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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Outubro Rosa: casos de jovens com a doença estão aumentando no Brasil

 

Mastologista destaca a importância do diagnóstico precoce e exames de rotina

 

A campanha do Outubro Rosa é mundialmente reconhecida e relembra às mulheres a importância dos exames de rotina e da atenção diária aos sinais do corpo. Mas ainda há muitas dúvidas com relação a doença. Pensando nisso, a Inspirali, principal ecossistema de educação médica do país, convidou o Dr Marcos Medeiros, mastologista e professora da UniSul Campus Tubarão, para esclarecer as principais dúvidas da população em relação ao tema. Confira:

 

- Câncer de mama é hereditário?

R: Todos os tipos de câncer, independente se for de mama ou outros tipos, o fundo sempre vai ser genético. Sempre será um gene de uma célula que vai se modificar, essa célula vai se proliferar de uma maneira incorreta e formando aquela tumoração. Porém, esse gene pode se modificar ou por alterações ao longo da vida e exposição a algo que gere essa modificação - como cigarro, obesidade, álcool - ou pode ser um gene defeituoso de fábrica. Como costumo dizer, a pessoa já nasceu com aquele gene com alguma mutação, e esse gene em específico pode predispor um câncer de mama ao longo da vida. Consideramos que aproximadamente 10% a 15% dos cânceres de mama são hereditários, ou seja, essas pessoas herdaram esse gene, essa mutação de gene familiar, e elas têm essa predisposição ao câncer de mama ao longo da vida. Agora, a grande maioria, 85% dos cânceres de mama, consideramos cânceres esporádicos, que não são hereditários. Desses, a maioria é por alguma mutação que ocorreu ao longo da vida, ou seja, não tem esse peso de hereditariedade.

 

- Estilo de vida saudável ajuda a evitar a doença?

R: Um estilo de vida saudável com certeza protege não só para o câncer de mama, mas para qualquer tipo de câncer. Atividade física regular, alimentação equilibrada, sem excessos, o não consumo de bebida alcoólica, o não consumo de cigarro, isso tudo entra como fator protetor. Além disso, para o câncer de mama em específico, a questão de amamentação, em um período mais prolongado de dois anos ou mais, isso também geraria um fator protetor para câncer de mama. Quanto aos fatores de risco, tabagismo, obesidade e outros excessos - de carboidratos, gordura, por exemplo - isso acaba aumentando o risco. O uso de anticoncepcional e reposição hormonal estão também relacionados, eles aumentam o risco, mas é muito pouco.

 

- Quem está mais propensa a contrair a doença?

R: A questão de história familiar é muito positiva, então, principalmente parentes de primeiro grau que tiveram câncer de mama e ovário muito cedo, antes da menopausa, abaixo dos seus 50 anos, isso vai impactar naquele familiar um risco um pouco maior. Se esse familiar, porventura, tenha tido câncer de mama bilateral ou câncer de mama e ovário, seria uma questão para ficar mais atento. Logicamente, a paciente que já teve câncer de mama está mais propensa a ter um novo câncer, então ela tem um alto risco para isso. Pacientes que fizeram radioterapia no tórax, por pegar a mama, essa radiação pode gerar um risco futuro. E aquelas que já foram testadas geneticamente e vieram com algum gene em específico alterado que aumenta o risco para câncer de mama.

Quanto à idade da mulher, sabemos que quanto maior a idade, maior risco para câncer de mama. Uma paciente mais idosa vai ter mais risco de câncer de mama do que uma paciente menos idosa. A cada ano que passa tem maior chance de ter um câncer de mama, mas o pico de incidência vai girar entre os 50 e 60 anos. As pacientes na pós-menopausa têm mais risco de ter câncer de mama do que na pré-menopausa.

 

Casos de câncer de mama estão crescendo no Brasil?

R: Vemos um aumento gradativo ano a ano. Mais de 70 mil novos casos são estimados no Brasil para 2025, mas tem uma proporção um pouquinho maior de pacientes jovens. Há alguns anos o percentual, por exemplo, de pacientes de 35 anos ou menos com câncer de mama, do montante, seria em torno de 2% dos casos. Já hoje vemos um incremento e agora está por volta dos 4, 5% nessa faixa etária. Não sabemos dizer o motivo deste aumento, talvez pelo estilo de vida, alimentação, mas tem esse pequeno incremento. Mesmo com este aumento de jovens, as pacientes mais acometidas são pós-menopausas e quanto mais idade, maior o risco.

