Acolhimento e estimulação positiva com histórias,
brincadeiras e músicas: Psicóloga sugere atividades para atendimento às
crianças vítimas de catástrofes
A
professora de Psicologia do Centro Universitário São Camilo, Lucélia Paiva,
explica como as crianças que passam pelas enchentes no Rio Grande do Sul devem
ser recebidas
Segundo a
Organização das Nações Unidas (ONU), desastre é uma séria interrupção no
funcionamento de uma comunidade ou sociedade causando uma grande quantidade de
mortes, bem como perdas e impactos materiais, econômicos e ambientais que
excedem a capacidade da comunidade ou sociedade afetada de fazer frente à
situação mediante o uso de seus próprios recursos. Trata-se de uma ruptura do
funcionamento habitual de um sistema ou comunidade, devido aos impactos ao bem-estar
físico, social, psíquico, econômico e ambiental de uma determinada localidade
que podem trazer traumas psicológicos para as pessoas que passam por esta
situação.
Essa experiência
dolorosa caracteriza-se por ser um evento repentino onde as pessoas afetadas
podem se sentir ameaçadas e incapazes de se erguer sozinhas. Segundo a
professora de Psicologia do Centro Universitário São Camilo e especialista no
atendimento as vítimas de crises, perdas e luto, Lucélia Elizabeth Paiva, esta
sensação tanto para crianças como para adultos, é similar, porém, o atendimento
para estes dois grupos é diferente. A docente foi uma das integrantes do grupo
de trabalho do Conselho Federal de Psicologia para a criação das Referências
Técnicas para Atuação de Psicólogas (os) na Gestão Integral de Riscos,
Emergências e Desastres.
“Em uma situação
de grande risco físico, como em catástrofes, a pessoa pode se sentir paralisada
e ter várias reações comportamentais, fisiológicas ou emocionais como resposta
a esse evento traumático. Ela pode ficar mais agitada ou se isolar, ter
alterações do sono, nas funções gastrointestinais e até arritmia cardíaca. Os
sintomas se apresentam de acordo com a forma que cada pessoa passa pelas
adversidades. São manifestações muito pessoais tanto para os adultos, como para
as crianças”, explicou.
De acordo com a
psicóloga, para sair dessa situação, a pessoa independente da faixa etária,
deve se sentir amparada, ter conforto e segurança. As necessidades básicas
– como alimentação, sono e higiene – trazem, além da integridade física e
mental, uma oferta para que o indivíduo se sinta novamente íntegro e vivo
diante de tantas perdas.
“Em relação às
crianças, é natural que reajam com medo, sentimento de desamparo, desorientação
e até mesmo confusão. Então, é necessário que elas estejam com adultos
psiquicamente estáveis, que permaneçam calmos e que as ajudem a não se
sobrecarregar com esta situação. As intervenções terapêuticas devem ser feitas
pós-desastre.
Ela explicou que
neste primeiro momento, o apoio emocional é necessário para que a criança possa
voltar ao seu normal. Além da verbalização, ela pode se expressar por
atividades motoras como jogos, brincadeiras e desenhos. Por isso, a professora
recomenda que elas tenham espaços de expressão onde possa mudar de
cenário e se sintam seguras e amparadas. Por meio de atividades motoras, jogos
e brincadeiras as crianças podem experimentar a segurança e a cooperação. A
contação de histórias é importante por que ativa a imaginação, fazendo que elas
lidem com seus medos e situações difíceis. “A partir do momento que são
oferecidas histórias que tenham o desafio solucionado, há uma identificação da
criança com aquele personagem que também pode sentir medo, tristeza e solidão,
mas que no final vai vencer os obstáculos. Assim, ao se identificar com esse
herói, o sentimento de solidão é minimizado”, disse.
Além de atividades
lúdicas, é necessário tentar oferecer organização, criando rituais na hora de
acordar, comer e dormir. “Por isso é importante que as pessoas que cuidam
dessas crianças, ofereçam um ambiente de ordem e proteção para que ela se
perceba inteira, com mais controle sobre si e sinta-se mais relaxada e
consciente do seu papel neste momento”, finalizou.
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