Doença
caracterizada por dor no corpo inteiro, principalmente na musculatura, não
aparece em exames e acomete mais mulheres do que homens
A campanha Fevereiro Roxo objetiva conscientizar as
pessoas sobre a fibromialgia, síndrome clínica que se manifesta através de dor
no corpo todo, principalmente na musculatura. De acordo com levantamento da
Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor (SBED), a fibromialgia acomete 3% da
população brasileira, tendo maior incidência entre as mulheres – 90% dos casos
diagnosticados envolvem pessoas do sexo feminino – com idades de 25 anos a 50
anos.
Segundo a médica intervencionista em dor, Dra.
Amelie Falconi, por se tratar de uma doença considerada invisível – não aparece
em exames laboratoriais e não tem fácil diagnóstico – e por acometer mais
mulheres de meia idade, a fibromialgia não raramente é cercada de muito
preconceito. “As dores são alvo de bastante descrença. Nunca são consideradas
reais, mas emocionais, psicológicas, fruto até da falta de religiosidade. Por
isso as pacientes costumam ser taxadas de 'frescas', sofrendo um tipo de
silenciamento, não apenas de parente e amigos, mas também do sistema de saúde”,
afirma.
Mas as dores são sim bem reais. “É como se qualquer
dor fosse ampliada”, diz Dra. Amelie. Uma característica bem comum de quem
sofre com a fibromialgia é a grande sensibilidade a dor, que pode ser
desencadeada pela compressão da musculatura ou até por um simples toque. “Como
se não fosse suficiente, pacientes portadores da síndrome apresentam diversos
outros sintomas, entre os quais, fadiga (cansaço patológico), sono não
reparador e consequentemente, repercussões clínicas significativas na parte
emocional, com o desenvolvimento de quadros depressivos e de ansiedade”,
relata.
Diagnóstico excessivo
A fibromialgia não aparece em exames laboratoriais,
que costumam ser solicitados, segundo Dra. Amelie, somente para descartar
outras hipóteses de patologias que apresentam quadros semelhantes (cansaço e
dores musculares), como, por exemplo, o hipotireoidismo.
“O diagnóstico é sobretudo clínico”, afirma a
médica intervencionista em dor, o que faz com que seja corriqueiro o exagero no
momento de determinar se o paciente é portador ou não da síndrome. “O paciente
que passa em consultas ou dá entrada no pronto-socorro com queixas de dores em
vários lugares costuma ser diagnosticado pelos médicos com fibromialgia, mas
nem sempre ele apresenta a doença”, diz. Para evitar o diagnóstico errado, Dra.
Amelie recomenda que a pessoa faça uma reavaliação com um médico especializado
em dor.
Exercício físico é o principal
tratamento
A fibromialgia é uma doença incurável, mas há
tratamento para mitigar os sintomas. A principal ferramenta terapêutica é o
exercício físico, segundo a médica intervencionista em dor, que considera o
estilo de vida como um fator gerador e de tratamento para o portador da dor
crônica. “O paciente precisa inicialmente enquadrar-se em uma terapia de
movimento, como a fisioterapia e/ou exercício físico, por exemplo”, diz.
Segundo Dra. Amelie, a inserção do exercício físico
na rotina do portador de fibromialgia é bem desafiadora. “Imagine como é
difícil fazer com que um paciente que tem dor no corpo inteiro, está sempre fadigado
e não dorme direito, comece a praticar atividade física”, pondera. Assim, a
medicação também é um fator importante para o tratamento da síndrome. “Ela é
que o paciente muitas vezes precisa para conseguir fazer as mudanças de estilo
de vida necessárias - principalmente as relacionadas com o exercício físico -
para mitigar suas dores”, destaca.
Contudo, enfatiza a médica intervencionista em dor,
o exercício físico deve ser sempre considerado a principal forma de tratamento.
O que não significa, segundo Dra. Amelie, que o paciente deva adotar uma carga
pesada de exercícios logo de início. “Trata-se de uma paciente com dor crônica
e fadiga, que não tem o costume de fazer atividades justamente por causa disso.
Desse modo, é importante começar de maneira leve e gradual, para que o corpo se
adapte a essas atividades”, diz.
Além dos sintomas já descritos, a fibromialgia causa alterações gastrointestinais em seus portadores. Assim, conforme a médica intervencionista em dor, uma dieta alimentar adequada, com pouco ingestão de industrializados, enlatados e refinados e que priorize o consumo de “comidas naturais” como arroz, feijão, verdura, legumes, frutas, carnes e ovo, é importante para o controle dos sintomas e também para regular a microbiota intestinal. Uma dieta alimentar adequada também pode ser empregada como tratamento adjuvante para as dores causadas pela síndrome.
Dra.
Amelie Falconi
- Especialização
em Medicina da Dor pela Santa Casa da Misericórdia de São Paulo. Título de
Especialista em Dor pela AMB (Associação Médico Brasileira). Fellow Of
International Pain Practice (FIPP) pelo World Institute of Pain (WIP). Fellowship
de Intervenção em Dor - Clínica Aliviar / sinpain Rio de Janeiro.
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