 

- Mulheres com prótese de silicone têm mais propensão em contrair a doença?

R: Prótese mamária não aumenta risco para câncer de mama e não dificulta o rastreio. Mulheres com prótese também fazem mamografia normalmente, sem dificuldade no diagnóstico. Foi se documentado, há alguns anos, a questão de linfoma de mama, ocasionada por uma prótese específica, de uma marca específica. Linfoma de mama é uma condição muito rara e esse em específico, linfoma de grandes células, era de letalidade muito baixa, bem tratável.

 

- Nódulos nas mamas são sinal de câncer?

R: Nódulos comprovadamente benignos como fibroadenoma, em sua grande maioria não aumentam o risco para câncer de mama. O fato de eles existirem não vão gerar um risco futuro para uma mudança de padrão e aquilo ali virar um câncer, então eles não aumentam o risco de câncer de mama. Especificamente fibroadenoma, que é mais comum, não tem risco.

 

- Câncer de mama pode ser causado por algum tipo de trauma no seio (batida)?

R: O fato de ter uma batida na mama não vai gerar um risco futuro para a câncer. Muitas vezes essa correlação ocorre porque provavelmente a paciente já tinha o tumor e uma batida a forçou a apalpar a mama por conta da batida por conta da dor, e ali sentiu um nódulo e associou com o trauma, mas não quer dizer que o trauma seja motivo de aparecimento do câncer de mama, então não existe essa relação. Dor na mama, que a gente chama de mastalgia, também em geral não é um sintoma de câncer de mama. Ela, muitas vezes, está mais relacionada com a oscilação hormonal do que propriamente com alguma patologia.

 

- Quais os sintomas do câncer de mama?

R: A retração de pele ou de mamilo, alteração de pele deixando-a mais espessa, mais avermelhada, descamando, pode, porventura, ser uma alteração relacionada a um câncer de mama. Outro sintoma é a saída de secreção pelo bico do peito, que a gente chama de descarga papilar, isso também em alguns casos pode estar envolvido.

 

- Câncer de mama tem cura? Qual a probabilidade?

R: O câncer de mama, como qualquer outro câncer, também pode ser curado. Porém, como mencionei anteriormente, mesmo a paciente curada sempre vai estar em acompanhamento, pois ela tem mais risco de ter um novo câncer. Mas quanto mais precoce o tumor, quanto menor o tamanho, sem comprometimento de ínguas embaixo do braço, isso favorece o tratamento, então quanto mais precoce ele é descoberto, a chance de cura é enorme, chega a mais de 95% em estágios iniciais. E quanto mais avançada a doença, então maior o nódulo, maior o tumor, já com o comprometimento de ínguas, isso tudo vai diminuindo a chance de cura. Não que não há possibilidade, mas vai diminuindo. E até na situação quando a doença já se espalhou para outras partes do corpo, falamos que a doença não seria mais curável, mas sim controlável, então a gente sempre tenta o controle. Mas quando a doença é localizada, sempre visamos a cura e quanto menor o estadiamento, disparadamente maior a chance de cura, daí a importância do diagnóstico precoce, que é o rastreamento com mamografia, por isso nós, médicos, batemos tanto nesta tecla.

 

- Quando devemos fazer mamografia?

R: A partir dos 40 anos na população geral, com a periodicidade anual, e os trabalhos mostram benefício até os 75 anos, mas logicamente dependendo da expectativa de vida de cada mulher, isso vai se prolongando, lembrando que o rastreio, o que seria, ele visa o diagnóstico precoce de determinada doença, e nesse diagnóstico precoce, o impacto do rastreio é diminuir mortes por aquela doença, então, visando o diagnóstico precoce, você consegue melhorar o tratamento por aquela doença. A mamografia não vai prevenir o câncer de mama, ela vai prevenir mortes por câncer de mama, então, é esse o objetivo do rastreamento, e por isso que se preconiza, a partir dos 40 anos.

 

- Mulheres negras tem mais risco de óbito? Por quê?

R: Recentemente foi visto que temos subtipos de câncer de mama, e isso muda em termos de agressividade, então tem tumores um pouco mais agressivos sabidamente, outros menos, tem ou não receptores hormonais e por aí vai. As mulheres negras têm uma proporção um pouquinho maior de terem um subtipo chamado triplo negativo, que em tese é um subtipo um pouco mais agressivo. Por conta disso, tem se evidenciado não só no Brasil, um incremento em relação à mortalidade na população negra por conta disso, provavelmente, são os dados aí preliminares.

 

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