Até a próxima quarta-feira (08) os investidores pessoas físicas poderão realizar o pedido de reserva de ações da Eletrobras, tanto diretamente quanto também indiretamente, usando parte do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS). O tema está movimentando o mercado, porém para os trabalhadores todo cuidado é pouco.
A expectativa é que a oferta movimente em torno de
R$ 30
bilhões, no total, e a precificação está prevista para a próxima quinta-feira
(9). Quem for utilizar o FGTS terá que usar pelo menos R$ 200,00 e precisará respeitar
o limite máximo de investimento equivalente a 50% do saldo disponível em cada
conta vinculada do FGTS.
Contudo, em uma avaliação mais aprofundada sobre o
tema, por mais que essa opção seja para muitos um caminho para investir de
forma diferente, ela também esconde na verdade um grande risco para os
trabalhadores, principalmente em relação ao FGTS.
Se for feita apenas uma análise fria do (economês)
dos juros dos ganhos sobre o FGTS, certamente os trabalhadores vão ceder e
decidir em aproveitar o momento e realizar o pedido de reserva de ações da
Eletrobras, porém não se pode apenas pensar dessa forma, tendo a falsa ilusão
que esta decisão vai trazer grandes benefícios. É preciso ir além, ter uma
visão do verdadeiro sentido do que é o FGTS.
Esse fundo é um seguro do trabalhador, totalmente
realizado por meio dos depósitos do empregador, protegido, impenhorável, tem
como principal finalidade proporcionar tranquilidade futura à pessoa, seja no
seu percurso profissional um na sua futura aposentador. Sem contar que o valor
também pode possibilitar a compra da casa própria.
Um ponto importante que deve ser analisado em
relação ao tema é que ao sair desse fundo conservador, que é o FGTS, e
transferir para Ações, se toma a decisão de empreender e não investir.
Trata-se de uma opção de ganho variável e de risco. A Ação poderá valorizar ou
desvalorizar e nesse último caso fazer com que o trabalhador perca dinheiro.
Por isso fica a pergunta, será mesmo que pegar o
dinheiro que tem o retorno certo para o trabalhador e transferir para um
empreendimento de risco está correto? Eu afirmo que não.
No universo da educação financeira, em relação a
guardar dinheiro, se aprende que os juros são parte da análise a ser feita.
Entretanto, tem muito mais para ser observado.
Assim, mesmo em caso de rendimento que não parece
muito convidativo e que rendeu nos últimos anos em média de 5% ao ano (caso do
FGTS) é preciso observar a sua liquidez, por exemplo, em caso de uma possível
demissão nestes próximos 12 meses.
Se isso acontecer, o dinheiro transferido para
essas ações, não poderá ser resgatado. E, o mais importante, quem garante que
as ações da Eletrobras serão comercializadas de forma justa? E o pior quando
finalizar essa operação com qual valor monetário estarão essas ações?
A opção pode ser válida para alguns, contudo
acredito que o Governo poderia ampliar as opções para os trabalhadores. Como
seria o caso de utilizar o valor do FGTS para investir no Tesouro Selic. Com
isso se garantiria uma melhor remuneração desse dinheiro ao trabalhador,
comparado com o rendimento hoje do FGTS.
Essa história é antiga, já tendo ocorrido a
oportunidade de transferir dinheiro do FGTS para ações da Petrobrás, por
exemplo, quando muito perderam dinheiro com ações, pois não sabiam mexer com
esse produto.
Assim, como profissional da educação financeira,
não posso apoiar essa decisão sem que se esclareça melhor os trabalhadores
sobre o tema. Também é preciso dar outras opções para o trabalhador e sempre
reforçar sobre a importância do FGTS para o futuro, sendo esse dinheiro
fundamental para as pessoas e seus familiares.
Reinaldo Domingos - presidente da
Associação
Brasileira de Profissionais de Educação Financeira - ABEFIN e da DSOP
Educação Financeira. Está à frente do canal Dinheiro à Vista. É PhD em
Educação Financeira. Autor de mais de 100 obras sobre
o tema, entre eles como o best-seller Terapia Financeira e Por que
enfrentamos Crises e não estamos preparados?
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