A discussão em torno da utilização do celular nas escolas ganhou um novo capítulo nos últimos meses. Isso porque um projeto de lei que visa proibir o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos pelos estudantes nas unidades escolares, tanto em instituições públicas quanto privadas do estado de São Paulo, foi protocolado e está sendo discutido atualmente na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).
O Projeto
293/2024 visa proibir o uso de celulares durante todo o período
escolar, incluindo os intervalos, permitindo seu uso apenas para necessidades
pedagógicas específicas em conteúdos digitais e ferramentas educacionais, bem
como para atender estudantes com deficiências que requerem tecnologias
assistivas específicas.
Mas seria essa uma solução
adequada para diminuir e controlar o uso constante de smartphones por crianças
e adolescentes? Segundo um levantamento do IBGE, em 2022, 84,7% dos
adolescentes a partir dos 14 anos possuíam seu próprio celular. Diante desse
cenário, a escola pode desempenhar um papel essencial na orientação sobre o uso
do celular, um dispositivo que se tornou parte integrante da rotina dos jovens.
A tecnologia
oferece acesso a informações e recursos inéditos, e educar os estudantes para
usá-la de forma crítica, produtiva e consciente é essencial para o
desenvolvimento de uma cidadania digital responsável.
Como conscientizar
sobre o uso do celular nas escolas?
Existem diversas maneiras de
integrar os smartphones às atividades escolares. Os professores podem criar
trilhas de aprendizagem onde os estudantes resolvem problemas utilizando
recursos diversos. O celular pode ser uma ferramenta valiosa para medições,
pesquisas, organização de ideias, atividades colaborativas e apresentações.
Isso potencializa o desenvolvimento de habilidades de maneira significativa e
direcionada.
É possível, ainda, organizar
atividades lúdicas, como dinâmicas de perguntas e respostas com Kahoot, e
utilizar jogos como Minecraft para ensinar geografia, Scratch para algoritmos
em matemática, e Tinkercad para modelagem 3D e robótica. O Microsoft Teams pode
ser usado como ferramenta de comunicação e produção colaborativa, permitindo a
formação de equipes de trabalho.
Entretanto, estabelecer regras
coletivas com a participação dos estudantes sobre quando, onde e como usar o
celular, incluindo advertências relacionadas ao uso inadequado, é fundamental.
Além disso, o corpo docente deve ser incentivado a promover o bom uso do
celular e conscientizar sobre os perigos de sua utilização inapropriada.
Cuidados a serem
tomados
O uso sem fins pedagógicos
específicos pode banalizar a ferramenta. Jogos, redes
sociais, entre outros aplicativos podem causar distrações,
fomentar a busca de respostas prontas ou cópia de trabalhos, e trazer problemas
à saúde física devido ao uso prolongado. Além disso, o cyberbullying, embora
não exclusivo dos smartphones, é facilitado por eles.
O primeiro desafio, nesse contexto, é monitorar o uso do celular para que não ocorra desvio de foco. Também é preciso enfrentar dificuldades técnicas, como problemas de conectividade e funcionamento dos apps. Nesse sentido, pais e responsáveis devem ser envolvidos no processo, conhecendo as políticas da escola sobre o uso dos aparelhos e participando de canais de comunicação entre a instituição e as famílias. Palestras e workshops podem fornecer informações atualizadas sobre o uso consciente e útil dessa tecnologia nos ambientes de aprendizagem.
O envolvimento das famílias nas políticas escolares, a capacitação do corpo docente e dos familiares sobre as potencialidades dos smartphones e o estabelecimento de regras de maneira democrática, incentivando a adesão voluntária dos estudantes às boas práticas, são passos essenciais para um uso benéfico e responsável do celular nas escolas. Dessa forma, pode-se evitar a necessidade de proibições rígidas, promovendo um ambiente educativo mais inovador e consciente.
Emerson Francisco Santos - Coordenador de Tecnologia Educacional da unidade do Rio de Janeiro da Rede de Colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta educacional sociointeracionista e alinhada às principais tendências do mercado de educação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário