Aumento do distúrbio na infância deve
levar doença a afetar metade da população global até 2050;
Aliadas ao diagnóstico precoce, novas
alternativas de tratamento incluem lentes de alta tecnologia que corrigem os
desvios na visão e ajudam a prevenir a piora do quadro
Com o retorno às aulas, acende-se o alerta para a miopia infantil,
uma preocupação crescente para pais e professores. A exposição prolongada às
telas tem sido apontada como um dos fatores contribuintes para o aumento no
número de diagnósticos de miopia em crianças.
Por isso, é importante que pais e professores estejam atentos às
dificuldades dos pequenos de enxergar, bem como incentivam hábitos saudáveis de
uso das telas, além de priorizar a prática de atividades ao ar livre e a
exposição à luz natural.
Atualmente, estima-se que 20% dos jovens em idade escolar são
diagnosticados com diferentes tipos de doenças visuais, mas a miopia é, de
longe, a mais comum delas. Pessoas com essa doença têm um globo ocular mais
“longo”, o que provoca a formação da imagem antes que a luz chegue até a
retina, fazendo com que a pessoa tenha dificuldade de enxergar de longe.
No caso dos eletrônicos, o músculo dos olhos, que normalmente
trabalha como uma espécie de zoom para a captura da imagem, acaba precisando
fazer esse trabalho de maneira repetitiva, desgastando-o, o que pode causar
miopia. Além disso, há uma queda na lubrificação: o ser humano pisca cerca de
12 vezes por minuto. Em frente às telas, esse número cai para aproximadamente
oito vezes, ou até menos.
O crescimento em diagnósticos, principalmente infanto-juvenis, foi
considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos problemas de
saúde pública que mais crescem no mundo. Cerca de 15% dos jovens de 15 anos têm
a enfermidade. Especialistas apontam que, apesar das tecnologias serem a
principal causa desse crescimento, outros fatores contribuem para a situação.
"A gente também verifica, de anos para cá, um aumento na
consciência da população em relação ao problema, muitas vezes identificado na
escola, pelos professores. Serviços também têm sido ampliados e atingem agora
quem antes não realizaria os testes para saber das doenças. Então, muita gente
que antes não entrava na estatística agora está entrando, não porque não tinha
a doença, mas porque não sabia ter", explica a oftalmopediatra Adriana
Fecarotta.
Tratamento e prevenção: novas tecnologias são aliadas
A miopia é tratável: óculos e lentes corretivas, além da cirurgia (que já está na medicina há mais de 4 décadas) estão disponíveis para os míopes. Porém, especialmente nos casos infanto-juvenis, é possível prevenir o desenvolvimento da doença. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orientam os pais a estimularem os filhos a olhar mais para o horizonte, como em brincadeiras ao ar livre. A exposição de telas deve ser evitada para crianças menores de 2 anos. Até os 5 anos, deve-se limitar o tempo ao máximo de uma hora por dia e sempre com a supervisão de pais e responsáveis. Para crianças com idade entre 6 e 10 anos, o tempo limite deve ser de duas horas por dia e adolescentes até três horas.
Além de controlar o tempo de tela, novas tecnologias também vêm
surgindo e contribuindo para que o problema seja minimizado. Um deles é uma
lente voltada para a progressão da miopia em crianças, a Essilor® Stellest™,
que atua na correção da miopia e impede que os olhos se alonguem mais rápido do
que deveriam. “Esse alongamento, que acontece em crianças míopes, é o
responsável pela piora da condição”, explica a médica.
Segundo estudo clínico duplo-cego randomizado realizado no Eye
Hospital, da Wenzhou Medical University, na China e publicado na revista
científica Jama Ophthalmology em março de 2022, essa nova alternativa de lente
ocular desacelera a progressão da miopia em 67% das crianças na faixa etária
dos 8 aos 13 anos, quando utilizada diariamente por 12 horas.
Aliadas ao diagnóstico precoce, essas alternativas avançadas para
correção da visão e tratamento da miopia em crianças podem ainda contribuir na
prevenção de uma infinidade de outras doenças oculares, como a ambliopia, o
chamado ‘Olho Preguiçoso’, bem como problemas escolares, como déficit de
aprendizagem.
“Crianças com graus altos, por exemplo, podem apresentar
alterações de comportamento. Além disso, o diagnóstico em fases iniciais somado
ao uso correto de lentes corretivas pode prevenir determinados estrabismos
decorrentes da falta de prescrição do óculos adequado, além da anisometropia, a
diferença de graus entre ambos os olhos”, ressalta a Adriana.
Há ainda casos em que as crianças com histórico familiar podem ser
acompanhadas com antecedência por um especialista, podendo contar com uma linha
de cuidado voltada à detecção precoce de alterações na visão para identificação
e prevenção de uma progressão rápida da doença.
Covid-19 pode ter influenciado cenário atual
Segundo a oftalmopediatra, ainda é cedo para cravar, mas pesquisas
apontam que a Covid-19 também pode ter tido um efeito importante sobre esses
números. "É algo multifatorial: há algumas suspeitas que a miopia pode ser
uma das sequelas da infecção. Ao mesmo tempo, as medidas de isolamento não só
colocaram as pessoas mais tempo em frente às telas, mas também com menos
exposição à luz natural e o horizonte, o que contribui, em muito, para prevenir
a doença".
Em qualquer cenário, a consulta com o especialista é fundamental
para identificar qualquer mudança na visão e na saúde dos olhos e se informar
sobre ações preventivas, além dos cuidados básicos. Fecarotta afirma que o
primeiro exame oftalmológico deve ser feito no primeiro ano de idade do bebê,
ou seja, no primeiro ano de vida, de preferência, até os 6 meses de idade.
“Após esse período, o ideal é que os pais levem as crianças ao
especialista de 6 em 6 meses em um período de dois anos. Depois desse prazo,
uma visita anual ao especialista é suficiente, caso a criança não desenvolva
nenhum problema de visão nesse período”, finaliza Adriana Fecarotta.
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