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sábado, 25 de maio de 2024

Reflexos de desastres na vida das crianças


Acolhimento e estimulação positiva com histórias, brincadeiras e músicas: Psicóloga sugere atividades para atendimento às crianças vítimas de catástrofes

 

A professora de Psicologia do Centro Universitário São Camilo, Lucélia Paiva, explica como as crianças que passam pelas enchentes no Rio Grande do Sul devem ser recebidas

 

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), desastre é uma séria interrupção no funcionamento de uma comunidade ou sociedade causando uma grande quantidade de mortes, bem como perdas e impactos materiais, econômicos e ambientais que excedem a capacidade da comunidade ou sociedade afetada de fazer frente à situação mediante o uso de seus próprios recursos. Trata-se de uma ruptura do funcionamento habitual de um sistema ou comunidade, devido aos impactos ao bem-estar físico, social, psíquico, econômico e ambiental de uma determinada localidade que podem trazer traumas psicológicos para as pessoas que passam por esta situação.


Essa experiência dolorosa caracteriza-se por ser um evento repentino onde as pessoas afetadas podem se sentir ameaçadas e incapazes de se erguer sozinhas. Segundo a professora de Psicologia do Centro Universitário São Camilo e especialista no atendimento as vítimas de crises, perdas e luto, Lucélia Elizabeth Paiva, esta sensação tanto para crianças como para adultos, é similar, porém, o atendimento para estes dois grupos é diferente. A docente foi uma das integrantes do grupo de trabalho do Conselho Federal de Psicologia para a criação das Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas (os) na Gestão Integral de Riscos, Emergências e Desastres.


“Em uma situação de grande risco físico, como em catástrofes, a pessoa pode se sentir paralisada e ter várias reações comportamentais, fisiológicas ou emocionais como resposta a esse evento traumático. Ela pode ficar mais agitada ou se isolar, ter alterações do sono, nas funções gastrointestinais e até arritmia cardíaca. Os sintomas se apresentam de acordo com a forma que cada pessoa passa pelas adversidades. São manifestações muito pessoais tanto para os adultos, como para as crianças”, explicou.


De acordo com a psicóloga, para sair dessa situação, a pessoa independente da faixa etária, deve se sentir amparada, ter conforto e segurança. As necessidades básicas – como alimentação, sono e higiene – trazem, além da integridade física e mental, uma oferta para que o indivíduo se sinta novamente íntegro e vivo diante de tantas perdas. 


“Em relação às crianças, é natural que reajam com medo, sentimento de desamparo, desorientação e até mesmo confusão. Então, é necessário que elas estejam com adultos psiquicamente estáveis, que permaneçam calmos e que as ajudem a não se sobrecarregar com esta situação. As intervenções terapêuticas devem ser feitas pós-desastre.


Ela explicou que neste primeiro momento, o apoio emocional é necessário para que a criança possa voltar ao seu normal. Além da verbalização, ela pode se expressar por atividades motoras como jogos, brincadeiras e desenhos. Por isso, a professora recomenda   que elas tenham espaços de expressão onde possa mudar de cenário e se sintam seguras e amparadas. Por meio de atividades motoras, jogos e brincadeiras as crianças podem experimentar a segurança e a cooperação. A contação de histórias é importante por que ativa a imaginação, fazendo que elas lidem com seus medos e situações difíceis. “A partir do momento que são oferecidas histórias que tenham o desafio solucionado, há uma identificação da criança com aquele personagem que também pode sentir medo, tristeza e solidão, mas que no final vai vencer os obstáculos. Assim, ao se identificar com esse herói, o sentimento de solidão é minimizado”, disse. 

 

Além de atividades lúdicas, é necessário tentar oferecer organização, criando rituais na hora de acordar, comer e dormir. “Por isso é importante que as pessoas que cuidam dessas crianças, ofereçam um ambiente de ordem e proteção para que ela se perceba inteira, com mais controle sobre si e sinta-se mais relaxada e consciente do seu papel neste momento”, finalizou.

 

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