O Brasil atravessa uma crise ética. É patente a aceitação e banalização da perda dos valores morais evidenciada pelo comportamento dos governantes e pela anestesia da sociedade, em um péssimo exemplo para as futuras gerações.
Estamos nos tornando rapidamente um país que tem
facilitado em muito a vida de criminosos, inclusive de facções organizadas e
não é à toa que, segundo ranking da Organização das Nações Unidas (ONU), o
Brasil é hoje o país com o maior número de homicídios do mundo. O Estudo Global
sobre Homicídios 2023, no ano passado o Brasil registrou 45.562 homicídios,
mais do que a Índia, a segunda colocada nesse ranking macabro, que somou 41.330
casos, mas tem população quase sete vezes maior que a brasileira.
Nossa situação é comparável à dos países em guerra,
inclusive com notícias de intimidação e infiltração de agentes públicos,
coagindo o serviço público a contratar com empresas de fachada. Qual é o
limite?
A história recente é um alerta. Nos últimos 35
anos, o Brasil teve eleições de dois em dois anos, respeitando integralmente as
leis e os resultados das urnas, como deve ser numa democracia. E o que
aconteceu? Nesse período, elegemos cinco presidentes da República e acabamos
empossando sete. Dois presidentes (Fernando Collor de Mello e Dilma Roussef)
sofreram impeachment, um (Luiz Inácio Lula da Silva) foi condenado e preso após
o exercício do segundo mandato e posteriormente foi “descondensado”. Outro
(Michel Temer, que assumiu com o impeachment de Dilma), chegou a ser detido,
mas não foi preso; um (Fernando Henrique Cardoso) saiu com baixíssima
aprovação, praticamente e o último (Jair Bolsonaro), por inabilidade e diante
das dificuldades impostas pelo sistema não conseguiu governar, perdeu a
reeleição, está inelegível e ainda responde vários processos. O país está
diante de uma anomalia muito grave e séria que não pode ser banalizada e
relegada ao segundo plano, e sim enfrentada com urgência.
O Brasil é uma república federativa, democrática,
que tem como alicerce a liberdade de expressão, política, de culto, econômica
etc., e cuja Constituição Federal traz entre os objetivos fundamentais uma
sociedade livre, justa e solidária, na qual todos são iguais perante a lei. A
realidade, porém, é muito diferente. Não temos liberdade plena; somos uma
sociedade tremendamente injusta, a começar pelas desigualdades regionais,
sociais e de oportunidade, fortemente egoísta e solidária apenas nas tragédias,
pois cultivamos privilégios para poucos e obrigações para muitos.
É muito difícil aceitar que os cidadãos comuns, se processados por crimes,
sejam julgados por juízes de 1ª instância enquanto outros têm seus processos
tramitando originalmente nas cortes superiores cujos magistrados, aliás, são
nomeados pelos governantes. E estes privilegiados não são poucos, somam mais de
50 mil com foro por prerrogativa de função, número sem similaridade em nenhum
outro país do mundo.
A sensação é a de que somos uma monarquia com mais de 50 mil regentes, ou de
que estamos reeditando as capitanias hereditárias de 1530, quando o rei Dom
João III, diante da imensidão do território brasileiro, então colônia
portuguesa, criou 14 capitanias nomeando 12 donatários e conferindo a eles
todos os privilégios e somente duas obrigações coletar e pagar tributos à
Coroa. Os brasileiros das classes C, D e E de hoje se assemelham a vassalos
modernos porque têm pouquíssimos direitos e muitas obrigações. Os donatários do
Século XXI são os donos do poder, sempre beneficiados pelos mais diversos
privilégios.
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