Cigarro, álcool e HPV são as principais causas de câncer de cabeça e pescoço
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Localizada no pescoço, entre a traqueia e a
cavidade oral, a laringe é o órgão onde estão as cordas vocais. Os
principais fatores que têm relação com o desenvolvimento do câncer de laringe
são o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas, especialmente a combinação
dos dois. Esse tipo da doença, incluindo a supraglote, glote e subglote, é mais
comum em homens a partir de 40 anos. Cerca de 75% das lesões
são detectadas inicialmente nas cordas vocais e podem desencadear
sintomas como dor de garganta, rouquidão e dificuldade de engolir.
O cirurgião de cabeça e pescoço e coordenador da
Comissão de Neoplasias de Cabeça e Pescoço da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Oncológico (SBCO), Carlos Santa Ritta, explica que a
investigação de um simples sintoma, como rouquidão, já seria capaz de aumentar
consideravelmente as taxas de diagnóstico precoce no país. “Seria o ideal que,
ao apresentar um padrão de voz diferente e persistente, a pessoa procurasse um
especialista. Pode ser um otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo, pois a
rouquidão persistente já pode ser um indício de lesão na prega vocal e deve ser
avaliada por um exame de viodelaringoscopia”, alerta.
Quanto mais precoce for o diagnóstico de um tumor
maligno na laringe, maior é a probabilidade e preservação da laringe. Nesses
casos, comenta o especialista, a tomada de decisão por uma laringectomia total
ou parcial depende do grau de comprometimento do órgão. “Se for apenas em uma
prega vocal, o cirurgião pode optar pela cirurgia parcial, pois já menor risco
de impactar na capacidade do paciente de deglutição e fonação”, orienta.
Quando a doença é diagnosticada na fase mais
inicial, ainda restrita à laringe, as chances de cura (o paciente estar vivo
cinco anos após o tratamento) são de 78,9%, aponta o levantamento SEERS, do
Instituto Nacional de Câncer, dos Estados Unidos. Quando a doença se espalha
para os linfonodos a taxa de cura cai para 47,7%. Em casos de metástase,
registra taxa de 34,4%. No mundo, foram registradas mais de 103 mil mortes por
câncer de laringe em 2022, segundo a Agência Internacional para Pesquisa do
Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS).
SINAIS E SINTOMAS
Os principais sintomas de
câncer de laringe, que podem variar de acordo com a localização e estágio da
doença, são:
- Rouquidão
ou alterações na voz;
- Dificuldade
para engolir alimentos ou sensação de algo preso na garganta;
- Dor
de garganta ou de ouvido persistentes;
- Caroço
no pescoço;
- Tosse
constante;
- Problemas
respiratórios;
- Perda
de peso sem motivos.
Ressalta-se, ainda, que os sintomas em si podem não
ter relação com o câncer de laringe, mas não se pode descartar a possibilidade
e o ideal é consultar um médico especialista para uma avaliação mais minuciosa.
Prevenção do câncer de laringe
- Não
fumar nenhum produto e evitar o tabagismo passivo
- Evitar
o consumo excessivo e constante de bebidas alcoólicas
- Manter
o peso corporal adequado
- Cuidar
da saúde da voz
CÂNCER DE CAVIDADE ORAL
Outro câncer de alta prevalência em cabeça e
pescoço é o que atinge a boca (ou cavidade oral), também se destacando o fato
de ser mais comum entre os homens. Os números indicam 10.900 casos entre os
homens e 4.200 entre as mulheres, com uma incidência quase três vezes maior. A
cavidade oral corresponde a gengivas, língua, lábio, soalho bucal (a parte que
fica embaixo da língua), palato duro (céu da boca), e a área atrás dos dentes
do siso (retromolar).
De acordo com a IARC/OMS, mais de 1,5 milhão de
novos casos de câncer de cabeça e pescoço são registrados anualmente, no mundo,
com número de mortes anuais girando em torno de 460 mil óbitos. Os dados
confirmam o impacto da doença como um problema de saúde global. É comum que os
tumores de cabeça e pescoço – exceto o de tireoide – sejam diagnosticados de
forma tardia, de 70% a 80% dos casos. A descoberta da doença em fase avançada
torna o tratamento mais complexo, oneroso e com menos chances de sucesso.
Entre as principais causas de câncer de cabeça e
pescoço estão o tabagismo, figurando em primeiro lugar, seguido pelo consumo de
álcool e a infecção pelo vírus HPV) e, portanto, são doenças evitáveis. A
atenção aos sinais de alerta também faz diferença para ajudar no diagnóstico
precoce. Outras causas que aparecem são lesões pré-malignas, baixa resposta
imunológica, além da infecção pelo vírus Epstein-Barr.
