Outro dia, lendo o jornal, vi uma matéria que falava como os cientistas descobriram como a percepção do fluxo de tempo é formada. Trazia uma pesquisa feita com um tipo de anfíbio, onde foi possível desconstruir a construção do tempo e passaram a observar o que acontecia com esses seres microscópicos.
Isso me fez relembrar sobre o que escrevi
sobre fluxo, tempo e o fluxo de tempo para o meu segundo livro, Pensando
Claramente – Uma visão da bondade, e como Heráclito de Éfeso (filósofo
pré-socrático que viveu aproximadamente entre 500 a.C. e 450 a.C.) percebia
esse curso, ou seja, como o mundo e a natureza estão em constante movimento.
Uma de suas declarações é de que ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio,
pois quando nele se entra novamente não se encontram as mesmas águas, e o
próprio ser também já se modificou.
Outro filósofo, contemporâneo de Heráclito,
Protágoras, aponta que o mundo em que vivemos é levado pelo movimento e pela
impermanência. Ainda aproveitando a arena dos pensamentos filosóficos dos
gregos, por outro lado, para o filósofo Parmênides, contemporâneo dos
anteriores, “o que é essencial não muda”. Essas visões corroboram a dinâmica
atual do nosso mundo, em que fatos, acontecimentos, metodologias e tecnologias
estão num ritmo frenético de mudanças, muitas delas vindo de dentro de nossas
organizações. Entretanto, quanto mais rápidas essas mudanças, mais o essencial
se torna importante. O essencial refere-se à construção de uma cultura de
motivação, de engajamento, de organização, de planejamento, de insights dignos
de gerar a inovação ou a mudança necessária para nos manter relevantes na
carreira e conservar a relevância de nossas empresas no mercado.
O rio muda a cada segundo e as pessoas
também. Assim, a grande questão acaba sendo: como nos manter relevantes e não
permitir que nossas expertises e diferenciais competitivos deixem de ser
atraentes para a lógica de mercado. Como responsáveis pelas organizações ou
pelas nossas carreiras dentro delas, precisamos nos manter em sintonia e, se
possível, antecipar-nos a essas transformações, com agilidade e competência,
para nos inserirmos na nova lógica e nas ferramentas que essa nova lógica nos
traz, ou mesmo criarmos novos paradigmas. De todas as variáveis que impactam as
regras e o jogo organizacional, a variável mais importante a ser gerenciada é o
tempo.
Como trago neste segundo livro, o tempo é a
única realidade verdadeiramente rara, ninguém pode produzi-lo, vendê-lo ou
estocá-lo. A Teoria das Restrições, do Dr. Goldratt, deposita a máxima
importância na administração da variável tempo. Segundo ela, por exemplo,
quando um equipamento considerado gargalo em uma linha de produção está parado,
está consumindo tempo de produção, pois é esse equipamento que rege a
capacidade e o fluxo da linha de produção. Para a Teoria das Restrições, um
minuto ganho num gargalo é um minuto ganho no processo como um todo. Quando um
equipamento gargalo quebra, o que se perde é tempo. Quando Goldratt fala em
proteger a restrição, ele fala em um pulmão de tempo para essa proteção.
Ou seja, um equipamento gargalo, por exemplo,
deve ter um pulmão de materiais medido em tempo, para que não falte ou coloque
em risco a continuidade do processamento desse equipamento. Com essa prática, a
Teoria das Restrições propõe um formato de gestão para se administrar a
variabilidade do tempo. A vazão de um rio é medida por m3 /s. Nossa velocidade
nas estradas é medida em km/hora. Um corredor olímpico corre 100 metros em
determinados segundos. O conceito por trás é que o tempo desperdiçado não pode
ser recuperado. O tempo é uma variável irrecuperável e sua administração é
importante para que o fluxo e o movimento que permeiam as atividades humanas
transcorram adequadamente, sem acúmulos ou obstruções.
Santo Agostinho diz que tudo o que se move
deseja alcançar um objetivo. Para que isso aconteça é necessário ter técnicas
de gestão de tempo e saber priorizar tarefas para ser mais produtivo e
eficiente na condução dos projetos. Assim, elimina-se também desperdícios, indo
de encontro ao que Victor Hugo dizia “a vida já é curta e nós a encurtamos
ainda mais, desperdiçando tempo”. Isso tudo ajuda na conquista de nossos
objetivos.
Devemos permitir que as coisas fluam, pois
tudo se move em direção a um objetivo. Por exemplo, se sou responsável por
processar uma determinada quantidade de informações, revisá-las, transformá-las
e entregá-las para que sejam utilizadas em suas finalidades, tenho de
estabelecer um ritmo e uma cadência em que a quantidade necessária de
informações seja processada adequadamente num determinado período de tempo. O
ritmo estabelecido no tempo deve permitir o fluxo de entrada, processamento e
saída. Tudo isso para manter o fluxo adequado, pois tudo está em movimento.
Quanto maior o fluxo, maiores a eficiência, a eficácia e a harmonia em nossos
processos e em nossas empresas. Devemos permitir que nossos atos e movimentos
fluam para que os objetivos se realizem, um atrás do outro. E o fluxo é medido
pela variável tempo.
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