Embaixadora da Inspirali destaca pontos fundamentais sobre a utilização desenfreada deste dispositivo
Mesmo com a decisão da Anvisa de manter a proibição de todos os dispositivos eletrônicos para fumar, sabemos que esses produtos ainda circulam livremente e que vêm atraindo cada vez mais o público jovem. A comunidade médica está convencida dos riscos que o produto causa à saúde. Por estes motivos, com o intuito de trazer informações e esclarecer dúvidas sobre o tema, a Inspirali, principal ecossistema de educação médica do país, convidou sua embaixadora na área de Medicina Preventiva e Qualidade de Vida, Dra Danielli Haddad, para destacar pontos fundamentais que a população precisa saber sobre cigarro eletrônico. Confira:
Riscos para a saúde - Além dos riscos para câncer oral e de
pulmão, também há a piora das crises de asma em asmáticos, a possibilidade de
piora de doenças cardiovasculares pela inflamação desencadeada pelos produtos
absorvidos e inalados, além da EVALI (vaping product use-associated lung
injury) ou VAPI (Vaping-associated pulmonary injury), descrito pela
primeira vez em 2019. A injúria pulmonar pode ter como sintomas febre,
calafrios, tosse e insuficiência respiratória, levando até mesmo a intubação e
ventilação mecânica.
Compostos - Não há controle sobre a quantidade e tipo de substâncias
encontradas no cigarro eletrônico. Estudos mostraram que contém nicotina,
formaldeídos, nitrosaminas (conhecidamente carcinogênicos) e diacetil, este
último é adicionado nos líquidos, entra nos pulmões e causa danos nos alvéolos
pulmonares. O aquecimento dos componentes ditos como inofensivos nos líquidos,
como glicerina vegetal e propilenoglicol, resulta na formação de substâncias
tóxicas como níquel, cadmio, cromo e chumbo.
Funcionamento - O dispositivo é composto por uma bateria, um recipiente para
armazenar o produto em forma líquida, um outro componente para aquecer este
líquido e transformá-lo em aerossol (suspensão de partículas liquidas e
sólidas, popularmente chamado de vapor). Eles são vendidos em diversos formatos
como canetas, imitando cigarros, pen drives, etc.
Diferença
para cigarro tradicional - A princípio pensava-se que o eletrônico era menos maléfico,
sendo que o Reino Unido instituiu uma política de redução de danos para
diminuir o número de tabagistas no país, recentemente regulamentando o uso de
dispositivos eletrônicos relacionados ao tabaco. A justificativa é a de que a
fumaça do cigarro tradicional produziria mais substâncias tóxicas que o vapor.
Pesquisas que compararam as exposições tóxicas entre cigarros eletrônicos e
cigarros convencionais relataram que os níveis de duas nitrosaminas e monóxido
de carbono eram mais baixos em usuários de cigarros eletrônicos do que em
fumantes, mas ainda assim presentes. As exposições tóxicas também foram maiores
em usuários duplos. Tanto os fumantes quanto os usuários de cigarros
eletrônicos apresentaram aumento de metais tóxicos na urina e no sangue, mas
houve alguma variabilidade nos metais detectados em cada grupo. Sabe-se também
que o vapor contém nanopartículas em maior quantidade, podendo atingir os
pulmões com maior facilidade, desencadeando crise de asma e a possibilidade de
eventos cardiovasculares. Como o uso é relativamente recente, alguns males
serão vistos a longo prazo.
Diferença para narguilé - Narguilé é pior que cigarro e cigarro
eletrônico. A quantidade de fumaça inalada durante uma sessão
típica de narguilé é de cerca de 90.000 mililitros, em comparação com 500–600
ml inalados ao fumar um cigarro segundo dados do CDC de 2016. É preciso 20
tragadas para fumar um cigarro ao passo que uma sessão de uma hora de narguilé
são 200 tragadas. Além disso, no narguilé há nicotina e substâncias
cancerígenas em grande quantidade.
Proibição no Brasil - A Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), desde 2009, por meio da Resolução 46, proíbe a
comercialização, a importação e a propaganda desses produtos. Há o projeto de
Lei 5008/2023 da senadora Soraya Thronicke (PODEMOS /MT) que discute sobre a
regulamentação e possibilidade de venda legal destes produtos no país. Sua
argumentação é a de que os produtos já circulam de forma crescente no país, sem
fiscalização e sem arrecadamento de impostos, e que proibir é somente “tapar o
sol com a peneira”. Após reunião em 12/03/2024, no Conselho de Assuntos
Econômicos (CAE), foi aprovado o Requerimento nº 24/2024-CAE para realização de
audiência pública para a instrução da matéria. Foi também aprovado o
Requerimento nº 29/2024-CAE para a inclusão de convidados, assim como o
Requerimento nº 30/2024-CAE para a realização conjunta da mesma.
Contrabando – Como não são regulamentados, os cigarros eletrônicos tendem a ser
mais nocivos à saúde. Por isso, o mínimo nos países seria regulamentar quais
são os produtos circulantes, taxar com impostos e ter um controle de qualidade.
Evali - nova doença pulmonar causada pelo uso do cigarro
eletrônico - Desde
o início do uso em 2003, inúmeros relatos mostravam sintomas pulmonares
relacionados ao uso do cigarro eletrônico. A partir de 2019, estudos maiores
mostraram as repercussões do seu uso. De mecanismos ainda incertos, há lesão
pulmonar através de uma pneumonite química. Há um stress oxidativo, queda da
defesa local para vírus e bactérias, interferência em macrófagos e eosinófilos.
Durante um surto de casos, notou-se que em 80% deles havia a exposição a
tetrahidrocanabinol e acetato de vitamina E (usado como espessante). Foram 68
óbitos e 2500 internações. Os indivíduos apresentavam tosse, alguns febre,
imagens de opacificações em pulmões e até pneumotórax. A maioria melhorou com
corticoide e abstinência, mas não se sabe a evolução a longo prazo. Os estudos
realizados ainda incluíram poucos pacientes e com metodologia ainda deficiente.
Vício e dependência - O uso de cigarros eletrônicos aumenta a
chance em 2 até 4 vezes dos indivíduos que nunca fumarem se tornarem
dependentes de nicotina e virem a utilizar o cigarro tradicional. Por não haver
um policiamento social maior (não há odor ruim nem fumaça), o vício tem maior
chance de se perpetuar. O cigarro tradicional é mais barato que o cigarro
eletrônico, o que facilitaria a migração para o tabaco tradicional.
Uso primordialmente por jovens – Jovens estão aderindo ao uso por
motivos multifatorial. Curiosidade e autoafirmação, sensação de que não faz mal
à saúde, influência do meio social (melhor aceitação), dispositivos atraentes e
caros, sendo uma forma de ostentação. No entanto, mais de 50% dos jovens
usuários de cigarros eletrônicos fazem ou fizeram uso de assistência
psicológica em algum momento. Ansiedade e depressão são diagnósticos mais
prevalentes na população de usuários quando comparada a não usuários.
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