Chegando ao fim do primeiro semestre, a expectativa para os próximos seis meses é de que a atividade econômica siga perdendo força. Além do fim dos estímulos à renda, os juros mais altos devem refletir negativamente no crescimento do país
Volta e meia o aumento da
inflação gera incertezas, paralisa investimentos e impacta decisões. Em um
desestímulo ao crescimento econômico, os preços de alimentos, combustíveis e
outros itens essenciais colocam em risco a receita mensal de pessoas físicas e
jurídicas.
O índice oficial de inflação
acumula 12,13% em 12 meses terminados em maio, o que corroí não só a capacidade
de consumo, mas também as aplicações financeiras que renderam menos que esse
percentual.
Uma vez que os rendimentos não
acompanham a inflação, o recurso pode não ser suficiente para tornar o
orçamento mais eficiente. Em alguns casos, o lojista restringe seu olhar apenas
para o que está acontecendo dentro da empresa e não se atenta a acompanhar os
movimentos da economia e entender o que isso significa.
Chegando ao fim do primeiro
semestre do ano, a expectativa para os próximos seis meses é de que a atividade
econômica siga perdendo força. Além do fim dos estímulos à renda, os juros mais
altos devem impactar negativamente o crescimento do país, segundo Ulisses Ruiz
de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Ainda de acordo com Gamboa, a
Selic elevada piora as condições do crédito e diminui a disponibilidade de
financiamento no mercado. Isso, somado ao desemprego elevado e à queda no poder
aquisitivo das famílias, complicam a situação financeira das empresas.
Embora a movimentação desses
índices nem sempre seja previsível, acompanhar suas evoluções pode dar pistas
sobre o que fazer ou não no seu negócio no próximo semestre.
1 - O QUE
A SELIC TEM A VER COM O SEU NEGÓCIO?
O órgão responsável por mexer
na Selic é o Banco Central e essa é considerada a taxa básica de juros da
economia, que influencia várias outras. Portanto, quando ela sobe ou desce,
impacta os juros de outros itens, como empréstimos, cartão de crédito,
financiamentos e afins.
A cada 45 dias, o Comitê de
Política Monetária do Banco Central, o Copom, se reúne e decide se a taxa vai
subir, cair ou ficar igual. O motivo principal para se mexer na taxa Selic é
controlar a inflação, já que ela mexe com os juros do mercado todo.
Dessa forma, essa alteração tem
o poder de fazer o consumo aumentar ou diminuir. Na última reunião do Copom, em
15/06, a Selic foi elevada em 0,5 ponto, chegando a 13,25% ao ano.
Para o seu bolso, isso significa
que vai ficar mais caro ter acesso ao crédito - empréstimos, parcelamentos e os
juros em geral sobem quando a Selic aumenta.
Para quem tem alguma quantia
investida em aplicações de baixo risco, o investimento pode render mais – isso
porque elevar a Selic também aumenta os juros desses investimentos, puxando os
rendimentos para cima.
Gamboa explica que as mudanças
na taxa de juros acontecem porque a economia não é estável e é preciso
adequá-la ao cenário para que exista um equilíbrio, garantindo que o dinheiro
continue circulando.
Ao aumentar a Selic, o Banco
Central tem como objetivo restringir o consumo e, assim, desacelerar a
economia, impedindo que a inflação dispare. Por outro lado, ao baixar a Selic,
tem como objetivo estimular o consumo e aquecer a economia, diz o economista.
O mercado financeiro projetava
que a Selic terminaria o ano de 2022 em 13,25%, seu atual patamar. Mas o Copom
já deixou no ar a possibilidade de novos aumentos da taxa.
2 –
INFLAÇÃO EM ALTA
Alinhada com a Selic, a
inflação é a variação de preços dos produtos e serviços. É natural que ela
exista, mas para que não prejudique em excesso o poder de compra das pessoas,
há uma meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Medida pelo Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação acumula 4,78% no ano até maio. A
previsão do mercado é que o índice termine o ano perto dos 9%, bem acima da
meta estabelecida para 2022, de 3,5%, com margem de 1,5 ponto (podendo variar
de 2% a 5% em seus limites).
O empresário sente os efeitos
dessa realidade inflacionária de duas formas, de acordo com Gamboa. A primeira
delas é a alta de preços dos produtos comprados para formar os estoques. E o
problema é que em setores altamente competitivos, nem toda alta pode ser repassada
aos consumidores.
O resultado disso é um
achatamento das margens, que significa que o negócio começa a perder
rentabilidade.
