Com o aumento da obesidade, cresce a procura por esse tipo de procedimento no país, que é oferecido pelo SUS
Existem mais de 41 milhões de pessoas vivendo com a
obesidade no Brasil, um dos índices mais altos do mundo. Longe de ser apenas
uma questão estética ou comportamental, a obesidade é vista pela medicina como
uma doença crônica, progressiva e recidivante.
“Falar para o obeso parar de comer é como pedir a uma pessoa com
depressão para ser mais feliz ou com alguém com asma respirar melhor. A
obesidade não é culpa do paciente, mas uma doença que requer tratamento”,
alerta o cirurgião bariátrico Felipe Rossi, membro da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
De
acordo com o médico, a obesidade é uma doença
multifatorial com fundo genético que piora com o tempo, levando a sequelas e
enfermidades graves, como o diabetes, a hipertensão arterial e o câncer, por exemplo.
“Estamos falando de uma séria questão de saúde pública com
impactos negativos na saúde física, mental e qualidade de vida do paciente.
Além disso, há também um grande déficit para os cofres públicos, uma vez que a
obesidade leva a outras doenças e ainda pode incapacitar as pessoas”, informa.
Diferentemente do que se acreditava no passado, a medicina
reconhece que a reeducação alimentar e a prática regular de exercícios físicos
não são a melhor solução para tratar esse tipo de enfermidade. Segundo o Dr.
Rossi, estudos mostram que de cada 100 pessoas com obesidade, só 5 terão
sucesso recorrendo à mudança de hábitos alimentares e inclusão de atividade
física na rotina. E mais: após 3 anos, apenas uma ou duas pessoas conseguem
manter o peso perdido em razão da mudança no estilo de vida.
Atualmente para tratar a obesidade existem opções medicamentosas e
a cirurgia bariátrica. Apesar de estar disponível no SUS, apenas 0,2% dos brasileiros
com obesidade grave (graus 2 e 3) conseguiram realizar a cirurgia bariátrica
via rede pública devido à alta demanda.
Tão seguras quanto uma cesariana ou cirurgia de retirada de
vesícula, as cirurgias bariátricas, quando bem indicadas e executadas por uma
equipe treinada, são uma excelente opção para o tratamento da obesidade grave e
de suas complicações.
Para esclarecer algumas questões relacionadas à cirurgia
bariátrica, o Dr. Felipe Rossi elenca abaixo alguns mitos e verdades sobre esse
procedimento minimamente invasivo que transforma a vida dos pacientes com
obesidade.
Pessoas superobesas e com tratamento prévio podem fazer a
cirurgia bariátrica. Mito.
A cirurgia bariátrica é indicada para pacientes com IMC (Índice de Massa Corpórea) entre 35 kg/m2 e 40 kg/m2 desde que apresentem uma comorbidade e já tenham recorrido sem sucesso a outra forma de tratamento. O procedimento também é recomendado para pacientes com IMC acima de 40 kg/m2, independentemente de ter uma comorbidade associada ou não. Já aqueles com IMC acima de 50 kg/m2 não requerem comprovação de tratamento prévio para estarem aptos ao procedimento. Por outro lado, a cirurgia metabólica é liberada para paciente com obesidade grau I e portadores de diabetes.
* O IMC é parâmetro adotado pela
Organização Mundial de Saúde para calcular o peso ideal de cada pessoa, e é
calculadora dividindo o peso (em kg) pela altura ao quadrado (em m).
Crianças não podem ser submetidas a uma cirurgia bariátrica.
Verdade.
No Brasil, o procedimento é autorizado para pacientes
entre 16 anos e 65 anos. No entanto, é possível, segundo o Dr. Felipe Rossi,
operar pacientes idosos, desde que sejam avaliados de forma criteriosa e com
menos de 16 anos, mas com restrições. Isso porque com o envelhecimento da população,
as pessoas vivem mais, e a cirurgia bariátrica traz benefícios para a saúde
destes indivíduos.
A obesidade está relacionada apenas a hábitos inadequados de
vida. Mito.
“Esse é um estigma que precisamos combater.
Precisamos tirar a culpa do paciente quando falamos de obesidade”, ressalta o
cirurgião bariátrico. A obesidade é uma doença crônica que requer tratamento
com acompanhamento multidisciplinar por toda vida. “Não é preguiça. Também não
se trata de simplesmente fechar a boca como muitos pacientes costumam ouvir”,
reitera o especialista.
Existem diferentes técnicas para a realização da cirurgia
bariátrica. Verdade.
O Bypass Gástrico é uma das técnicas mais usados no
país e consiste na redução do tamanho do estômago combinada com um desvio de
uma parte do intestino. Além de comer menos, o paciente tem diminuída a
absorção de alimentos. O procedimento é minimamente invasivo e feito por
videolaparoscopia, por isso quase não deixa marcas.
Já o Sleeve Gástrico, que também pode ser feito de
forma minimamente invasiva, por vídeo com pequenas incisões no abdômen, corta o
estômago em sentido vertical, tirando todo o fundo e a grande curvatura
gástrica.
Por serem minimamente invasivas, com pequenas
incisões, ao contrário das cirurgias abertas, ambas as técnicas reduzem a
possibilidade de complicações, possibilitam alta hospitalar precoce e causam
menos dor aos pacientes.
Ambos os procedimentos também levam a alterações de hormônios
gastrointestinais que minimizam a fome, aumenta a saciedade e melhoram as
comorbidades.
O reganho de peso após a cirurgia bariátrica é comum. Mito.
Como toda doença crônica, a obesidade irá acompanhar
o paciente por toda a vida. A bariátrica não é um procedimento mágico, mas
exige que o paciente mude seu estilo de vida. É comum o paciente perder bastante
peso nos primeiros meses após a intervenção e depois estabilizar. Embora o
reganho de peso possa acontecer, ele é incomum, acometendo entre 20% e 30% das
pessoas operadas.
Os novos medicamentos para emagrecer irão substituir a
cirurgia bariátrica. Mito.
Hoje a medicina reconhece que o uso de determinados
medicamentos que levam à perda de peso, como os análogos do GLP-1, podem ser
associados à cirurgia bariátrica, como terapias combinadas. “Hoje tratamentos
alguns casos de câncer com diferentes abordagens, esse é o futuro do tratamento
da obesidade”, pondera o Dr. Rossi.
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