Adoção do
blockchain inviabiliza as inconsistências contábeis da empresa, avalia Antonio
Hoffert, sócio-fundador da H3aven
O reconhecimento da própria empresa ontem (13.06) de que houve fraude em balanço divulgado no início do ano colocou as Americanas novamente sob os holofotes do mercado financeiro. Para analistas ligados ao setor de tecnologia, como Antonio Hoffert, sócio-fundador da H3aven, a adoção da tecnologia blockchain poderia ter evitado que as inconsistências contábeis da companhia fossem executadas.
Hoffert explica que, por meio da blockchain, é possível blindar as informações de balanço contábil com segurança, para que se tornem auditáveis em tempo real, sem necessidade de auditorias externas, que recentemente estão se mostrando ineficazes para proteger investidores. “Escândalos empresariais recentes comprovam esse problema de agência das auditorias, que recebem seus pagamentos dos próprios objetos de análise. Isso afeta grandes empresas mundo afora e contamina segmentos inteiros”, avalia o especialista.
Ele lembra que as Americanas tiveram uma nota alta em “governança corporativa e alta gestão” no Índice de Desenvolvimento Sustentável da B3, publicado ainda no começo do ano, antes da explosão da crise contábil que tomou os noticiários e pegou o mercado financeiro de surpresa — a holding brasileira recebeu nada menos que 91,79 pontos de um total de 100, o que garantia seu lugar entre as vinte empresas mais sustentáveis do país.
“Em um cenário de interesses conflitantes, como na
miscelânea contábil da Americanas, a excelente avaliação de governança como
prelúdio de um revés contábil, digno de associação com o episódio do Lehman
Brothers, parece um problema até então sem solução, fadado a se repetir
inúmeras vezes. Porém, a minha visão é diferente: entendo que a tecnologia
blockchain permite a criação de uma camada de confiança capaz de armazenar
consensos entre clientes e fornecedores a fim de garantir uma
inequivocabilidade e impossibilitar a fraude”, defende Hoffert.
Mecanismos de consenso
A solução se daria mediante uma aplicação denominada mecanismo
de consenso, no qual as partes integrantes de um acordo seriam
capazes de registrar um acordo sobre a natureza de toda transação. “Uma compra
de uma mercadoria envolve um consenso entre duas partes: as condições de
pagamento e o valor do produto. Com esse consenso registrado em Blockchain, um
contrato inteligente automaticamente atualizaria os demonstrativos contábeis
com os resultados financeiros e físicos da transação”, explica o especialista.
Uma vez que a contabilidade da empresa seria 100%
validada em tempo real por terceiros que têm interesses difusos, muitas vezes
antagônicos aos da empresa, “chegamos à verdade por meio de um processo
dialético registrado em um cartório agnóstico. Dessa forma, a reputação da
própria cadeia de valor com a qual a organização interage se torna o lastro de
sua governança contábil. Assim, os acionistas e o conselho administrativo
ganham visibilidade completa da saúde financeiro/contábil sem precisar confiar
em relatórios de um gestor específico”, completa.
O G do ESG
Ele acredita que o episódio expõe ainda uma das maiores lacunas do “G” da sigla ESG: enquanto conhecemos diversos sistemas e aplicações automatizadas para controle de estoque e gestão de pessoas, por exemplo, falta tecnologia que garanta a governança. “É nessa lacuna que a tecnologia blockchain se tornou vital para companhias que precisam ancorar ações reais de ESG”.
Antonio
Hoffert - economista e
pioneiro na estruturação de soluções baseadas em blockchain da América Latina.
Autor de um plano de Desenvolvimento Econômico Sustentável para o Governo
Brasileiro e da obra “Criptonomia – Economia pós Blockchain”, -- que
recentemente foi listada como bibliografia oficial do Tribunal Superior de
Justiça -- Hoffert também é professor de Aplicações de Blockchain e Finanças
Corporativas nos cursos de mestrado da Grande École de Commerce et de Management.
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