparado ao perfil de respostas dos demais
candidatos. A TRI utiliza uma combinação de:
·
Número total de acertos.
·
Coerência dos acertos em relação ao
nível de dificuldade das questões.
· Probabilidade de acerto: a TRI avalia se o aluno acertou as questões esperadas para seu nível de conhecimento e se houve consistência nos acertos.
Dessa forma,
quanto maior a coerência dos acertos em questões de diferentes
dificuldades, maior será a pontuação do candidato. A TRI considera,
portanto, tanto o número de acertos quanto a consistência dessas respostas em
relação ao desempenho esperado para o perfil do aluno.
Exemplo
de Coerência e a Importância de Pular Questões Difíceis
Em uma prova do
ENEM, uma questão de matemática sobre o sistema de contagem dos incas teve uma
taxa de acerto de 66% quando era a primeira questão,
mas caiu para 44% ao aparecer na posição 42 em outra cor de prova.
Esse exemplo reforça a importância de pular questões muito difíceis ou que demandam muito
tempo, para conseguir chegar a outras mais acessíveis. Muitos
candidatos não conseguem finalizar a prova ou desistem no meio, especialmente
no segundo dia, que cobre Matemática e Natureza. A questão citada era uma
questão com nós em cordas, sobre o sistema de contagem dos Incas. Erá um item
fácil, mas quem não chegou até o fim da prova de cor em que a questão era a 42
perdeu a oportunidade de mostar que sabia resolvê-la e diminui sua nota tanto
por ter errado a questão como por ter ter uma nota menor teve dimunuída quant
que a TRI entendeu que o aluno tinha de probabilidade de acertar todas questões
que acertou.
3.
Estratégia de Início: Comece pela Área de Maior Afinidade
Em qualquer
vestibular, concurso ou prova com áreas ou temas diferentes, começar pela área
de maior afinidade é a estratégia recomendada. Essa
abordagem tem os seguintes objetivos:
·
Manter a autoestima e a confiança
altas logo no início da prova, o que reduz a ansiedade.
·
Facilitar a concentração e o ritmo da prova, ao começar por uma
área que gera mais segurança e prazer.
Essa estratégia
é válida para qualquer exame com mais de uma área, pois essa prática permite
que o candidato entre no ritmo adequado desde o começo.
4.
Estratégia de Resolução das Questões
A ordem de
resolução no ENEM deve seguir uma lógica de construção de um construto
sólido de coerência nas respostas, maximizando o tempo e a
pontuação de forma eficiente.
·
Não existe uma ordem fixa para começar pelas
questões fáceis ou médias. A orientação é resolver as questões conforme
aparecem e responder aquelas que:
·
Lhe parecem fáceis.
·
Lhe parecem médias.
·
Lhe parecem que sabe fazer sem gastar
muito tempo.
·
Pule as questões que:
·
Não sabe resolver no momento.
·
Demandam muito tempo para concluir, mesmo que saiba
como resolver.
Essa abordagem economiza
tempo e permite que o aluno garanta pontos em questões mais prováveis dele
acertar, criando uma base sólida de coerência que o sistema TRI valoriza.
5.
Mudança para a Segunda Área do Dia e Passagem para o Gabarito
Após passar por
todas as questões da primeira área do dia e responder as que lhe parecem
fáceis, médias ou rápidas, avance para a segunda área e repita a mesma
estratégia:
·
Resolva as questões que lhe parecem fáceis, médias
ou rápidas, sem buscar uma ordem específica.
·
Após completar a primeira passagem nas duas áreas do dia, passe todas
as respostas dessas questões resolvidas para o gabarito.
Essa prática
solidifica o construto e organiza o tempo para a tentativa de resolução das
questões mais difíceis.
6.
Estrutura da Redação: Leitura Atenta e Organização
Os alunos que
recebem este manual já possuem uma excelente preparação para a redação,
orientados por professores qualificados. As orientações aqui propostas são complementares
ao que já foi aprendido, oferecendo um “plus” caso o aluno consiga incluir no
texto. Sabemos que o tempo é curto e que o contato com esse material foi
recente, portanto, o foco deve ser nas recomendações que os professores de
redação já ensinaram.
Comando
e Esboço Inicial
A redação do
ENEM possui uma estrutura rigorosa. Antes de iniciar o texto, recomenda-se ler a
proposta e o comando para entender o tema. Isso ajuda a manter
o foco e ter clareza do que é solicitado. O comando determina a linha que o
aluno deve seguir.
·
Comando: Essa é a
instrução exata de abordagem. Um exemplo real é o comando do ENEM que pedia a
análise da persistência da violência contra a mulher no Brasil.
Muitos candidatos desviaram o foco e escreveram sobre a violência contra a
mulher de forma geral, o que prejudicou a nota.