Na outra ponta, o economista
lembra que há uma queda no poder de compra dos clientes, e ocorre uma redução
nas vendas, pois dentro dessa lógica, os clientes passaram a pesquisar mais os
preços e a buscar alternativas mais baratas de consumo.
3 -
CONTRATOS DE ALUGUEL
A oscilação da inflação e da
Selic nos leva a um outro índice importante, o Índice Geral de Preços – Mercado
(IGP-M), um outro índice de medição de preços que serve como parâmetro para os
contratos de aluguel.
Ao alugar um imóvel, é bem
provável que exista uma cláusula no contrato dizendo que o valor do aluguel
será reajustado pelo IGP-M. O problema é que esse índice tem subido mais do que
a inflação oficial.
O IGP-M já acumula 7,54% no
ano, até maio, e 10,72% em 12 meses. Influenciado pelo dólar e pelo preço das
commodities, esse índice é composto por outros indicadores do mercado, como o
Índice Nacional de Custo da Construção (INCC).
Gamboa destaca que a lei
permite que, no momento de celebrar o contrato, se determine um índice. "O
IGP-M é o padrão, mas se as partes concordarem, é possível definir IPCA, por
exemplo, que é a inflação oficial", diz.
"Pode não parecer, mas
essa base [o IGP-M] não é boa para ninguém. O proprietário não vai conseguir
alugar pelo forte reajuste precisará fazer, e isso cria um desgaste para
inquilinos, que precisam negociar ou buscar outro imóvel com preços
melhores".
Tiago Galdino, CFO do
Imovelweb, reforça a importância de entender a diferença entre os dois
indexadores - IPCA e IGPM - antes de tomar qualquer decisão.
O executivo explica que o IGP-M
é um indicador muito mais volátil que o IPCA, já que está conectado ao dólar,
deixando o valor do aluguel refém de qualquer impacto que possa ocorrer no
mercado.
E embora a alta do IPCA chame
atenção, é importante lembrar que qualquer movimentação na economia
internacional interfere diretamente no IGP-M, fazendo com que o índice varie
mais. Logo, quem assumiu um contrato de 12 meses de aluguel, não conseguirá
negociar durante esse período.
Há um projeto de lei
encaminhado à Câmara dos Deputados que prevê que o reajuste para imóveis
residenciais e comerciais não ultrapasse o IPCA. Sendo aprovado ou não, é
importante saber essa informação na hora de negociar seu aluguel.
4 -
DESEMPREGO E MEDIDAS EMERGENCIAIS
Pouco mais de dois anos após o
início da pandemia, a situação financeira dos brasileiros ainda é difícil. São
mais de 11 milhões de desempregados, segundo o IBGE.
As vendas no varejo, principal
indicador do gasto das famílias, subiram 0,9% em abril na comparação mensal,
segundo o IBGE. Trata-se do quarto mês consecutivo de alta, entretanto, o
crescimento entre as categorias ainda é muito desigual, alerta o economista da
ACSP.
Artigos farmacêuticos (+17%),
material de construção (+9,1%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico
(+7,3%) tiveram alta, enquanto outros ainda estão abaixo do patamar
pré-pandemia: equipamentos e material de escritório (-11,7%), móveis e
eletrodomésticos (-10,7%) e tecidos, vestuários e calçados (-8,6%).
"Isso nos indica que os
consumidores estão demonstrando cautela nos gastos. A oportunidade, muito
provavelmente, está em oferecer opções que atendam às necessidades desta nova
mentalidade de consumo”, diz Gamboa.
Para tentar estimular o
consumo, o governo federal editou algumas medidas. Assim com em 2020 e no
último ano, foi reeditado em 2022 o Auxílio Emergencial, que neste mês de junho
tem como foco os homens inscritos no programa ainda em 2020 e que se consideram
pais solteiros.
Esse também é o terceiro ano
que o governo federal decide pela antecipação do 13º salário para pessoas
beneficiárias do INSS. Tem ainda a liberação do saque ao FGTS.
Independentemente do cenário de
momento, é fundamental que os empresários busquem olhar para as trajetórias de
médio e longo prazo que se desenham. Ter a compreensão dos indicadores básicos
da economia listados acima ajuda nessa tarefa. “Conhecendo bem os índices, o
empresário consegue se planejar, até se antecipar e, principalmente, tomar as
decisões necessárias bem consciente", afirma Gamboa.
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/saiba-o-que-vai-impactar-as-financas-do-seu-negocio-ate-o-final-do-ano
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