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sábado, 3 de junho de 2023

Número de alunos matriculados em creches diminui no período pós-pandemia

 Impedir o acesso das crianças de 0 a 3 anos à escola representa grande retrocesso da educação no País, acredita diretora da Petit Kids Cultural Center, Fernanda King


O número de crianças matriculadas nas creches brasileiras, com idade de 0 a 3 anos, diminuiu 16% nas escolas particulares e 2% nas escolas públicas no período pós-pandemia, entre os anos de 2019 e 2021,segundo dados da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. A queda também foi verificada na pré-escola, para crianças de 4 e 5 anos, com redução de 20% na rede particular e 1,3% na rede pública. De modo geral, nas duas redes, houve 337,9 mil matrículas a menos nas creches em 2021, em comparação ao número de matrículas de 2019. O impacto dessa evasão escolar é significativo na formação dos estudantes.

 

O número de crianças matriculadas em creches no ano de 2021, no pós-pandemia, é praticamente o mesmo de quatro anos antes, em 2017, com aproximadamente 3,4 milhões de crianças frequentando as escolas. Em 2019, esse número era de 3,7 milhões de alunos nas creches. Os dados acendem o alerta levando em conta que, ao frequentar o ensino infantil, a criança tem um terço a mais de possibilidade de concluir o ensino médio, segundo o Ministério da Educação. 

Os prejuízos da falta de cuidados e educação na primeira infância se refletem desde o desenvolvimento cognitivo, emocional e profissional até em estatísticas criminais, como maior exposição a riscos de violência, abuso e exploração sexual. O Censo Demográfico 2010 mostrou que apenas 23,5% das crianças de até 3 anos frequentavam creches, um grande desafio para o País. Segundo o artigo 208 da Constituição Federal, todas as crianças de 0 a 5 anos têm direito à educação infantil, em creche e pré-escola.  

O impacto da educação nessa fase é fundamental para o desenvolvimento integral da criança, o avanço na educação nos anos seguintes e a profissionalização. A diretora da Petit Kids Cultural Center, Fernanda King, explica que não permitir o acesso das crianças à creche representa um grande retrocesso na educação do País. Ela comenta que muitos pais decidiram não matricular os filhos nas creches e pré-escolas porque trabalham de home office e ficam em casa com as crianças.  

A educação dos bebês não é apenas uma questão de conveniência familiar. Estudos apontam que a evolução do cérebro acontece a uma velocidade extremamente alta nos três primeiros anos de vida, com 1 milhão de novas conexões entre neurônios por segundo. “Após a pandemia, muitos pais optaram por dar um jeitinho para manter a criança em casa, impedindo que ela frequente a creche e a pré-escola. Voltamos para a década de 80, um retrocesso enorme para a educação”, diz Fernanda.  

A diretora lembra que antigamente as crianças iam para a escola apenas com 4, 5 ou 6 anos, mas brincavam na rua e socializavam com outras crianças. “Hoje a criança fica em casa no tablet, no celular. Não há socialização, há uma altíssima exposição à tela. E aí procura-se a escola muitas vezes quando a criança já foi exposta à tela dois anos seguidos, os dois mais importantes anos da vida dela, e essa criança já tem algum tipo de atraso”, explica Fernanda. 

Por medo e até comodismo, os pais estão interferindo diretamente no desenvolvimento dos filhos, alega a diretora. “Muitos só voltam a procurar a escola quando o pediatra ou outro profissional identifica atraso no desenvolvimento. Mas, infelizmente, não se pode recuperar os anos perdidos. É preciso pensar na criança”, afirma. Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento das capacidades cognitivas e motoras, e também é o período em que o indivíduo aprende a se relacionar, viver em sociedade e desenvolver habilidades para a formação humana.

 

Geração zumbi 

Crianças que frequentam creches e pré-escolas apresentam menos problemas emocionais e comportamentais e têm maior probabilidade de desenvolverem melhores habilidades sociais, aponta estudo do Journal of Epidemiology & Community Health. Fernanda comenta que o uso excessivo de tela e a falta de socialização podem até desenvolver nas crianças algum tipo de comportamento autístico.  

“A consciência que precisa haver é que a escola não é para a mãe, porque ela tem que trabalhar. A escola é para a criança. Disputar brinquedos é saudável, até “brigar” é necessário na primeira infância. O cenário que temos hoje é de filhos únicos nos grandes centros, que não pegam nem sol, como em São Paulo. Estamos criando uma geração praticamente zumbi. E hoje existem escolas preparadas e especializadas para trabalhar com a primeiríssima infância”, diz Fernanda. 

A educadora explica que não há uso de tela nas escolas infantis. “Na primeiríssima infância, as telas não são recomendadas em momento algum. A criança precisa brincar de verdade. Brincar com tinta, fazer coisas que os pais não fazem em casa. Tudo é pensado para essa idade, como tinta especial a base de alimentos, para o caso da criança levar a mão à boca. Infelizmente, as pessoas não têm esse entendimento. Muitos pais não sabem lidar e estimular o bebê da forma correta”, alega.  

A escola representa ganhos fundamentais nessa primeira fase da vida, com socialização, desenvolvimento cognitivo e emocional, defende Fernanda. “Não há outra forma de obtê-los que não seja na escola, onde se estabelece convivência diária e atividades voltadas para essa idade. Na escola fazemos amigos que às vezes levamos para o resto da vida”, diz. 

A Petit Kids Cultural Center coloca a criança como protagonista do seu aprendizado, estimulando a independência desde cedo e respeitando as características individuais com projetos autorais, em que ela executa as atividades com autonomia, de acordo com os desafios de cada faixa etária. A diretora diz que é fundamental atender as crianças de forma lúdica, com acolhimento, fazendo com que todos os momentos tragam um aprendizado significativo.


Fernanda King - Pedagoga com pós graduação em Desenvolvimento Infantil, tendo formação especializada em educação infantil em Reggio Emília (Italia) e na Argentina. Apesar de ter começado sua carreira como publicitária, profissão que trouxe essa carioca para São Paulo, a maternidade a fez mudar de profissão. Abriu sua própria escola em fevereiro de 2015 com o propósito de educar sua filha de forma mais humanizada. Daí passou a estudar a nova área, se tornando além de mantenedora escolar, uma diretora engajada na busca de uma forma de educar afetiva e acolhedora.


Petit Kids Cultural Center
Instagram: @escolapetitkids
contato@petitkidsculturalcenter.com.br


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