De acordo com o cirurgião oncológico Rodrigo
Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO e titular do Hospital
de Base, de Brasília, as lesões que não cicatrizam em até três semanas, devem
ser um sinal de alerta. O cirurgião também explica que a cirurgia oncológica
não pode ser o procedimento indicado quando há um risco de complicação severa,
algo que costuma acontecer com tipos de lesões mais volumosas e agressivas.
“Vou citar o exemplo de um tumor que acomete toda a extensão da língua. Nesse
caso, o paciente precisa fazer uma cirurgia para a remoção completa dela,
tornando a cirurgia incompatível com um padrão de qualidade de vida aceitável”,
exemplifica. Em um caso como esse, conforme o especialista, o recomendado
seria um tratamento neoadjuvante – composto por quimioterapia ou radioterapia
antes da cirurgia – de tal modo que o tumor possa ser reduzido e passe a ser
ressecável. “Há também as situações em que o tumor é retirado e o tratamento
adjuvante é a escolha feita, com a quimioterapia ou radioterapia depois da
cirurgia”, complementa Santa Ritta.
Os principais sintomas de
câncer de cavidade oral, que podem variar de acordo com a localização e estágio
da doença, são:
- Leucoplasia:
área esbranquiçada na cavidade oral, parecida com uma afta, que não
melhora
- Eritroplasia:
mancha vermelha persistente na cavidade oral, que pode sangrar
- Ferida
na boca que não cicatriza, após 15 dias
- Perda
ou amolecimento de dentes
- Nódulo
no pescoço
- Massa
ou nódulo na língua, nas gengivas ou no rosto
- Dificuldade
para mexer a língua, mastigar ou engolir alimentos
- Mau
hálito constante
- Perda
de peso inesperada
O especialista orienta que, ao observar alguma
alteração suspeita, é importante que se busque avaliação de um cirurgião
oncológico, cirurgião de cabeça e pescoço ou otorrinolaringologista. Nesses
casos, o cirurgião-dentista também é uma figura importante na detecção da
doença, já que na maioria das vezes ele é o primeiro profissional a ter contato
com lesões suspeitas.
Depois de realizado o exame clínico, caso haja
hipótese de câncer, haverá a necessidade de realização de biópsia. Nesse
procedimento, parte da área onde há desconfiança de câncer é removida para
análise microscópica. Nesse tipo de exame, o paciente pode precisar de
anestesia local ou geral, a depender de onde o tumor estiver localizado. Quando
se tem o diagnóstico precoce, as chances de cura – de o paciente estar vivo
cinco anos após o diagnóstico – superam os 90%.
Formas de prevenção de câncer
de cavidade oral
- Não
fumar
- Evitar
o consumo de bebidas alcoólicas
- Manter
o peso corporal adequado
- Manter
boa higiene bucal
- Usar
preservativo (camisinha) na prática do sexo oral
- Tomar
a vacina contra o Papilomavírus Humano-HPV
Importância da formação
continuada
Por conta das evidências científicas, as principais
causas da maioria dos subtipos de câncer de cabeça e pescoço são conhecidas e,
nesse caso, é fundamental que os médicos e demais profissionais de saúde,
principalmente aqueles que atendem na saúde primária, nos postos de saúde,
tenham capacidade de fazer a suspeição adequada. “Dentistas, fonoaudiólogos e
otorrinolaringologistas são especialistas que devem conhecer melhor os tumores
de cabeça e pescoço para que possam contribuir de forma mais assertiva para a descoberta
precoce da doença”, ressalta Carlos Santa Ritta, ao mencionar a importância da
educação continuada dos profissionais de saúde.
Diagnóstico em fase avançada e
complexidade do tratamento
O tratamento cirúrgico é crucial para tumores de
cavidade oral e tireoide, bem como a avaliação do cirurgião de cabeça e pescoço
é fundamental para se decidir a melhor opção de tratamento para tumores de
laringe e faringe. A forma de abordagem vai depender do tipo de câncer,
estadiamento (fase de diagnóstico) e outras características clínicas do
paciente, como a idade. Quanto mais cedo se descobre a doença, maior é a chance
de o tumor ser ressecável (passível de cirurgia) e de forma menos agressiva, o
que determina o aparecimento de menos sequelas e melhor qualidade de vida.
Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica - SBCO
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