Ao longo da
prova, a reflexão sobre o comando pode se desenvolver, já que algumas questões
podem até dialogar com o tema da redação, proporcionando ideias e vocabulário
para o texto.
7.
Construção da Redação: Dicas para um Texto Mais Completo
Após a leitura
do comando e da proposta e após resolver as questões que lhe parecem
fáceis, médias e as que sabe fazer
sem gastar muito tempo, o aluno deve passar para a redação
antes de voltar para as questões deixadas em aberto. Isso
permite que o aluno escreva com mais fluidez e ainda aproveite ideias colhidas
nas questões.
Além disso,
devido ao aumento expressivo de redações acima de 900 pontos (de 40 mil para
240 mil), seguem algumas dicas adicionais para quem quiser enriquecer o texto.
Esses pontos são um diferencial, mas não substituem o aprendizado obtido em sala:
1. Originalidade e
Criatividade Argumentativa.
2. Profundidade
Crítica e Análise Complexa.
3. Estilo Literário
Sofisticado e fluência no texto.
4. Integração com
Repertório Sociocultural Relevante.
Recomendação: Encare a redação como se ela pudesse valer mais de 1000
pontos, e entregue um texto completo e diferenciado.
Uso
de Conectivos e Variação de Frases
Além dos
conectivos comuns, utilize também conectivos menos comuns,
como um complemento para tornar a redação mais coesa e fluida. Textos que a
partir do segundo parágrafo começam com conectivos que guiam a sequência lógica
do texto são bem avaliados pelos corretores. Além disso, intercalar
frases curtas e longas proporciona um texto mais dinâmico e
interessante para o leitor.
8.
Tentativa de Resolução das Questões Mais Difíceis
Após concluir a
redação, retorne para as questões que havia deixado em aberto. Agora, vá uma a uma,
resolvendo as que parecerem mais viáveis.
Dica: Caso o tempo esteja se esgotando, deixe as questões mais
difíceis para o final e, se faltar tempo, chute diretamente no gabarito. Nunca deixe
questões em branco, pois isso prejudica a nota.
9. Preparação
Física e Mental para o Dia da Prova
Nos dias que
antecedem o ENEM, é importante priorizar o bem-estar físico e mental:
·
No sábado: Realize
atividades leves, passe tempo com a família e relaxe. Se houver aulão na
escola, encare-o como um encontro para descontrair e não se pressione para
aprender conteúdo novo na véspera da prova.
·
Evite telas eletrônicas nas horas antes de
dormir, pois a luz azul interfere na qualidade do sono.
Na manhã da
prova, faça uma caminhada leve antes de sair de
casa. Estudos mostram que exercícios leves aumentam a concentração e o número
de acertos, pois estimulam a dopamina e endorfina, o que ajuda na calma e no
foco.
10.
Alimentação e Hidratação Durante a Prova
No dia da prova,
faça uma refeição leve por volta das 11h, preferindo:
·
Saladas e proteínas leves.
·
Carboidratos complexos, que mantêm energia estável.
Caso tenha
desconforto em usar banheiros externos, tomar dois comprimidos de Imosec
pode ser uma solução preventiva.
Importância
da Alimentação durante a Prova
·
Comer adequadamente evita que o corpo produza corpos
cetônicos, que substituem a glicose e podem causar fadiga
mental, cansaço e até dor de cabeça.
·
Prefira frutas frescas ou secas, barrinhas de cereal com
castanhas combinadas com frutas secas e chocolate
amargo (70% ou mais), pois oferecem uma liberação lenta de
glicose. Evite chocolates comuns, pois eles causam picos e quedas de glicose, o
que pode prejudicar o rendimento.
Beba água ou chá
verde gelado aos poucos, a cada 20-30 minutos, pequenos goles.
O chá verde é uma boa opção por conter cafeína em quantidades moderadas,
ajudando na concentração sem causar agitação excessiva.
11.
Pausas e Alongamentos
Durante a prova,
se o tempo permitir, vá ao banheiro sempre que quiser e aproveite o
caminho para fazer alongamentos e relaxar. Além disso, dentro
da sala, faça exercícios leves com ombros e braços para ajudar a:
·
Aumentar a oxigenação do cérebro e melhorar a circulação.
·
Reduzir a tensão muscular e manter a
mente alerta, evitando fadiga mental.
·
Realizar
alongamentos e pequenas pausas ao longo de uma prova extensa e desafiadora como
o ENEM ajuda a melhorar o desempenho e a manter a resistência até o final do
exame.
Este manual
reúne estratégias práticas e baseadas em estudos científicos para garantir que
cada candidato maximize seu potencial, abordando o ENEM com uma abordagem
equilibrada, consciente e eficiente.
Mateus Prado - Especialista em ENEM e TRI. Assessor Especial do Faria Brito, a primeira escola no ENEM do Brasil
instagram.com/enemmateusprado
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