Cirurgião cardiovascular
explica as causas e comenta método que pretende identificar quais pacientes
correm risco de desenvolver a doença e suas complicações
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)
as principais causas de morte no Brasil são o infarto agudo do miocárdio e o
acidente vascular cerebral. E você deve estar pensando: então por que a
aterosclerose é considerada mais fatal? Isso se deve ao fato dela ser a causa
tanto do infarto como do AVC, mas que é dificilmente identificada a tempo de
impedi-los de acontecerem.
A aterosclerose é uma inflamação lenta, progressiva
e sistêmica que atinge as paredes das artérias devido ao acúmulo de gordura
predominantemente, além de outras substâncias como o cálcio e células mortas. O
que diminui o calibre da artéria e reduz sua capacidade de transportar sangue.
Para o cirurgião cardiovascular e membro da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, Dr. Elcio Pires Junior, o
grande risco dessa doença é que os sintomas demoram para aparecer ou nem sempre
aparecem antes de incidentes mais graves. Por isso, a necessidade de práticas
preventivas.
“Como a aterosclerose é uma doença silenciosa, para
que os primeiros sintomas comecem a incomodar é necessário que a artéria esteja
com cerca de 75% do seu calibre comprometido por uma obstrução. Somente neste
ponto de evolução da doença é que os primeiros sinais começam a surgir. E,
então, os cuidados devem ser imediatos. A situação pode ser ainda pior quando o
paciente confunde sintomas com mal-estar do cotidiano e não procura por ajuda
médica”, alertou.
Outro ponto sobre a doença é que ela pode atingir
não somente as artérias do coração, chamadas coronárias, mas também as artérias
do pescoço, carótidas, que vão interferir na irrigação sanguínea do cérebro,
causando sintomas como desmaios, paralisias transitórias, perturbações visuais
ou até o acidente vascular encefálico (derrame) em casos agudos. Outros
sintomas como queda de pelos, atrofias musculares, dificuldade de ereção e
gangrena surgem quando a doença acomete as artérias localizadas nos membros
inferiores como as ilíacas e femorais.
Na tentativa de prevenir esses casos da doença que
acabam evoluindo gravemente, a comunidade científica segue buscando novas
alternativas de tratamento e prevenção. É o que revelou um estudo de
pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, neste mês, que fez
importantes descobertas sobre como a aterosclerose se desenvolve e se manifesta
ao ponto de causar um infarto.
“Esses estudos são de extrema relevância porque trazem
informações que podem melhorar os métodos de prevenção às doenças
cardiovasculares. Nesta pesquisa, em especial, os cientistas conseguiram
identificar o local exato onde as placas de aterosclerose se rompem e também a
presença de uma enzima chamada MMP-9, que eles acreditam ter ação ativa no
rompimento das placas. Por isso, futuramente, caso um paciente apresente altos
níveis dessa enzima poderá ser considerado propenso a sofrer um infarto ou AVC.
Com um tipo de exame assim, seria possível evitar muitas complicações”.
O próximo passo dos pesquisadores será investigar se é possível inibir a ação da enzima, sem causar efeitos colaterais indesejados e sem deixar de tratar a principal causa da doença, que são os maus hábitos relacionados à alimentação, à falta de atividade física e aos vícios. Em razão disso, enquanto esse estudo não é implementado na prática clínica, a recomendação é manter um estilo de vida saudável para, assim, preservar os níveis de colesterol e açúcar do sangue dentro dos limites. Evitando sobrecarregar o sistema vascular e o coração.
Dr. Elcio Pires Junior - coordenador da cirurgia cardiovascular do Hospital e Maternidade Sino Brasileiro - Rede D'or - Osasco, e coordenador da cirurgia cardiovascular do Hospital Bom Clima de Guarulhos. É membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e membro internacional da The Society of Thoracic Surgeons dos EUA. Especialista em Cirurgia Endovascular e Angiorradiologia pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. E atualmente é cirurgião cardiovascular pela equipe do Dr. André Franchini no Hospital Madre Theodora de Campinas.
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